3 de março de 2012
Halloween - Projecto Mary Witch (2006)
Tirando um ou outro caso pontual, rap português nunca foi algo que me puxasse por aí além. Quando este disco saiu, em 2006, foi como uma lufada de ar fresco - diferente de tudo o que já tinha ouvido em português. Beats pesados, ambientes escuros e uma narrativa muito fácil de seguir, detalhada o suficiente para a imaginação não ter que se esforçar muito. Parte do meu amor por este disco prende-se com o facto dele ser sobre Lisboa e sobre uma realidade com que estou familiarizado (ainda que muito, muito por alto). É um disco pesado e de difícil digestão - possivelmente o melhor do género feito em Portugal.
"Mic meu, mic meu - há alguém que rime mais do que eu? Não Halloween, Shakur já morreu."
2 de março de 2012
Mobb Deep - The Infamous (1995)
Eu gosto de rap, mas tenho preferência por alguns estilos e movimentos dentro da cena. Não me apanho a ouvir qualquer rap, entenda-se. A minha cena preferida é a nova-iorquina de inícios a meio dos anos noventa. Para mim, são esses os anos dourados e de onde saíram os melhores discos, seja em termos instrumentais ou líricos. Os temas recorrentes nos rappers/grupos que mais gosto são os mesmos: vida na rua, armas, carros, tráfico de droga, crews, miúdas e por aí fora. Vendo bem, esses tópicos são mais ou menos inerentes ao estilo de rap que surgiu nessa altura.
Os Mobb Deep, para além de instrumentais brutais - escuríssimos e pesados - tem letras super descritivas sobre os tópicos mencionados acima. O que os diferencia dos outros grupos é o ambiente que dão às músicas e a forma com descrevem a sua realidade (independentemente de ser real ou não). Este é um dos meus discos de rap preferidos e foi um dos que fiz questão de ouvir em Nova Iorque quando lá estive pela primeira vez. Há cidades que se sentem através da música que de lá veio, Nova Iorque é o melhor exemplo disso que já encontrei.
Hatebreed - Satisfaction Is The Death Of Desire (1997)
Os Hatebreed foram uma das primeiras bandas que ouvi quando comecei a ouvir hardcore, graças aos samplers da Victory que traziam sempre uma carrada de bandas (nem todas fixes, diga-se). Entretanto os anos passaram e os Hatebreed tornaram-se numa máquina de fazer hardcore metálico a metro. Curiosamente, eu nunca deixei de gostar deles e confesso que sou fã de todos os discos que eles lançaram. Será um guilty pleasure? Possivelmente.
Este disco, principalmente, foi o que mais me marcou e é um que continua na minha lista de discos preferidos, mesmo passados tantos anos. Creio que tenha sido dos primeiros discos a me introduzir à "parte parada". As letras são todas brutais e sobre tópicos bem mais interessantes e abrangentes que os da maioria das bandas do género, que optam por falar lá da rua ou dos amigos.
O título do disco - que é brutal - inspirou uma das minha tatuagens. A satisfação é a morte do desejo!
Terror - Lowest Of The Low (2003)
Lembro-me perfeitamente de ter arranjado este disco na altura em que saiu e de ter ficado parvo com a pujança que ele manda. De tempos a tempos aparecem discos destes, em que todas as letras são um tiro na mouche e todas as músicas são boas. Eventualmente, esses acabam por ser os discos que vão resistindo ao teste do tempo. Este é, claramente, um desses discos. Na altura, muito por causa dos membros da banda, soou-me a Carry On com a voz de Buried Alive mas hoje em dia, ainda que dê para notar a influência, o disco vive por si mesmo como sendo apenas Terror. Clássico moderno, sem dúvida!
Minor Threat - Minor Threat (1981)
Este (ou pelo menos o CD com a discografia) costumava ser um daqueles discos obrigatórios de se conhecer quando eu comecei a ir a concertos de hardcore. Não é difícil de perceber o porquê, uma vez que os Minor Threat são, até aos dias de hoje, uma das bandas de hardcore mais influentes de sempre em termos de atitude e espírito.
Este é o meu disco preferido deles, ainda que a minha música preferida - Little Friend - esteja noutro disco. Não dá para pedir mais raiva enfiada em oito músicas ao longo de nove minutos. As letras foram (e são) o espelhar de muitos sentimentos que eu tinha dentro de mim quando os ouvi pela primeira vez. Casar, beber, fumar, ser religioso, envelhecer, etc.: a minha visão sobre cada um deles é diferente daquela da maioria das pessoas e, na altura, ainda miúdo, a auto-identificação com as letras surgiu no instante em que as li. Essa auto-identificação dura até aos dias de hoje e muitos mais irá durar. "Não é quão velho sou, mas sim quão velho me sinto." Spot on, Ian, spot on.
Discharge - Hear Nothing See Nothing Say Nothing (1982)
Adoro TUDO sobre este disco. Tudo! Os Discharge são uma das minhas punk preferidas não só pelo som, mas também pela imagem da banda e pelas letras. Escusado será dizer que são uma grande influência para mim. Eles foram-me "apresentados" pelos Sepultura num disco ao vivo onde tocavam uma cover da Protest And Survive. Não foi até anos depois, quando já ouvia hardcore, que me familiarizei com o resto da discografia deles (principalmente a fase mais punk).
As letras falam sobre o fim do mundo, quem o vai provocar (não é difícil de perceber quem) e criticam o poder entre outros tópicos semelhantes. No geral, é um disco bastante intenso e que não deixa muito tempo para respirar entre o começo e o fim. Quando tenho dúvidas em relação àquilo que sinto em relação à sociedade e à pressão que ela me coloca em cima, ouvir este disco atira-me sempre de novo para o lado certo da cerca.
Pennywise - About Time (1995)
Junto com o Smash, dos Offspring, este é provavelmente um dos meus discos preferidos de punk rock dos anos 90. O estilo de som difere muito pouco da onda californiana daquela altura - riffs melódicos e muita velocidade - com refrões em coro bem conseguidos e letras boas, que têm tanto de simples como de inspiradoras. Eu não sei andar de skate, mas se soubesse, certamente que o faria ao som deste disco. Verdade seja dita, para além de Verão, ele não pede outra coisa.
Infelizmente não me consigo lembrar de quando o ouvi pela primeira vez, o que é uma pena, porque hoje em dia costumo ouvi-lo com alguma regularidade e gostava de ter essa memória. Enfim...!
27 de fevereiro de 2012
Kaiser Chiefs - The Future Is Medieval Tour 2012
Os Kaiser Chiefs são uma daquelas bandas a quem eu só comecei a prestar atenção depois de me mudar para Londres. Creio que a razão principal para isto se deva ao facto de ouvir rádio inglesa no escritório e ficar mais atento ao que se passa por cá. O amor por eles foi crescendo lentamente ao longo dos últimos três a quatro anos e, tendo descoberto que eles iam tocar aqui a dez minutos de casa, não perdi tempo em comprar um bilhete. Já vacinado o suficiente no que toca a plateias, optei por ir para a bancada e tive a sorte de conseguir um lugar bastante bom. Há quem tenha uma opinião contrária em relação à sala, mas eu gosto imenso do Hammersmith Apollo. Por alguma razão é a única sala onde os Motörhead tocam em Londres!
O United jogava no mesmo dia e à mesma hora e sabe Deus como eu ADORO quando isso acontece. O meu dilema era se ainda daria para ver a primeira parte na televisão ou não - perdendo as bandas de abertura - ou se devia ir para lá logo a seguir a sair do escritório. A questão era mais se me iam roubar o lugar (que ficava mesmo na primeira fila da bancada) ou não! Optei então pela segunda e cheguei lá pouco depois das sete horas. Entrei calmamente, passei os olhos na banca de merch e não resisti a comprar um poster da tour, autografado. Pude pagar com cartão, o que achei brutal! Não tão brutal como o poster vai ficar - emoldurado - na parede da sala, mas brutal nonetheless.
As duas primeiras bandas foram muito chatas. Primeiro tocaram os Fixers e depois os Frankie and the Heart Strings. Se há estilo de banda que não faz mesmo o meu estilo, é esse. Enquanto esperava pelo que me tinha levado ali, sentei-me confortavelmente a ler o livro que estava a ler (no iPhone, entenda-se). Ainda deu para adiantar umas valentes páginas.
O concerto de Kaiser Chiefs foi memorável. Eu não sabia que este era o último concerto da tour mas isso só serviu para adicionar ao ambiente de festa. Tocaram todas as melhores músicas e algumas do disco novo, sem exagerar na quantidade. O espectáculo de palco foi brutal e, ainda que estivesse tudo muito simples, estava extremamente bem feito. Perto do fim o vocalista veio até cá cima, de onde cantou parte de uma música a meros metros de mim. Foi um bom momento, claro, e um concerto que não irei esquecer. Espero que voltem brevemente e que o United não volte a perder como perdeu nesse dia.
26 de fevereiro de 2012
Last Witness + Devil Wears Prada @ The Underworld (Londres)
Sexta-feira à noite e nada para fazer, faz-se o quê? Vai-se a um concerto daquilo a que eu chamo de metalso! Não é bem metal, não é bem hardcore... queria ser metal mas não é... vocês entendem. Já tinha dito ao João que arranjava guest na boa para este concerto e dei também a dica ao Ema que eu sei que ele curte estes andamentos. Eu, confesso, só fui mais para ver as vistas.
Chegámos lá cedo, a tempo de ver a primeira banda embora tivessemos optado por não o fazer. A fome falava mais alto e fomos em busca de um sítio para comer. Depois de andar para a frente e para trás na High Street optámos pelo McDonalds. A refeição estava boa mas nada do outro mundo. McDonalds, right? lol!
Chegámos à sala quando Last Witness estava a começar. Fomos para o lado direito e ficámos a ver o concerto dali. Foi meio bizarro ter uma molhada de miúdos com penteados horríveis e maquilhagem à frente do palco sem se mexer e um mini-mosh pit do nosso lado. Além de ser mini era também ridículo. Muita falta de jeito e de estilo à mistura. Maldito dia em que o mosh como dança foi parar à MTV. Até curti do concerto deles, embora esta não seja a minha onda. Um dos guitarristas tinha uma t-shirt de Slipknot. Não percebi se era por piada, mas eu não me ri. Se calhar dá "granda maluco" points.
Devil Wears Prada, tendo em conta que eu não posso com o estilo que eles tocam, foi mau. Muito mau. Houve lá partes fixes para o headbang e o pessoal estava todo louco (a sala estava sold out) mas eu aborreci-me rápido. A cereja no topo do bolo foi mesmo quando ele disse, duas músicas antes do fim, que eles eram todos crentes e religiosos e que Jesus Cristo é o Senhor. A sério? Não, a sério mesmo? Gostava de saber o que é que o Vaticano acha de uma banda que prega Jesus incitando à violência ao mesmo tempo. Eu sei o que é que acho: que valente bando de atrasados mentais. Deus não existe, agora voltem para a igreja e deixem as guitarras de lado.
19 de fevereiro de 2012
De Manchester a Madrid
No ano passado, uma vez que os meus pais viriam a Londres passar o Natal comigo e com o meu irmão, decidi tirar férias (entenda-se ir a Lisboa) antes do Natal. Calhou o Benfica ir jogar a Manchester no fim de Novembro em jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões e, tendo eu perdido a hipótese de ir ver o mesmo jogo em Lisboa uns meses antes, achei que esta seria uma boa oportunidade para montar uma pequena aventura que me desse para matar saudades do bichinho viajante.
Lancei-me na habitual pesquisa de voos, para ver se compensava viajar nesta altura, e tive a sorte de ter a sorte do meu lado. O plano formou-se rapidamente: iria de comboio até Manchester, onde passaria a noite num hostel e de onde voaria de para Madrid na tarde seguinte. Depois de uma noite em Madrid, voaria para Lisboa. O total da viagem, excluindo o voo de regresso, não chegava a £50 por isso nem pensei duas vezes. O voo de regresso acabou por não ficar muito mais que isso, tornando a viagem num autêntico achado.
A minha ideia original era passar algum (curto) tempo em Madrid en route para Lisboa, uma vez que tinha lá uma amiga a viver e não teria que pagar alojamento, mas as horas dos voos não iam permitir que tal acontecesse. Chegava a Madrid tarde e o voo para Lisboa saía cedo na manhã seguinte. Fiquei mais ou menos aborrecido, mas nem por isso chateado. Na semana antes de partir, foi anunciada uma greve geral em Portugal, exactamente para o dia em que era suposto eu voar para Lisboa. Não foi até dois dias antes da viagem para Manchester (e algumas chamadas telefónicas depois) que consegui mudar para o dia seguinte o voo que me ia levar até Lisboa. Custou, mas foi. Assim sendo ia ter um dia inteiro em Madrid, algo que me fez jubilar, uma vez que já há algum tempo que estava para o fazer. Estava particularmente excitado por poder visitar alguns museus e dar um passeio pela Gran Vía. Claro que isto ia fazer com que passasse menos um dia em Portugal mas pronto, fazer o quê?
MANCHESTER
Saí de Londres na terça-feira do jogo. Ir a Manchester ver o United já não é nada de novo para mim e, sabendo os cantos à casa, já não preciso de ir mais cedo para o caso de me perder. Apanhei o comboio em King's Cross por volta do meio-dia para uma viagem que ia durar cerca de duas hora e tal. Vi algum pessoal que ia para o jogo mas, sendo as cores de ambos os clubes o vermelho e branco, ficava difícil de perceber qual era o clube que apoiavam.
A viagem foi calma. Certamente mais calma que a de autocarro, que demora o dobro do tempo. O problema dos comboios nesta terra é que são caríssimos e, se não for com promoções como a que eu apanhei, mais vale ir de autocarro. Claro que a viagem de autocarro é um valente aborrecimento, demorando quase mais do dobro da de comboio, mas pronto. Quem corre por gosto, não cansa.
O meu destino era a estação de Piccadilly, em Manchester, com uma paragem curta pelo caminho, em Milton Keynes. Chegámos a horas. O meu plano era ir até ao hostel fazer o check-in, deixar a mochila (que estava bem cheia e pesada) no quarto e seguir calmamente para o estádio.
Eu tinha ideia de como chegar ao hostel mas, mais uma vez, pus-me por caminhos que não conhecia e fui parar quase à ponta oposta da cidade. Enfim, ao menos tinha tempo e, como de costume, não me aborreceu nada o passeio. Vi muitos adeptos do Benfica por toda a cidade, principalmente ao pé dos hotéis onde estavam a ficar. Depois de uma longa caminhada lá descobri para onde tinha que ir (um caminho que da estação me deveria ter demorado cerca de vinte minutos mas acabou por demorar perto de hora e meia). O hostel era num edifício grande que, noutros tempos, deve ter sido um escritório ou a sede de uma empresa. Tinha ar de tudo menos de hostel. Eu costumo ficar no Hatters, que é ligeiramente mais central mas desta vez, uma vez que a diferença no preço o justificava, decidi experimentar este. A introdução não foi excelente, com a recepcionista a olhar para o ecrã durante uns bons cinco minutos em que eu estava do outro lado do balcão à espera de ser atendido. Fico piurso quando isso acontece. Muito mesmo. Depois de entregar o papel da reserva, pagar e ela dar-me as chaves do cacifo, foi-me levar ao quarto - que ficava ao fundo do corredor - enquanto explicava os procedimentos básicos do hostel. O quarto em si não era mau de todo, tinha três beliches e seis cacifos. Quando entrei não estava lá ninguém mas dava para ver que as camas estavam ocupadas. Tirei a mochila, aproveitei para desprender os músculos e, depois de pôr o portátil no cacifo, peguei no cachecol vermelho e branco e segui para o estádio.
Fui calmamente até ao centro onde dei uma curta, mas agradável, volta. Parei na paragem do tram que vai para Old Trafford e comprei um bilhete de ida e volta. Esperei uns bons dez minutos ao frio até que lá apareceu um, que ia completamente cheio. Uns dez minutos depois lá apareceu outro e, ainda que fosse ter que ir bem espalmado lá dentro, preferi isso a ter que esperar ao frio mais quanto tempo fosse. Eu gosto de chegar ao estádio de tram, porque isso obriga a fazer a pé a rua que vai até ao estádio e dá para sentir a emoção a crescer quanto mais perto se vai estando. O comboio, por sua vez, pára mesmo no estádio. O problema do comboio é o retorno, uma vez que as filas crescem muito rapidamente e, more often than not, há uma série de pessoas que acaba por não poder ir de comboio. Já me aconteceu mais que uma vez. No caso do tram, uma vez acabado o jogo e tirando proveito do meu passo rápido, consigo percorrer o quilómetro-e-qualquer-coisa num instante e ainda chegar a tempo de apanhar o primeiro ou o segundo tram.
Cheguei ao estádio relativamente cedo e, como tal, decidi ir à loja do United só para ver, uma vez que eles tinham feito obras recentemente e eu ainda não a tinha visto remodelada. Como é habitual em dia de jogo, a loja estava um caos. Dei uma volta rápida e saí de lá em direcção à minha porta, ainda parando para ajudar uma ou duas pessoas que queriam ter uma foto tirada em frente à fachada do estádio. Fui das primeiras pessoas a entrar para o meu sector; as bancadas, normalmente, só começam a encher cerca de vinte minutos antes do apito inicial. O meu lugar era bom e com boa visibilidade. A bancada dos visitantes fica mesmo em frente ao lugar que eu tinha e quando entrei já estava muito composta. Não só isso, mas os adeptos do Benfica já cantavam como se não houvesse amanhã.
O United vinha de uma série de exibições muito pouco impressionantes, principalmente na Liga dos Campeões. Ganhar este jogo significaria semi garantir presença nos oitavos-de-final e, como tal, pedia-se uma boa exibição à equipa. Eu sempre fui adepto do Benfica, tendo começado a simpatizar com o Manchester United no fim dos anos 90 por causa do jogo Championship Manager e, principalmente, pela campanha feita na Liga dos Campeões de 1998/1999 onde uma vitória conseguida - literalmente - nos últimos minutos, me conquistaria para sempre. Aos meus olhos, era daquilo que uma grande equipa era feita. Apesar de continuar a seguir o Benfica, jogo após jogo, nos anos que seguiram, houve uma altura em que a falta de habilidade para sequer conseguirem fazer dois passes seguidos me deixou pouco interessando em seguir o campeonato português com tanta paixão como haveria feito em anos anteriores. Uma das coisas que eu gosto no futebol, é de ver bom futebol. Futebol bem jogado. A minha cena é o futebol, muito acima do clubismo.
Quando vim viver para Inglaterra não demorei em perceber qual é que era o clube que ia apoiar, por cliché que soe, quando se sente, sente-se. Não há "um dia sou deste" e "outro dia sou daquele". Ou se gosta muito, ou não. No ano em que cheguei o Ronaldo ainda jogava pelo clube e ganhámos a Liga dos Campeões ao Chelsea. O pub em que vi a final explodiu de alegria (menos os adeptos do Chelsea, claro) quando o John Terry falhou o golo e essa há-de ser uma memória que nunca irei esquecer. Hoje em dia, não tendo tempo para seguir dois campeonatos e, tendo em consideração que o campeonato português é largamente inferior ao inglês, opto por apenas ver os jogos do Benfica em campeonatos Europeus, seguindo por alto a Liga Portuguesa.
Este jogo ia ser um jogo interessante porque, sendo eu adepto do Benfica desde pequenino, estava com algumas dúvidas sobre para que lado me ia inclinar e o que iria sentir. A resposta não demorou a surgir, bastou o jogo começar para perceber que, apesar de não querer que o United sofresse golos (para, obviamente, progredir na Europa), de cada vez que o Benfica atacava eu sentia-me como se estivesse na bancada do Benfica a torcer pela equipa. Festejei os dois golos do United da mesma forma que sorri quando o Benfica marcou os dele. O jogo acabou 2-2, depois de mais uma exibição relativamente fraca do United que, infelizmente, se revelou crucial para a nossa não passagem à próxima fase da Liga dos Campeões. Estava muito frio e os adeptos do Benfica calaram, autênticamente, o estádio inteiro. Note-se que os adeptos do United, em casa, têm o mau hábito de não apoiar a equipa quando os resultados são fracos. Já o vi acontecer uma série de vezes, da mesma forma que já vi acontecer o contrário como daquela vez contra o Bayern München. Enfim, fazer o quê? Ainda que estivesse meio triste com o resultado, estava contente com as possibilidades do Benfica passar à próxima fase.
Saí do estádio depois do apito final e dirigi-me à estação dos trams, passando à frente de muita gente pelo caminho. Consegui apanhar o primeiro tram que passou. Uma vez que grande parte das pessoas ainda vinha a caminho, o tram ainda não ia muito cheio. A viagem foi calma e a disposição geral não era má de todo. A exibição não tinha sido a melhor e o resultado era fraco para as nossas ambições mas não se poderia dizer que tinha sido altamente imprevisível. Quando cheguei ao centro da cidade, uns vinte minutos depois, decidi ir procurar qualquer sítio onde pudesse comer, uma vez que não o fazia desde a sandes que comi no comboio. Procurei e procurei e, uma vez que não encontrava nada melhor, decidi para num daqueles restaurantes de fast food turcos e pedir uma pizza. Certamente que não era a opção mais saudável (tinha mais óleo que pizza) mas àquela hora o meu estômago estava preocupado com tudo menos com óleo. O frio continuava a fazer-se sentir e intensificava-se de hora para hora. Fui rapidamente para o hostel, tentando não me perder desta vez.
Cheguei lá relativamente cedo e, como não tinha sono nem me queria deitar àquela hora, decidi agarrar no livro que estava a ler e ir para a sala comum, onde um grupo de benfiquistas discutia futebol. Digo grupo de benfiquistas porque apesar de estarem em grupo, nem todos eram amigos. A discussão aqueceu depois de algumas opiniões divergentes terem sido atiradas para cima da mesa. Eu liguei o meu iPod e pus-me a ler, tentando ignorar o que se estava a passar à minha volta. Por volta da meia-noite vieram dizer que toda a gente tinha que sair da sala, porque fechava àquela hora. Achei estranho, mas não tive remédio senão sair também. Toda esta situação era-me mais ou menos inconveniente, já que eu tinha que carregar o iPhone, que estava a dar as últimas. Procurei uma tomada cá fora e acabei por encontrar uma ao pé dos computadores para os hóspedes. Liguei lá o telemóvel e encostei-me à parede a ler. Entretanto desceram mais portugueses, que vinham com comida do McDonald's pronta para ser comida. Ficaram lá algum tempo sentados a comer e a fazer barulho e depois lá se foram embora. Depois de carregar o telemóvel mais um bocadinho fui ao quarto buscar a escova de dentes, fui até à casa de banho e fui-me deitar. Nos últimos cinquenta centímetros da parede, junto ao tecto, o quarto tinha janelas de vidro que davam para o corredor . Eu tinha reparado nisso à tarde, mas não fiz caso. Com o que eu não contava era que eles fossem deixar as luzes do corredor acesas toda a noite. Lá arranjei maneira de não apanhar com a luz na cara e tentei adormecer com alguma coisa a tocar no iPod. Custou, mas foi.
Outra coisa com que eu não tinha contado, era acordar por volta das cinco da manhã com os selvagens do quarto ao lado a gritar cânticos do Benfica e a bater nas camas de modo a fazer ainda mais barulho. Depois disso foi muito complicado voltar a dormir sem ser por curtos períodos de tempo. Deviam ser cerca de nove e tal da manhã quando pulei da cama para ir tomar o pequeno-almoço. Travei rápido conhecimento com o tipo que dormiu na cama por cima da minha e fomos juntos tomar o pequeno-almoço. Ele era um tipo da minha idade, de Viana do Castelo mas que vivia em Paris há alguns anos com a mulher. Já tinha vidido no Canadá mas foi deportado por um motivo que não me lembro. Estivemos a falar um pouco do jogo mas o tópico corrente foi mais o viver fora de Portugal. A hora do pequeno-almoço estava quase no fim e, como tal, já não havia quase nada. Ainda conseguimos uns cereais com leite mas já foi a muito custo. Melhor que nada, certamente. Depois disso fui à casa de banho lavar os dentes, buscar a mala ao quarto e fazer o check-out. Ele ainda me acompanhou até meio do caminho, onde se ia encontrar com alguém que tinha conhecido no jogo. Despedimo-nos com o aperto de mão da praxe e eu segui em frente. O meu destino? O museu do Manchester United!
Desde que comecei a ir a jogos em Old Trafford que não tive hipótese de ir ao museu do clube, muito porque normalmente vou para ver o jogo e venho-me embora ou a seguir ao jogo ou cedo no dia seguinte. Desta vez, uma vez que o meu voo para Madrid era só à tarde, decidi marcar uma visita para a hora de almoço. Assim ainda teria tempo de vir a Manchester passear um pouco antes de ir para o aeroporto. Apanhei o tram no mesmo sítio do dia anterior e pus-me no estádio muito rapidamente. Dirigi-me até à entrada do museu e esperei pela hora da minha visita guiada ao estádio.
A visita foi interessante, ao longo de uma hora e pouco. Andámos pelas bancadas, vimos o balneário, a sala onde os jogadores relaxam antes dos jogos, o túnel de acesso ao relvado e mais um sem-número de coisas interessantes. O nosso guia era simpático e volta e meia lá fazia um comentário engraçado, que invariavelmente rasgava sorrisos aos participantes do grupo. Parte da missão estava cumprida, faltava agora o museu!
Quando saí do museu já passava um pouco da hora de almoço e eu não me quis ir embora sem visitar o Red Café e aproveitar o desconto de sócio. Sentei-me para almoçar (soube-me lindamente poder tirar a mochila!) e pedi o habitual hambúrguer vegetariano, que veio acompanhado de batatas fritas e coleslaw. Decidi mimar-me um pouco e complementei a refeição com um delicioso cheesecake de morango. A refeição estava boa, pelo menos soube-me bem. O espaço é agradável mas, honestamente, creio que comer lá seja uma daquelas situações one off que, muito provavelmente, não irá voltar a acontecer.
Voltei para o centro da cidade já deveriam ser cerca de três horas e tal. Antes das quatro já estava num a caminho do aeroporto, descansado da vida e pronto para, quando lá chegasse, pôr o telemóvel a carregar, uma vez que estava quase sem bateria. O comboio para o aeroporto demora cerca de vinte minutos, talvez menos, mas como, pensava eu, tinha tempo para queimar, decidi ir de autocarro. Sentei-me então no segundo andar de um doubledecker e, passados cerca de vinte minutos, decidi pegar na confirmação do voo só para conferir ao certo a que horas fechava a porta de embarque. Eu tinha ideia que não seria até às sete horas da noite, mas rapidamente me assustei quando percebi que afinal era às cinco horas (dezassete, portanto). Não entrei em pânico, porque já sei que isso não leva a lado nenhum. Tinha então cerca de meia-hora para chegar ao aeroporto. Calmamente levantei-me e desci as escadas para perguntar ao condutor quanto tempo levaria dali até ao aeroporto, ele respondeu que deveria demorar cerca de quarenta minutos. Agradeci a informação, ciente de que estava enfiado num problema, e pressionei o botão para indicar que desejava sair na próxima paragem. Assim o fiz. Mal saí, depois de raciocinar a mil à hora, lá me inteirei que a única hipótese viável seria mesmo apanhar um táxi e, mesmo assim, desejar que não houvesse trânsito e que o aeroporto não fosse muito longe. Perguntei numa loja se sabiam de algum serviço de mini-cabs na área, ao que me responderam que não, num inglês muito esfarrapado. Andei um pouco ao longo da rua até que encontrei uma paragem de táxis. Para tornar tudo melhor a minha bateria acabou precisamente nesse momento, por isso, mesmo que precisasse de fazer uma chamada, não ia conseguir. Esperei cerca de dez a quinze minutos até que finalmente passou um táxi do outro lado da rua que parou ao meu aceno. O trânsito na direcção que eu precisava de seguir era visível. Expliquei rapidamente ao senhor, arábico, o que é que me tinha acontecido e pedi-lhe para tentar chegar ao aeroporto o mais depressa possível. Ele deve ter simpatizado comigo porque deitou o pé no acelerador e lá fomos nós por atalhos e caminhos estranhos mais rápido do que a lei (certamente) permite. Conseguimos chegar ao aeroporto cerca de cinco minutos antes da hora mas eu não tinha dinheiro para lhe pagar e ele não aceitava pagamento por cartão. Deixei lá a mochila e fui a correr à procura de uma caixa, que só encontrei no piso -1. Levantei £20. Voltei para o táxi, deixei a nota com ele e nem me preocupei com o troco. Corri até à segurança onde, felizmente, não havia fila e onde, infelizmente, apanhei um velho chato que insistiu em me revistar a mochila. Mochila esta que estava completamente cheia até cima com roupa para os sete dias em que ia estar fora. Aproximava-se a hora do fecho da porta de embarque e eu estava ali a explicar-lhe que tinha um voo para apanhar, escusado será dizer que ele não se preocupou muito (nada?) com isso. Depois de ele me deixar ir, dei uma pequena corrida até à porta de embarque onde quase pulei de alegria quando vi que o embarque - ao bom estilo da Ryanair - ainda nem sequer tinha começado. Pus-me na fila, organizei a mala e não demorou até que percebesse que o avião ia estar cheio de adeptos do Benfica.
O avião ia tão cheio de adeptos do Benfica que a hospedeira de bordo - portuguesa - só fez o primeiro announcement em inglês, todos os restantes foram em português. Entretanto adormeci, tendo acordado mais tarde com cânticos do Benfica e alguma tensão no ar. Percebi que alguém que estava sentado mais atrás tinha dado uma bolachada ao hospedeiro de bordo, que claramente não tinha noção que a melhor forma de lidar com um grupo de pessoas não é usando a autoridade mas sim o bom senso. Ainda tentou, mais uma vez, mandar calar os adeptos que cantavam, mas a única coisa que conseguiu foi cantassem mais alto. Eu ria-me. A surpresa veio quando aterrámos e, antes de nos deixarem levantar, a polícia espanhola veio a bordo recolher a queixa que o hospedeiro tinha feito. Ficámos cerca de meia hora parados antes de poder fazer alguma coisa até que nos deixaram sair. Mandaram sair a primeira metade do avião, deixando a outra (onde estava o tipo que tinha dado a bolachada ao hospedeiro) lá dentro. Não fiquei para saber o que lhe aconteceu.
Estava com isto meio atrasado para ir ter com a amiga com quem ia ficar nessas duas noites. Pior, não tinha bateria no telemóvel para a poder avisar. Antes de sair do aeroporto, procurei por uma tomada e encontrei-a junto à casa de banho. Certamente haveria sítios melhores mas o tempo não abundava e eu só queria sair dali. Liguei o telemóvel à corrente durante uns quinze minutos, troquei um par de mensagens com ela e pus-me a andar dali para fora. Apanhei o metro e pus-me onde tinha que estar em cerca de vinte minutos. Demorei algum tempo até encontrar o nosso rendez-vous mas lá nos acabámos por encontrar sem problemas.
A casa dela ficava, literalmente, ao fundo da rua por isso não custou muito lá chegar. Depois de trocarmos dois dedos de conversa, tomei um duche e morri de cansaço até que a manhã me acordasse.
MADRID
Acordei relativamente cedo, já completamente descansado do compridíssimo dia anterior. Confesso que, por dentro, até nem estava muito chateado com a greve em Portugal. Assim, sempre poderia matar saudades de Madrid - cidade que adoro desde a primeira vez que lá fui, há muito, muito tempo! Os meus planos eram simples: ir ao Prado, ao Thyssen e, se desse tempo, ao Reina Sofía. Infelizmente só pude cumprir os dois primeiros, ficando o último para uma visita futura. Também tive tempo para um pequeno passeio na Gran Vía, já ao fim do dia, que me soube bem.
Gostei de revisitar os museus, principalmente o Thyssen, onde pude alimentar o meu recente apetite por arte impressionista e expressionista e apreciar alguma pop art. Fiquei fascinado com o trabalho de Richard Estes, que desconhecia por completo. Também gostei de rever no Prado as pinturas negras do Goya, algo que queria fazer há muito tempo. Os dois museus levaram-me o dia inteiro, principalmente o Prado que já é, de si, gigante. Perdi algum tempo nas lojas dos museus e depois de me despachar, fui até à Gran Vía, onde parei no McDonald's para comer qualquer coisa ligeira e ver qual era o plano para o serão. Aproveitei a internet de borla para passar os olhos no Facebook e, depois de trocar algumas mensagens de texto com a minha amiga, ficou combinado irmos jantar a algum sítio ali perto.
Apesar de gostar da Gran Vía, fiquei sem perceber se a prostituição por ali é legal ou não. A quantidade de prostitutas que por ali param a chamar pessoas (homens) com o maior à-vontade do mundo deixou-me ligeiramente chocado. Tentei imaginar o mesmo na Oxford Street e... não, não funcionou. É estranho. Demos algumas voltas até encontrarmos um restaurante típico onde entrámos para jantar. A comida não era má e a decoração era engraçada por isso acabou por se fazer bem a refeição.
No dia seguinte segui cedo para o aeroporto onde, para variar, cheguei mais que a horas! Não demorou até que estivesse dentro do avião a caminho de Lisboa para mais uns quatro dias relaxadamente bem passados, como se quer depois de uma aventura destas e com perfeita noção de que tenho que voltar a Madrid com mais tempo. Me gusta mucho!
Lancei-me na habitual pesquisa de voos, para ver se compensava viajar nesta altura, e tive a sorte de ter a sorte do meu lado. O plano formou-se rapidamente: iria de comboio até Manchester, onde passaria a noite num hostel e de onde voaria de para Madrid na tarde seguinte. Depois de uma noite em Madrid, voaria para Lisboa. O total da viagem, excluindo o voo de regresso, não chegava a £50 por isso nem pensei duas vezes. O voo de regresso acabou por não ficar muito mais que isso, tornando a viagem num autêntico achado.
A minha ideia original era passar algum (curto) tempo em Madrid en route para Lisboa, uma vez que tinha lá uma amiga a viver e não teria que pagar alojamento, mas as horas dos voos não iam permitir que tal acontecesse. Chegava a Madrid tarde e o voo para Lisboa saía cedo na manhã seguinte. Fiquei mais ou menos aborrecido, mas nem por isso chateado. Na semana antes de partir, foi anunciada uma greve geral em Portugal, exactamente para o dia em que era suposto eu voar para Lisboa. Não foi até dois dias antes da viagem para Manchester (e algumas chamadas telefónicas depois) que consegui mudar para o dia seguinte o voo que me ia levar até Lisboa. Custou, mas foi. Assim sendo ia ter um dia inteiro em Madrid, algo que me fez jubilar, uma vez que já há algum tempo que estava para o fazer. Estava particularmente excitado por poder visitar alguns museus e dar um passeio pela Gran Vía. Claro que isto ia fazer com que passasse menos um dia em Portugal mas pronto, fazer o quê?
MANCHESTER
Saí de Londres na terça-feira do jogo. Ir a Manchester ver o United já não é nada de novo para mim e, sabendo os cantos à casa, já não preciso de ir mais cedo para o caso de me perder. Apanhei o comboio em King's Cross por volta do meio-dia para uma viagem que ia durar cerca de duas hora e tal. Vi algum pessoal que ia para o jogo mas, sendo as cores de ambos os clubes o vermelho e branco, ficava difícil de perceber qual era o clube que apoiavam.
A viagem foi calma. Certamente mais calma que a de autocarro, que demora o dobro do tempo. O problema dos comboios nesta terra é que são caríssimos e, se não for com promoções como a que eu apanhei, mais vale ir de autocarro. Claro que a viagem de autocarro é um valente aborrecimento, demorando quase mais do dobro da de comboio, mas pronto. Quem corre por gosto, não cansa.
O meu destino era a estação de Piccadilly, em Manchester, com uma paragem curta pelo caminho, em Milton Keynes. Chegámos a horas. O meu plano era ir até ao hostel fazer o check-in, deixar a mochila (que estava bem cheia e pesada) no quarto e seguir calmamente para o estádio.
Eu tinha ideia de como chegar ao hostel mas, mais uma vez, pus-me por caminhos que não conhecia e fui parar quase à ponta oposta da cidade. Enfim, ao menos tinha tempo e, como de costume, não me aborreceu nada o passeio. Vi muitos adeptos do Benfica por toda a cidade, principalmente ao pé dos hotéis onde estavam a ficar. Depois de uma longa caminhada lá descobri para onde tinha que ir (um caminho que da estação me deveria ter demorado cerca de vinte minutos mas acabou por demorar perto de hora e meia). O hostel era num edifício grande que, noutros tempos, deve ter sido um escritório ou a sede de uma empresa. Tinha ar de tudo menos de hostel. Eu costumo ficar no Hatters, que é ligeiramente mais central mas desta vez, uma vez que a diferença no preço o justificava, decidi experimentar este. A introdução não foi excelente, com a recepcionista a olhar para o ecrã durante uns bons cinco minutos em que eu estava do outro lado do balcão à espera de ser atendido. Fico piurso quando isso acontece. Muito mesmo. Depois de entregar o papel da reserva, pagar e ela dar-me as chaves do cacifo, foi-me levar ao quarto - que ficava ao fundo do corredor - enquanto explicava os procedimentos básicos do hostel. O quarto em si não era mau de todo, tinha três beliches e seis cacifos. Quando entrei não estava lá ninguém mas dava para ver que as camas estavam ocupadas. Tirei a mochila, aproveitei para desprender os músculos e, depois de pôr o portátil no cacifo, peguei no cachecol vermelho e branco e segui para o estádio.
Fui calmamente até ao centro onde dei uma curta, mas agradável, volta. Parei na paragem do tram que vai para Old Trafford e comprei um bilhete de ida e volta. Esperei uns bons dez minutos ao frio até que lá apareceu um, que ia completamente cheio. Uns dez minutos depois lá apareceu outro e, ainda que fosse ter que ir bem espalmado lá dentro, preferi isso a ter que esperar ao frio mais quanto tempo fosse. Eu gosto de chegar ao estádio de tram, porque isso obriga a fazer a pé a rua que vai até ao estádio e dá para sentir a emoção a crescer quanto mais perto se vai estando. O comboio, por sua vez, pára mesmo no estádio. O problema do comboio é o retorno, uma vez que as filas crescem muito rapidamente e, more often than not, há uma série de pessoas que acaba por não poder ir de comboio. Já me aconteceu mais que uma vez. No caso do tram, uma vez acabado o jogo e tirando proveito do meu passo rápido, consigo percorrer o quilómetro-e-qualquer-coisa num instante e ainda chegar a tempo de apanhar o primeiro ou o segundo tram.
Cheguei ao estádio relativamente cedo e, como tal, decidi ir à loja do United só para ver, uma vez que eles tinham feito obras recentemente e eu ainda não a tinha visto remodelada. Como é habitual em dia de jogo, a loja estava um caos. Dei uma volta rápida e saí de lá em direcção à minha porta, ainda parando para ajudar uma ou duas pessoas que queriam ter uma foto tirada em frente à fachada do estádio. Fui das primeiras pessoas a entrar para o meu sector; as bancadas, normalmente, só começam a encher cerca de vinte minutos antes do apito inicial. O meu lugar era bom e com boa visibilidade. A bancada dos visitantes fica mesmo em frente ao lugar que eu tinha e quando entrei já estava muito composta. Não só isso, mas os adeptos do Benfica já cantavam como se não houvesse amanhã.
O United vinha de uma série de exibições muito pouco impressionantes, principalmente na Liga dos Campeões. Ganhar este jogo significaria semi garantir presença nos oitavos-de-final e, como tal, pedia-se uma boa exibição à equipa. Eu sempre fui adepto do Benfica, tendo começado a simpatizar com o Manchester United no fim dos anos 90 por causa do jogo Championship Manager e, principalmente, pela campanha feita na Liga dos Campeões de 1998/1999 onde uma vitória conseguida - literalmente - nos últimos minutos, me conquistaria para sempre. Aos meus olhos, era daquilo que uma grande equipa era feita. Apesar de continuar a seguir o Benfica, jogo após jogo, nos anos que seguiram, houve uma altura em que a falta de habilidade para sequer conseguirem fazer dois passes seguidos me deixou pouco interessando em seguir o campeonato português com tanta paixão como haveria feito em anos anteriores. Uma das coisas que eu gosto no futebol, é de ver bom futebol. Futebol bem jogado. A minha cena é o futebol, muito acima do clubismo.
Quando vim viver para Inglaterra não demorei em perceber qual é que era o clube que ia apoiar, por cliché que soe, quando se sente, sente-se. Não há "um dia sou deste" e "outro dia sou daquele". Ou se gosta muito, ou não. No ano em que cheguei o Ronaldo ainda jogava pelo clube e ganhámos a Liga dos Campeões ao Chelsea. O pub em que vi a final explodiu de alegria (menos os adeptos do Chelsea, claro) quando o John Terry falhou o golo e essa há-de ser uma memória que nunca irei esquecer. Hoje em dia, não tendo tempo para seguir dois campeonatos e, tendo em consideração que o campeonato português é largamente inferior ao inglês, opto por apenas ver os jogos do Benfica em campeonatos Europeus, seguindo por alto a Liga Portuguesa.
Este jogo ia ser um jogo interessante porque, sendo eu adepto do Benfica desde pequenino, estava com algumas dúvidas sobre para que lado me ia inclinar e o que iria sentir. A resposta não demorou a surgir, bastou o jogo começar para perceber que, apesar de não querer que o United sofresse golos (para, obviamente, progredir na Europa), de cada vez que o Benfica atacava eu sentia-me como se estivesse na bancada do Benfica a torcer pela equipa. Festejei os dois golos do United da mesma forma que sorri quando o Benfica marcou os dele. O jogo acabou 2-2, depois de mais uma exibição relativamente fraca do United que, infelizmente, se revelou crucial para a nossa não passagem à próxima fase da Liga dos Campeões. Estava muito frio e os adeptos do Benfica calaram, autênticamente, o estádio inteiro. Note-se que os adeptos do United, em casa, têm o mau hábito de não apoiar a equipa quando os resultados são fracos. Já o vi acontecer uma série de vezes, da mesma forma que já vi acontecer o contrário como daquela vez contra o Bayern München. Enfim, fazer o quê? Ainda que estivesse meio triste com o resultado, estava contente com as possibilidades do Benfica passar à próxima fase.
Saí do estádio depois do apito final e dirigi-me à estação dos trams, passando à frente de muita gente pelo caminho. Consegui apanhar o primeiro tram que passou. Uma vez que grande parte das pessoas ainda vinha a caminho, o tram ainda não ia muito cheio. A viagem foi calma e a disposição geral não era má de todo. A exibição não tinha sido a melhor e o resultado era fraco para as nossas ambições mas não se poderia dizer que tinha sido altamente imprevisível. Quando cheguei ao centro da cidade, uns vinte minutos depois, decidi ir procurar qualquer sítio onde pudesse comer, uma vez que não o fazia desde a sandes que comi no comboio. Procurei e procurei e, uma vez que não encontrava nada melhor, decidi para num daqueles restaurantes de fast food turcos e pedir uma pizza. Certamente que não era a opção mais saudável (tinha mais óleo que pizza) mas àquela hora o meu estômago estava preocupado com tudo menos com óleo. O frio continuava a fazer-se sentir e intensificava-se de hora para hora. Fui rapidamente para o hostel, tentando não me perder desta vez.
Cheguei lá relativamente cedo e, como não tinha sono nem me queria deitar àquela hora, decidi agarrar no livro que estava a ler e ir para a sala comum, onde um grupo de benfiquistas discutia futebol. Digo grupo de benfiquistas porque apesar de estarem em grupo, nem todos eram amigos. A discussão aqueceu depois de algumas opiniões divergentes terem sido atiradas para cima da mesa. Eu liguei o meu iPod e pus-me a ler, tentando ignorar o que se estava a passar à minha volta. Por volta da meia-noite vieram dizer que toda a gente tinha que sair da sala, porque fechava àquela hora. Achei estranho, mas não tive remédio senão sair também. Toda esta situação era-me mais ou menos inconveniente, já que eu tinha que carregar o iPhone, que estava a dar as últimas. Procurei uma tomada cá fora e acabei por encontrar uma ao pé dos computadores para os hóspedes. Liguei lá o telemóvel e encostei-me à parede a ler. Entretanto desceram mais portugueses, que vinham com comida do McDonald's pronta para ser comida. Ficaram lá algum tempo sentados a comer e a fazer barulho e depois lá se foram embora. Depois de carregar o telemóvel mais um bocadinho fui ao quarto buscar a escova de dentes, fui até à casa de banho e fui-me deitar. Nos últimos cinquenta centímetros da parede, junto ao tecto, o quarto tinha janelas de vidro que davam para o corredor . Eu tinha reparado nisso à tarde, mas não fiz caso. Com o que eu não contava era que eles fossem deixar as luzes do corredor acesas toda a noite. Lá arranjei maneira de não apanhar com a luz na cara e tentei adormecer com alguma coisa a tocar no iPod. Custou, mas foi.
Outra coisa com que eu não tinha contado, era acordar por volta das cinco da manhã com os selvagens do quarto ao lado a gritar cânticos do Benfica e a bater nas camas de modo a fazer ainda mais barulho. Depois disso foi muito complicado voltar a dormir sem ser por curtos períodos de tempo. Deviam ser cerca de nove e tal da manhã quando pulei da cama para ir tomar o pequeno-almoço. Travei rápido conhecimento com o tipo que dormiu na cama por cima da minha e fomos juntos tomar o pequeno-almoço. Ele era um tipo da minha idade, de Viana do Castelo mas que vivia em Paris há alguns anos com a mulher. Já tinha vidido no Canadá mas foi deportado por um motivo que não me lembro. Estivemos a falar um pouco do jogo mas o tópico corrente foi mais o viver fora de Portugal. A hora do pequeno-almoço estava quase no fim e, como tal, já não havia quase nada. Ainda conseguimos uns cereais com leite mas já foi a muito custo. Melhor que nada, certamente. Depois disso fui à casa de banho lavar os dentes, buscar a mala ao quarto e fazer o check-out. Ele ainda me acompanhou até meio do caminho, onde se ia encontrar com alguém que tinha conhecido no jogo. Despedimo-nos com o aperto de mão da praxe e eu segui em frente. O meu destino? O museu do Manchester United!
A visita foi interessante, ao longo de uma hora e pouco. Andámos pelas bancadas, vimos o balneário, a sala onde os jogadores relaxam antes dos jogos, o túnel de acesso ao relvado e mais um sem-número de coisas interessantes. O nosso guia era simpático e volta e meia lá fazia um comentário engraçado, que invariavelmente rasgava sorrisos aos participantes do grupo. Parte da missão estava cumprida, faltava agora o museu!
O museu tem muita história e está bem divido, ainda que eu ache que pudesse estar melhor. Tem uma sala especialmente para o Ferguson, outra para o desastre de Munique e várias outras com informação sobre o clube, troféus, antigos treinadores, jogadores, etc. Passei imenso tempo no museu, imenso mesmo. Acho que li tudo de uma ponta à outra e mais tinha lido se houvesse para ler. É difícil não ficar inspirado pela riqueza histórica de um clube como o Manchester United, principalmente a forma como lidou com as mais variadas situações adversas ao longo do tempo.
Quando saí do museu já passava um pouco da hora de almoço e eu não me quis ir embora sem visitar o Red Café e aproveitar o desconto de sócio. Sentei-me para almoçar (soube-me lindamente poder tirar a mochila!) e pedi o habitual hambúrguer vegetariano, que veio acompanhado de batatas fritas e coleslaw. Decidi mimar-me um pouco e complementei a refeição com um delicioso cheesecake de morango. A refeição estava boa, pelo menos soube-me bem. O espaço é agradável mas, honestamente, creio que comer lá seja uma daquelas situações one off que, muito provavelmente, não irá voltar a acontecer.
Voltei para o centro da cidade já deveriam ser cerca de três horas e tal. Antes das quatro já estava num a caminho do aeroporto, descansado da vida e pronto para, quando lá chegasse, pôr o telemóvel a carregar, uma vez que estava quase sem bateria. O comboio para o aeroporto demora cerca de vinte minutos, talvez menos, mas como, pensava eu, tinha tempo para queimar, decidi ir de autocarro. Sentei-me então no segundo andar de um doubledecker e, passados cerca de vinte minutos, decidi pegar na confirmação do voo só para conferir ao certo a que horas fechava a porta de embarque. Eu tinha ideia que não seria até às sete horas da noite, mas rapidamente me assustei quando percebi que afinal era às cinco horas (dezassete, portanto). Não entrei em pânico, porque já sei que isso não leva a lado nenhum. Tinha então cerca de meia-hora para chegar ao aeroporto. Calmamente levantei-me e desci as escadas para perguntar ao condutor quanto tempo levaria dali até ao aeroporto, ele respondeu que deveria demorar cerca de quarenta minutos. Agradeci a informação, ciente de que estava enfiado num problema, e pressionei o botão para indicar que desejava sair na próxima paragem. Assim o fiz. Mal saí, depois de raciocinar a mil à hora, lá me inteirei que a única hipótese viável seria mesmo apanhar um táxi e, mesmo assim, desejar que não houvesse trânsito e que o aeroporto não fosse muito longe. Perguntei numa loja se sabiam de algum serviço de mini-cabs na área, ao que me responderam que não, num inglês muito esfarrapado. Andei um pouco ao longo da rua até que encontrei uma paragem de táxis. Para tornar tudo melhor a minha bateria acabou precisamente nesse momento, por isso, mesmo que precisasse de fazer uma chamada, não ia conseguir. Esperei cerca de dez a quinze minutos até que finalmente passou um táxi do outro lado da rua que parou ao meu aceno. O trânsito na direcção que eu precisava de seguir era visível. Expliquei rapidamente ao senhor, arábico, o que é que me tinha acontecido e pedi-lhe para tentar chegar ao aeroporto o mais depressa possível. Ele deve ter simpatizado comigo porque deitou o pé no acelerador e lá fomos nós por atalhos e caminhos estranhos mais rápido do que a lei (certamente) permite. Conseguimos chegar ao aeroporto cerca de cinco minutos antes da hora mas eu não tinha dinheiro para lhe pagar e ele não aceitava pagamento por cartão. Deixei lá a mochila e fui a correr à procura de uma caixa, que só encontrei no piso -1. Levantei £20. Voltei para o táxi, deixei a nota com ele e nem me preocupei com o troco. Corri até à segurança onde, felizmente, não havia fila e onde, infelizmente, apanhei um velho chato que insistiu em me revistar a mochila. Mochila esta que estava completamente cheia até cima com roupa para os sete dias em que ia estar fora. Aproximava-se a hora do fecho da porta de embarque e eu estava ali a explicar-lhe que tinha um voo para apanhar, escusado será dizer que ele não se preocupou muito (nada?) com isso. Depois de ele me deixar ir, dei uma pequena corrida até à porta de embarque onde quase pulei de alegria quando vi que o embarque - ao bom estilo da Ryanair - ainda nem sequer tinha começado. Pus-me na fila, organizei a mala e não demorou até que percebesse que o avião ia estar cheio de adeptos do Benfica.
O avião ia tão cheio de adeptos do Benfica que a hospedeira de bordo - portuguesa - só fez o primeiro announcement em inglês, todos os restantes foram em português. Entretanto adormeci, tendo acordado mais tarde com cânticos do Benfica e alguma tensão no ar. Percebi que alguém que estava sentado mais atrás tinha dado uma bolachada ao hospedeiro de bordo, que claramente não tinha noção que a melhor forma de lidar com um grupo de pessoas não é usando a autoridade mas sim o bom senso. Ainda tentou, mais uma vez, mandar calar os adeptos que cantavam, mas a única coisa que conseguiu foi cantassem mais alto. Eu ria-me. A surpresa veio quando aterrámos e, antes de nos deixarem levantar, a polícia espanhola veio a bordo recolher a queixa que o hospedeiro tinha feito. Ficámos cerca de meia hora parados antes de poder fazer alguma coisa até que nos deixaram sair. Mandaram sair a primeira metade do avião, deixando a outra (onde estava o tipo que tinha dado a bolachada ao hospedeiro) lá dentro. Não fiquei para saber o que lhe aconteceu.
Estava com isto meio atrasado para ir ter com a amiga com quem ia ficar nessas duas noites. Pior, não tinha bateria no telemóvel para a poder avisar. Antes de sair do aeroporto, procurei por uma tomada e encontrei-a junto à casa de banho. Certamente haveria sítios melhores mas o tempo não abundava e eu só queria sair dali. Liguei o telemóvel à corrente durante uns quinze minutos, troquei um par de mensagens com ela e pus-me a andar dali para fora. Apanhei o metro e pus-me onde tinha que estar em cerca de vinte minutos. Demorei algum tempo até encontrar o nosso rendez-vous mas lá nos acabámos por encontrar sem problemas.
A casa dela ficava, literalmente, ao fundo da rua por isso não custou muito lá chegar. Depois de trocarmos dois dedos de conversa, tomei um duche e morri de cansaço até que a manhã me acordasse.
MADRID
Acordei relativamente cedo, já completamente descansado do compridíssimo dia anterior. Confesso que, por dentro, até nem estava muito chateado com a greve em Portugal. Assim, sempre poderia matar saudades de Madrid - cidade que adoro desde a primeira vez que lá fui, há muito, muito tempo! Os meus planos eram simples: ir ao Prado, ao Thyssen e, se desse tempo, ao Reina Sofía. Infelizmente só pude cumprir os dois primeiros, ficando o último para uma visita futura. Também tive tempo para um pequeno passeio na Gran Vía, já ao fim do dia, que me soube bem.
Gostei de revisitar os museus, principalmente o Thyssen, onde pude alimentar o meu recente apetite por arte impressionista e expressionista e apreciar alguma pop art. Fiquei fascinado com o trabalho de Richard Estes, que desconhecia por completo. Também gostei de rever no Prado as pinturas negras do Goya, algo que queria fazer há muito tempo. Os dois museus levaram-me o dia inteiro, principalmente o Prado que já é, de si, gigante. Perdi algum tempo nas lojas dos museus e depois de me despachar, fui até à Gran Vía, onde parei no McDonald's para comer qualquer coisa ligeira e ver qual era o plano para o serão. Aproveitei a internet de borla para passar os olhos no Facebook e, depois de trocar algumas mensagens de texto com a minha amiga, ficou combinado irmos jantar a algum sítio ali perto.
Apesar de gostar da Gran Vía, fiquei sem perceber se a prostituição por ali é legal ou não. A quantidade de prostitutas que por ali param a chamar pessoas (homens) com o maior à-vontade do mundo deixou-me ligeiramente chocado. Tentei imaginar o mesmo na Oxford Street e... não, não funcionou. É estranho. Demos algumas voltas até encontrarmos um restaurante típico onde entrámos para jantar. A comida não era má e a decoração era engraçada por isso acabou por se fazer bem a refeição.
No dia seguinte segui cedo para o aeroporto onde, para variar, cheguei mais que a horas! Não demorou até que estivesse dentro do avião a caminho de Lisboa para mais uns quatro dias relaxadamente bem passados, como se quer depois de uma aventura destas e com perfeita noção de que tenho que voltar a Madrid com mais tempo. Me gusta mucho!
13 de fevereiro de 2012
Killing Frost - Winter Tour
Alguns dos melhores e mais memoráveis momentos da minha vida até agora foram passados com os Killing Frost, banda que comecei em 2005. Ao longo de duas tours europeias (uma pequenina e uma gigante), duas demos e dois 7" (um deles não chegou a ser lançado) nasceram histórias, muitas histórias mesmo. Tantas histórias que para o verdadeiro espírito delas vir ao de cima, seja preciso estar com o resto do pessoal da banda e respectivos roadies. Fizemos coisas que hoje em dia se calhar já não fazem muito sentido e que muito provavelmente não voltaria a fazer mas isso é o que eu chamo de processo de crescimento, live and learn.
Em Dezembro de 2006, pouco mais de um ano de termos começado a banda e de termos tocado alguns concertos em Portugal, decidimos marcar uma pequena tour europeia de promoção ao disco que tínhamos acabado de lançar. Não me lembro ao certo se estes foram os primeiros concertos do Diogo como guitarrista, mas estou em crer que sim. A tour correu bem e não foi mais que aquilo que nós sabíamos que ia ser: uma autêntica aventura. Seis miúdos enfiados numa carrinha a ir pela Europa fora, com partida no dia a seguir ao Natal, para tocar uns concertos na Alemanha, Holanda e Bélgica só podia mesmo dar por esse nome. Depois de voltar, descrevi sucintamente a experiência e guardei o texto que agora torno público. In Frost We Trust!
DIA 26 DE DEZEMBRO - LISBOA/PORTO, PORTUGAL
Eu e um dos nossos roadies saímos de Lisboa por volta das nove da manhã numa carrinha que tinha sido alugada com o meu cartão de crédito novinho em folha. Na altura tinha um trabalho estável (ainda que fosse um "trabalhinho") e podia-me dar a estes luxos, salvo seja. A viagem foi calma e chegámos ao Porto por volta do meio-dia e tal. Encostámos ao pé de casa do Brandão e carregámos a carrinha com o material. Levámos um backline completo, o que ajudou a que a bagageira da carrinha fosse bem cheia. Saímos do Porto por volta da uma hora de tarde com destino a Heist-op-den-Berg, na Bélgica. Qualquer coisa como cerca de dois mil e tal km de distância, ou vinte e tal horas de viagem, trocando por miúdos.
DIA 27 DE DEZEMBRO - HEIST-OP-DEN-BERG, BÉLGICA
Chegámos à Bélgica por volta das onze horas da manhã. Andámos meio perdidos à procura da terra onde ia ser o concerto e, depois de parar para perguntar, lá nos conseguimos orientar. Ficámos surpreendidos com a nossa média, que foi de vinte e poucas horas sempre sem parar. Apanhámos imenso frio em França, cerca de sete graus negativos e neve, mas dentro da carrinha até que nem se estava assim muito mal. De qualquer modo, chegámos cedo demais à Bélgica que, como grande parte da viagem, estava bastante gelada! Fomos comer o snack típico (e obrigatório) - batatas fritas e molho - num dos muitos sítios que eles têm para esse efeito, e fomos em busca da sala onde seria o concerto. Depois de andar um pouco ao frio lá acabámos por encontrá-la. Era pequena e tinha um bar ao pé da entrada. O palco ficava ao fundo da sala e tinha espaço para vinte ou trinta pessoas à frente dele. Estávamos contentes. Sentámo-nos num sofá que lá havia e acabámos, invariavelmente, por adormecer.
A primeira banda era na onda de Strife, mas não era assim nada de especial. Pelo menos não me despertou muito a atenção. O nosso ser foi ok, nada mau para o novo alinhamento. Esqueci-me de uma parte da letra da música de Agnostic Front que tocámos mas, tirando isso, foi regular. Vendemos alguns discos por isso acho que o pessoal curtiu. Restless Youth, que iam fechar, foi bem fixe. Nessa altura estavam umas setenta pessoas na sala e ela estava pelas costuras.
Depois do concerto ficámos um pouco na sala a beber Chocomel e a galhofar junto à banca do merch, até que o nosso host para a noite (que também era o organizador do concerto) veio ter connosco para seguirmos para casa dele. A casa ficava meio longe do centro da cidade, mas não custou a lá chegar. Eu já o conhecia de uma tour anterior de For The Glory e já tinha lá ficado. Sabia que o tratamento era melhor que bom e que ele era uma jóia de pessoa. Todos tivemos cama onde dormir e oportunidade de tomar um duche. Eu não o fiz, uma vez que rolava uma aposta para ver se eu aguentava até ao fim da tour sem o fazer.
DIA 28 DE DEZEMBRO - AMSTERDAM, HOLANDA (DAY OFF)
Acordámos menos cedo do que queríamos. O Jan serviu-nos um pequeno-almoço brutal que serviu de óptimo tónico para começar o dia. Como não tínhamos concerto neste dia, decidimos ir passear até Amsterdam, na Holanda. Chegámos lá já algo tarde mas ainda deu para passearmos um pouco. Andámos meio perdidos pelo centro, depois de ter ido comer a um Burger King. Fomos a uma loja de discos, onde perdemos algum tempo e gastámos o resto do tempo no Red Light District a andar de um lado para o outro que nem um bando de miúdos que nunca tivesse saído de casa. Nessa noite íamos dormir a Utrecht, também na Holanda, a casa de uns amigos. Saímos de Amsterdam tarde e chegámos lá mais tarde ainda. A casa ficava, literalmente, no meio do nada. À volta só tinha campo. Era uma casa engraçada, com dois andares. Vivia lá algum pessoal de bandas que nós conhecíamos e que tinham sido simpáticos o suficiente para nos oferecer o chão deles pela noite. Montámos o nosso estaminé no chão da sala, que ainda era bastante grande, e fomos dormir depois de reviver uma série de histórias.
DIA 29 DE DEZEMBRO - UTRECHT/EINDHOVEN, HOLANDA
Acordámos meio à pressa porque os donos da casa tinham que ir trabalhar. Ainda tomámos um pequeno-almoço rápido com eles e lá fomos nós. Seguimos para Utrecht, onde nos fartámos de andar. A cidade é muito bonita e tem montes de miúdas giras. Almoçámos num dos muitos snack bars que eles têm e eu aproveitei para comer o meu menu de preferência quando nos Países Baixos: dois kaassouflees, uma Coca-Cola e uma dose pequena de batatas fritas com fritessaus. Mais que delicioso. Saímos para Eindhoven por volta das quatro horas da tarde numa viagem que foi relativamente calma. Demorámos quase mais tempo à procura da sala do concerto do que na viagem mas, felizmente, a calma manteve-se. Fomos parados pela polícia enquanto procurávamos pela sala por estar a flashar carros no trânsito com os posters de algumas das revistas porno que tínhamos roubado em estações de serviço ao longo da viagem. Um dos polícias chamava-se Mike e fazia o papel do polícia mau, o outro era o polícia fixe. Eles foram os dois compreensivos e disseram só para não voltarmos a fazer. Há sempre uma primeira vez para tudo…!
A sala do concerto - chamada The Rambler - era fixe mas o concerto em si nem por isso o foi. Este foi um concerto arranjado à última da hora porque um dos outros tinha sido cancelado. Iam tocar três bandas e a nossa ia abrir o concerto. A nossa prestação foi bem melhor que a anterior, estando muito mais soltos em palco. Infelizmente só apareceram cerca de vinte pessoas para o concerto. Depois de acabarmos o nosso set, fomos dar uma volta para cidade. Foi bom recordar os tempos que lá passei em 2004 e ter noção que a cidade continua igual. Lembrei-me do Pedro e do Congas, com quem lá vivi. Bons tempos! Depois do concerto acabar e de arrumarmos tudo, fomos dormir à casa Laura, em Antwerp, na Bélgica.
DIA 30 DE DEZEMBRO - TIELT, BÉLGICA
Acordámos cedo. Ninguém tomou banho por falta de tempo, uma vez que a Laura tinha que sair de casa igualmente cedo. Tomámos o pequeno-almoço, lavámos a louça e fomos dar uma volta pela cidade. Mais uma vez, fartámo-nos de andar. Andámos pela zona do centro e fomos até ao pontão, antes de voltar para trás. Ainda parámos para comer qualquer coisa antes de seguirmos para o sítio onde tínhamos combinado nos encontrar com os Justice. O sítio era uma bomba de gasolina à saída de Antwerp e de lá fizemos cerca de noventa km até à sala do concerto. Apanhámos um tempo horrível durante a viagem.
Quando chegámos, a sala do concerto estava cheia. Ainda que estivesse cheia de pessoal do beatdown, uma vez que grande parte do cartaz era feito de bandas desse género. Havia muita corrente e boné da Lacoste. Essa onda. Também havia alguns miúdos do hardcore, mas eram uma minoria.
O concerto era numa sala não muito grande e não ia ter palco. Em circunstâncias normais, isso não me faz grande diferença mas, neste caso, tendo em conta que o chão era de ladrilho e estava a chover lá fora, o mais certo era eu espetar-me muito rapidamente. Meu dito, meu feito. Não foi preciso passar da primeira música para que isso acontecesse. Até foi fixe, mais punk era impossível! Quando tocámos só lá estava, obviamente, o pessoal do hardcore, que deviam ser uns sessenta, se tanto. O que vale é que a sala era pequena. Os Justice tocaram depois de nós e o concerto foi bom, ainda que as músicas novas não me atraiam por aí além. Depois do concerto ficámos um bocado cá fora a fazer tempo, uma vez que íamos seguir directamente (entenda-se conduzir noite dentro) para Hamburg, na Alemanha.
DIA 31 DE DEZEMBRO - HAMBURG/KIEL, ALEMANHA
A viagem fez-se bem. Melhor do que aquilo que eu tinha previsto, pelo menos. Fui sempre na frente com o Filipe, a falar de tudo e mais alguma coisa até que, por volta das nove da manhã (depois de cerca de sete horas de viagem), já perto do nosso destino, fomos parados pela mui querida polícia alemã. Eles decidiram implicar que o Filipe estava sob o efeito de anfetaminas e obrigaram-nos a seguir o carro deles até uma esquadra para ele fazer testes de sangue. Tivemos que deixar uma caução que seria devolvida caso o resultado do teste fosse negativo. Eles foram claros o suficiente: se não pagássemos, não saíamos dali. Depois do pequeno empate lá seguimos para Hamburg, onde íamos, finalmente, dormir. Ficámos em casa de um dos miúdos portugueses que tinha vindo connosco de Tiel e que estava a viver em Hamburg na altura. O apartamento era fixe e com uma decoração moderna. Dormimos no quarto, todos mais ou menos ao monte.
Acordámos por volta das três horas da tarde. Dormi bastante bem, eventualmente por causa do cansaço. Tomei banho, algo que não acontecia desde Lisboa, perdendo assim a aposta que tinha sido feito no Porto. O que tem que ser, tem que ser! Fomos dar um passeio pela cidade, onde já se ouviam foguetes ao estrondo por todo o lado. É uma tradição (?) algo estranha esta que têm em Hamburg. Dia 31 de Dezembro significa lançar foguetes de manhã à noite. Haja paciência. Fomos até ao Red Light District da cidade, que é muito mais intenso que o de Amsterdam. Desde edifícios com prostitutas porta sim, porta sim, até troços de rua onde não podem - absolutamente - entrar mulheres. Um mundo completamente aparte.
Pouco depois seguimos para Kiel, onde íamos tocar nessa noite. O nosso concerto foi muito fixe (o melhor da tour, acho eu). Era só punks mesmo à anos 80, miúdas giras, putos straightedge e mais uma molhada de estilos todos à mistura. Quando tocámos estavam cerca de cento e tal pessoas na sala, quando foi a passagem de ano deviam estar cerca de duzentas e cinquenta. O concerto foi meio caótico; logo na primeira música um dos microfones de suporte caiu e partiu-se uma garrafa mesmo à minha frente - bom, muito bom! O pessoal curtiu e nós também. Ainda ficámos lá a curtir até tarde e depois de acabar a festa fomos dormir a casa de um dos organizadores. A casa estava vazia e nós ficámos numa sala que não tinha nada a não ser um computador velho. Lá nos organizámos pelo chão, da melhor maneira possível, e fomos dormir.
DIA 1 DE JANEIRO - DEN HAAG, HOLANDA
Saímos cedo de Kiel, embora só tivessemos uma viagem de cinco horas pela frente. Este concerto - em Den Haag, na Holanda - era o último da nossa pequena tour de Inverno. Ainda assim, era um concerto importante porque íamos tocar com os Fucked Up. Chegámos a horas à sala, que era uma valente porcaria. Não fiquei grandemente excitado para o concerto depois disso. Depois de alguns problemas com os Fucked Up, nomeadamente o facto de não aparecerem, eles lá apareceram e nós começámos o concerto.
O set foi ok; a sala era muito fraca e o som não lhe ficava nada atrás. Não consegui falar uma única vez entre as músicas por causa dos feedbacks do microfone. Estavam lá cerca de sessenta pessoas e a sala estava cheia. Foi um concerto estranho porque ninguém bateu palmas entre as músicas, achei que seria provavelmente por eles terem lá ido para ver Fucked Up e nos terem achado demasiado rápidos. No fim do concerto várias pessoas vieram-me dizer que tinham gostado imenso do concerto e eu fiquei baralhado. Holandeses d'um raio. Fucked Up foi muito estranho e acabou com o vocalista e a baixista pegados à batatada. Depois do concerto seguimos directamente para Portugal.
DIA 2 DE JANEIRO - LISBOA, PORTUGAL
Chegámos a Portugal às sete horas da noite. A viagem fez-se bem, embora eu tenha vindo o tempo quase todo a dormir. Numa das paragens em França, eles ainda andaram a perseguir coelhos numa estação de serviço mas eu, que estava muito mais para lá do que para cá, não liguei muito a isso. Parámos no Porto para deixar toda a gente em casa e viemos para Lisboa. IFWT!
Em Dezembro de 2006, pouco mais de um ano de termos começado a banda e de termos tocado alguns concertos em Portugal, decidimos marcar uma pequena tour europeia de promoção ao disco que tínhamos acabado de lançar. Não me lembro ao certo se estes foram os primeiros concertos do Diogo como guitarrista, mas estou em crer que sim. A tour correu bem e não foi mais que aquilo que nós sabíamos que ia ser: uma autêntica aventura. Seis miúdos enfiados numa carrinha a ir pela Europa fora, com partida no dia a seguir ao Natal, para tocar uns concertos na Alemanha, Holanda e Bélgica só podia mesmo dar por esse nome. Depois de voltar, descrevi sucintamente a experiência e guardei o texto que agora torno público. In Frost We Trust!
DIA 26 DE DEZEMBRO - LISBOA/PORTO, PORTUGAL
Eu e um dos nossos roadies saímos de Lisboa por volta das nove da manhã numa carrinha que tinha sido alugada com o meu cartão de crédito novinho em folha. Na altura tinha um trabalho estável (ainda que fosse um "trabalhinho") e podia-me dar a estes luxos, salvo seja. A viagem foi calma e chegámos ao Porto por volta do meio-dia e tal. Encostámos ao pé de casa do Brandão e carregámos a carrinha com o material. Levámos um backline completo, o que ajudou a que a bagageira da carrinha fosse bem cheia. Saímos do Porto por volta da uma hora de tarde com destino a Heist-op-den-Berg, na Bélgica. Qualquer coisa como cerca de dois mil e tal km de distância, ou vinte e tal horas de viagem, trocando por miúdos.
DIA 27 DE DEZEMBRO - HEIST-OP-DEN-BERG, BÉLGICA
Chegámos à Bélgica por volta das onze horas da manhã. Andámos meio perdidos à procura da terra onde ia ser o concerto e, depois de parar para perguntar, lá nos conseguimos orientar. Ficámos surpreendidos com a nossa média, que foi de vinte e poucas horas sempre sem parar. Apanhámos imenso frio em França, cerca de sete graus negativos e neve, mas dentro da carrinha até que nem se estava assim muito mal. De qualquer modo, chegámos cedo demais à Bélgica que, como grande parte da viagem, estava bastante gelada! Fomos comer o snack típico (e obrigatório) - batatas fritas e molho - num dos muitos sítios que eles têm para esse efeito, e fomos em busca da sala onde seria o concerto. Depois de andar um pouco ao frio lá acabámos por encontrá-la. Era pequena e tinha um bar ao pé da entrada. O palco ficava ao fundo da sala e tinha espaço para vinte ou trinta pessoas à frente dele. Estávamos contentes. Sentámo-nos num sofá que lá havia e acabámos, invariavelmente, por adormecer.
A primeira banda era na onda de Strife, mas não era assim nada de especial. Pelo menos não me despertou muito a atenção. O nosso ser foi ok, nada mau para o novo alinhamento. Esqueci-me de uma parte da letra da música de Agnostic Front que tocámos mas, tirando isso, foi regular. Vendemos alguns discos por isso acho que o pessoal curtiu. Restless Youth, que iam fechar, foi bem fixe. Nessa altura estavam umas setenta pessoas na sala e ela estava pelas costuras.
Depois do concerto ficámos um pouco na sala a beber Chocomel e a galhofar junto à banca do merch, até que o nosso host para a noite (que também era o organizador do concerto) veio ter connosco para seguirmos para casa dele. A casa ficava meio longe do centro da cidade, mas não custou a lá chegar. Eu já o conhecia de uma tour anterior de For The Glory e já tinha lá ficado. Sabia que o tratamento era melhor que bom e que ele era uma jóia de pessoa. Todos tivemos cama onde dormir e oportunidade de tomar um duche. Eu não o fiz, uma vez que rolava uma aposta para ver se eu aguentava até ao fim da tour sem o fazer.
DIA 28 DE DEZEMBRO - AMSTERDAM, HOLANDA (DAY OFF)
Acordámos menos cedo do que queríamos. O Jan serviu-nos um pequeno-almoço brutal que serviu de óptimo tónico para começar o dia. Como não tínhamos concerto neste dia, decidimos ir passear até Amsterdam, na Holanda. Chegámos lá já algo tarde mas ainda deu para passearmos um pouco. Andámos meio perdidos pelo centro, depois de ter ido comer a um Burger King. Fomos a uma loja de discos, onde perdemos algum tempo e gastámos o resto do tempo no Red Light District a andar de um lado para o outro que nem um bando de miúdos que nunca tivesse saído de casa. Nessa noite íamos dormir a Utrecht, também na Holanda, a casa de uns amigos. Saímos de Amsterdam tarde e chegámos lá mais tarde ainda. A casa ficava, literalmente, no meio do nada. À volta só tinha campo. Era uma casa engraçada, com dois andares. Vivia lá algum pessoal de bandas que nós conhecíamos e que tinham sido simpáticos o suficiente para nos oferecer o chão deles pela noite. Montámos o nosso estaminé no chão da sala, que ainda era bastante grande, e fomos dormir depois de reviver uma série de histórias.
DIA 29 DE DEZEMBRO - UTRECHT/EINDHOVEN, HOLANDA
Acordámos meio à pressa porque os donos da casa tinham que ir trabalhar. Ainda tomámos um pequeno-almoço rápido com eles e lá fomos nós. Seguimos para Utrecht, onde nos fartámos de andar. A cidade é muito bonita e tem montes de miúdas giras. Almoçámos num dos muitos snack bars que eles têm e eu aproveitei para comer o meu menu de preferência quando nos Países Baixos: dois kaassouflees, uma Coca-Cola e uma dose pequena de batatas fritas com fritessaus. Mais que delicioso. Saímos para Eindhoven por volta das quatro horas da tarde numa viagem que foi relativamente calma. Demorámos quase mais tempo à procura da sala do concerto do que na viagem mas, felizmente, a calma manteve-se. Fomos parados pela polícia enquanto procurávamos pela sala por estar a flashar carros no trânsito com os posters de algumas das revistas porno que tínhamos roubado em estações de serviço ao longo da viagem. Um dos polícias chamava-se Mike e fazia o papel do polícia mau, o outro era o polícia fixe. Eles foram os dois compreensivos e disseram só para não voltarmos a fazer. Há sempre uma primeira vez para tudo…!
A sala do concerto - chamada The Rambler - era fixe mas o concerto em si nem por isso o foi. Este foi um concerto arranjado à última da hora porque um dos outros tinha sido cancelado. Iam tocar três bandas e a nossa ia abrir o concerto. A nossa prestação foi bem melhor que a anterior, estando muito mais soltos em palco. Infelizmente só apareceram cerca de vinte pessoas para o concerto. Depois de acabarmos o nosso set, fomos dar uma volta para cidade. Foi bom recordar os tempos que lá passei em 2004 e ter noção que a cidade continua igual. Lembrei-me do Pedro e do Congas, com quem lá vivi. Bons tempos! Depois do concerto acabar e de arrumarmos tudo, fomos dormir à casa Laura, em Antwerp, na Bélgica.
DIA 30 DE DEZEMBRO - TIELT, BÉLGICA
Acordámos cedo. Ninguém tomou banho por falta de tempo, uma vez que a Laura tinha que sair de casa igualmente cedo. Tomámos o pequeno-almoço, lavámos a louça e fomos dar uma volta pela cidade. Mais uma vez, fartámo-nos de andar. Andámos pela zona do centro e fomos até ao pontão, antes de voltar para trás. Ainda parámos para comer qualquer coisa antes de seguirmos para o sítio onde tínhamos combinado nos encontrar com os Justice. O sítio era uma bomba de gasolina à saída de Antwerp e de lá fizemos cerca de noventa km até à sala do concerto. Apanhámos um tempo horrível durante a viagem.
Quando chegámos, a sala do concerto estava cheia. Ainda que estivesse cheia de pessoal do beatdown, uma vez que grande parte do cartaz era feito de bandas desse género. Havia muita corrente e boné da Lacoste. Essa onda. Também havia alguns miúdos do hardcore, mas eram uma minoria.
O concerto era numa sala não muito grande e não ia ter palco. Em circunstâncias normais, isso não me faz grande diferença mas, neste caso, tendo em conta que o chão era de ladrilho e estava a chover lá fora, o mais certo era eu espetar-me muito rapidamente. Meu dito, meu feito. Não foi preciso passar da primeira música para que isso acontecesse. Até foi fixe, mais punk era impossível! Quando tocámos só lá estava, obviamente, o pessoal do hardcore, que deviam ser uns sessenta, se tanto. O que vale é que a sala era pequena. Os Justice tocaram depois de nós e o concerto foi bom, ainda que as músicas novas não me atraiam por aí além. Depois do concerto ficámos um bocado cá fora a fazer tempo, uma vez que íamos seguir directamente (entenda-se conduzir noite dentro) para Hamburg, na Alemanha.
DIA 31 DE DEZEMBRO - HAMBURG/KIEL, ALEMANHA
A viagem fez-se bem. Melhor do que aquilo que eu tinha previsto, pelo menos. Fui sempre na frente com o Filipe, a falar de tudo e mais alguma coisa até que, por volta das nove da manhã (depois de cerca de sete horas de viagem), já perto do nosso destino, fomos parados pela mui querida polícia alemã. Eles decidiram implicar que o Filipe estava sob o efeito de anfetaminas e obrigaram-nos a seguir o carro deles até uma esquadra para ele fazer testes de sangue. Tivemos que deixar uma caução que seria devolvida caso o resultado do teste fosse negativo. Eles foram claros o suficiente: se não pagássemos, não saíamos dali. Depois do pequeno empate lá seguimos para Hamburg, onde íamos, finalmente, dormir. Ficámos em casa de um dos miúdos portugueses que tinha vindo connosco de Tiel e que estava a viver em Hamburg na altura. O apartamento era fixe e com uma decoração moderna. Dormimos no quarto, todos mais ou menos ao monte.
Acordámos por volta das três horas da tarde. Dormi bastante bem, eventualmente por causa do cansaço. Tomei banho, algo que não acontecia desde Lisboa, perdendo assim a aposta que tinha sido feito no Porto. O que tem que ser, tem que ser! Fomos dar um passeio pela cidade, onde já se ouviam foguetes ao estrondo por todo o lado. É uma tradição (?) algo estranha esta que têm em Hamburg. Dia 31 de Dezembro significa lançar foguetes de manhã à noite. Haja paciência. Fomos até ao Red Light District da cidade, que é muito mais intenso que o de Amsterdam. Desde edifícios com prostitutas porta sim, porta sim, até troços de rua onde não podem - absolutamente - entrar mulheres. Um mundo completamente aparte.
Pouco depois seguimos para Kiel, onde íamos tocar nessa noite. O nosso concerto foi muito fixe (o melhor da tour, acho eu). Era só punks mesmo à anos 80, miúdas giras, putos straightedge e mais uma molhada de estilos todos à mistura. Quando tocámos estavam cerca de cento e tal pessoas na sala, quando foi a passagem de ano deviam estar cerca de duzentas e cinquenta. O concerto foi meio caótico; logo na primeira música um dos microfones de suporte caiu e partiu-se uma garrafa mesmo à minha frente - bom, muito bom! O pessoal curtiu e nós também. Ainda ficámos lá a curtir até tarde e depois de acabar a festa fomos dormir a casa de um dos organizadores. A casa estava vazia e nós ficámos numa sala que não tinha nada a não ser um computador velho. Lá nos organizámos pelo chão, da melhor maneira possível, e fomos dormir.
DIA 1 DE JANEIRO - DEN HAAG, HOLANDA
Saímos cedo de Kiel, embora só tivessemos uma viagem de cinco horas pela frente. Este concerto - em Den Haag, na Holanda - era o último da nossa pequena tour de Inverno. Ainda assim, era um concerto importante porque íamos tocar com os Fucked Up. Chegámos a horas à sala, que era uma valente porcaria. Não fiquei grandemente excitado para o concerto depois disso. Depois de alguns problemas com os Fucked Up, nomeadamente o facto de não aparecerem, eles lá apareceram e nós começámos o concerto.
O set foi ok; a sala era muito fraca e o som não lhe ficava nada atrás. Não consegui falar uma única vez entre as músicas por causa dos feedbacks do microfone. Estavam lá cerca de sessenta pessoas e a sala estava cheia. Foi um concerto estranho porque ninguém bateu palmas entre as músicas, achei que seria provavelmente por eles terem lá ido para ver Fucked Up e nos terem achado demasiado rápidos. No fim do concerto várias pessoas vieram-me dizer que tinham gostado imenso do concerto e eu fiquei baralhado. Holandeses d'um raio. Fucked Up foi muito estranho e acabou com o vocalista e a baixista pegados à batatada. Depois do concerto seguimos directamente para Portugal.
DIA 2 DE JANEIRO - LISBOA, PORTUGAL
Chegámos a Portugal às sete horas da noite. A viagem fez-se bem, embora eu tenha vindo o tempo quase todo a dormir. Numa das paragens em França, eles ainda andaram a perseguir coelhos numa estação de serviço mas eu, que estava muito mais para lá do que para cá, não liguei muito a isso. Parámos no Porto para deixar toda a gente em casa e viemos para Lisboa. IFWT!
Subscrever:
Mensagens (Atom)