19 de fevereiro de 2012

De Manchester a Madrid

No ano passado, uma vez que os meus pais viriam a Londres passar o Natal comigo e com o meu irmão, decidi tirar férias (entenda-se ir a Lisboa) antes do Natal. Calhou o Benfica ir jogar a Manchester no fim de Novembro em jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões e, tendo eu perdido a hipótese de ir ver o mesmo jogo em Lisboa uns meses antes, achei que esta seria uma boa oportunidade para montar uma pequena aventura que me desse para matar saudades do bichinho viajante.
Lancei-me na habitual pesquisa de voos, para ver se compensava viajar nesta altura, e tive a sorte de ter a sorte do meu lado. O plano formou-se rapidamente: iria de comboio até Manchester, onde passaria a noite num hostel e de onde voaria de para Madrid na tarde seguinte. Depois de uma noite em Madrid, voaria para Lisboa. O total da viagem, excluindo o voo de regresso, não chegava a £50 por isso nem pensei duas vezes. O voo de regresso acabou por não ficar muito mais que isso, tornando a viagem num autêntico achado.

A minha ideia original era passar algum (curto) tempo em Madrid en route para Lisboa, uma vez que tinha lá uma amiga a viver e não teria que pagar alojamento, mas as horas dos voos não iam permitir que tal acontecesse. Chegava a Madrid tarde e o voo para Lisboa saía cedo na manhã seguinte. Fiquei mais ou menos aborrecido, mas nem por isso chateado. Na semana antes de partir, foi anunciada uma greve geral em Portugal, exactamente para o dia em que era suposto eu voar para Lisboa. Não foi até dois dias antes da viagem para Manchester (e algumas chamadas telefónicas depois) que consegui mudar para o dia seguinte o voo que me ia levar até Lisboa. Custou, mas foi. Assim sendo ia ter um dia inteiro em Madrid, algo que me fez jubilar, uma vez que já há algum tempo que estava para o fazer. Estava particularmente excitado por poder visitar alguns museus e dar um passeio pela Gran Vía. Claro que isto ia fazer com que passasse menos um dia em Portugal mas pronto, fazer o quê?

MANCHESTER
Saí de Londres na terça-feira do jogo. Ir a Manchester ver o United já não é nada de novo para mim e, sabendo os cantos à casa, já não preciso de ir mais cedo para o caso de me perder. Apanhei o comboio em King's Cross por volta do meio-dia para uma viagem que ia durar cerca de duas hora e tal. Vi algum pessoal que ia para o jogo mas, sendo as cores de ambos os clubes o vermelho e branco, ficava difícil de perceber qual era o clube que apoiavam.


A viagem foi calma. Certamente mais calma que a de autocarro, que demora o dobro do tempo. O problema dos comboios nesta terra é que são caríssimos e, se não for com promoções como a que eu apanhei, mais vale ir de autocarro. Claro que a viagem de autocarro é um valente aborrecimento, demorando quase mais do dobro da de comboio, mas pronto. Quem corre por gosto, não cansa.
O meu destino era a estação de Piccadilly, em Manchester, com uma paragem curta pelo caminho, em Milton Keynes. Chegámos a horas. O meu plano era ir até ao hostel fazer o check-in, deixar a mochila (que estava bem cheia e pesada) no quarto e seguir calmamente para o estádio.

Eu tinha ideia de como chegar ao hostel mas, mais uma vez, pus-me por caminhos que não conhecia e fui parar quase à ponta oposta da cidade. Enfim, ao menos tinha tempo e, como de costume, não me aborreceu nada o passeio. Vi muitos adeptos do Benfica por toda a cidade, principalmente ao pé dos hotéis onde estavam a ficar. Depois de uma longa caminhada lá descobri para onde tinha que ir (um caminho que da estação me deveria ter demorado cerca de vinte minutos mas acabou por demorar perto de hora e meia). O hostel era num edifício grande que, noutros tempos, deve ter sido um escritório ou a sede de uma empresa. Tinha ar de tudo menos de hostel. Eu costumo ficar no Hatters, que é ligeiramente mais central mas desta vez, uma vez que a diferença no preço o justificava, decidi experimentar este. A introdução não foi excelente, com a recepcionista a olhar para o ecrã durante uns bons cinco minutos em que eu estava do outro lado do balcão à espera de ser atendido. Fico piurso quando isso acontece. Muito mesmo. Depois de entregar o papel da reserva, pagar e ela dar-me as chaves do cacifo, foi-me levar ao quarto - que ficava ao fundo do corredor - enquanto explicava os procedimentos básicos do hostel. O quarto em si não era mau de todo, tinha três beliches e seis cacifos. Quando entrei não estava lá ninguém mas dava para ver que as camas estavam ocupadas. Tirei a mochila, aproveitei para desprender os músculos e, depois de pôr o portátil no cacifo, peguei no cachecol vermelho e branco e segui para o estádio.


Fui calmamente até ao centro onde dei uma curta, mas agradável, volta. Parei na paragem do tram que vai para Old Trafford e comprei um bilhete de ida e volta. Esperei uns bons dez minutos ao frio até que lá apareceu um, que ia completamente cheio. Uns dez minutos depois lá apareceu outro e, ainda que fosse ter que ir bem espalmado lá dentro, preferi isso a ter que esperar ao frio mais quanto tempo fosse. Eu gosto de chegar ao estádio de tram, porque isso obriga a fazer a pé a rua que vai até ao estádio e dá para sentir a emoção a crescer quanto mais perto se vai estando. O comboio, por sua vez, pára mesmo no estádio. O problema do comboio é o retorno, uma vez que as filas crescem muito rapidamente e, more often than not, há uma série de pessoas que acaba por não poder ir de comboio. Já me aconteceu mais que uma vez. No caso do tram, uma vez acabado o jogo e tirando proveito do meu passo rápido, consigo percorrer o quilómetro-e-qualquer-coisa num instante e ainda chegar a tempo de apanhar o primeiro ou o segundo tram.

Cheguei ao estádio relativamente cedo e, como tal, decidi ir à loja do United só para ver, uma vez que eles tinham feito obras recentemente e eu ainda não a tinha visto remodelada. Como é habitual em dia de jogo, a loja estava um caos. Dei uma volta rápida e saí de lá em direcção à minha porta, ainda parando para ajudar uma ou duas pessoas que queriam ter uma foto tirada em frente à fachada do estádio. Fui das primeiras pessoas a entrar para o meu sector; as bancadas, normalmente, só começam a encher cerca de vinte minutos antes do apito inicial. O meu lugar era bom e com boa visibilidade. A bancada dos visitantes fica mesmo em frente ao lugar que eu tinha e quando entrei já estava muito composta. Não só isso, mas os adeptos do Benfica já cantavam como se não houvesse amanhã.




O United vinha de uma série de exibições muito pouco impressionantes, principalmente na Liga dos Campeões. Ganhar este jogo significaria semi garantir presença nos oitavos-de-final e, como tal, pedia-se uma boa exibição à equipa. Eu sempre fui adepto do Benfica, tendo começado a simpatizar com o Manchester United no fim dos anos 90 por causa do jogo Championship Manager e, principalmente, pela campanha feita na Liga dos Campeões de 1998/1999 onde uma vitória conseguida - literalmente - nos últimos minutos, me conquistaria para sempre. Aos meus olhos, era daquilo que uma grande equipa era feita. Apesar de continuar a seguir o Benfica, jogo após jogo, nos anos que seguiram, houve uma altura em que a falta de habilidade para sequer conseguirem fazer dois passes seguidos me deixou pouco interessando em seguir o campeonato português com tanta paixão como haveria feito em anos anteriores. Uma das coisas que eu gosto no futebol, é de ver bom futebol. Futebol bem jogado. A minha cena é o futebol, muito acima do clubismo.
Quando vim viver para Inglaterra não demorei em perceber qual é que era o clube que ia apoiar, por cliché que soe, quando se sente, sente-se. Não há "um dia sou deste" e "outro dia sou daquele". Ou se gosta muito, ou não. No ano em que cheguei o Ronaldo ainda jogava pelo clube e ganhámos a Liga dos Campeões ao Chelsea. O pub em que vi a final explodiu de alegria (menos os adeptos do Chelsea, claro) quando o John Terry falhou o golo e essa há-de ser uma memória que nunca irei esquecer. Hoje em dia, não tendo tempo para seguir dois campeonatos e, tendo em consideração que o campeonato português é largamente inferior ao inglês, opto por apenas ver os jogos do Benfica em campeonatos Europeus, seguindo por alto a Liga Portuguesa.

Este jogo ia ser um jogo interessante porque, sendo eu adepto do Benfica desde pequenino, estava com algumas dúvidas sobre para que lado me ia inclinar e o que iria sentir. A resposta não demorou a surgir, bastou o jogo começar para perceber que, apesar de não querer que o United sofresse golos (para, obviamente, progredir na Europa), de cada vez que o Benfica atacava eu sentia-me como se estivesse na bancada do Benfica a torcer pela equipa. Festejei os dois golos do United da mesma forma que sorri quando o Benfica marcou os dele. O jogo acabou 2-2, depois de mais uma exibição relativamente fraca do United que, infelizmente, se revelou crucial para a nossa não passagem à próxima fase da Liga dos Campeões. Estava muito frio e os adeptos do Benfica calaram, autênticamente, o estádio inteiro. Note-se que os adeptos do United, em casa, têm o mau hábito de não apoiar a equipa quando os resultados são fracos. Já o vi acontecer uma série de vezes, da mesma forma que já vi acontecer o contrário como daquela vez contra o Bayern München. Enfim, fazer o quê? Ainda que estivesse meio triste com o resultado, estava contente com as possibilidades do Benfica passar à próxima fase.

Saí do estádio depois do apito final e dirigi-me à estação dos trams, passando à frente de muita gente pelo caminho. Consegui apanhar o primeiro tram que passou. Uma vez que grande parte das pessoas ainda vinha a caminho, o tram ainda não ia muito cheio. A viagem foi calma e a disposição geral não era má de todo. A exibição não tinha sido a melhor e o resultado era fraco para as nossas ambições mas não se poderia dizer que tinha sido altamente imprevisível. Quando cheguei ao centro da cidade, uns vinte minutos depois, decidi ir procurar qualquer sítio onde pudesse comer, uma vez que não o fazia desde a sandes que comi no comboio. Procurei e procurei e, uma vez que não encontrava nada melhor, decidi para num daqueles restaurantes de fast food turcos e pedir uma pizza. Certamente que não era a opção mais saudável (tinha mais óleo que pizza) mas àquela hora o meu estômago estava preocupado com tudo menos com óleo. O frio continuava a fazer-se sentir e intensificava-se de hora para hora. Fui rapidamente para o hostel, tentando não me perder desta vez.

Cheguei lá relativamente cedo e, como não tinha sono nem me queria deitar àquela hora, decidi agarrar no livro que estava a ler e ir para a sala comum, onde um grupo de benfiquistas discutia futebol. Digo grupo de benfiquistas porque apesar de estarem em grupo, nem todos eram amigos. A discussão aqueceu depois de algumas opiniões divergentes terem sido atiradas para cima da mesa. Eu liguei o meu iPod e pus-me a ler, tentando ignorar o que se estava a passar à minha volta. Por volta da meia-noite vieram dizer que toda a gente tinha que sair da sala, porque fechava àquela hora. Achei estranho, mas não tive remédio senão sair também. Toda esta situação era-me mais ou menos inconveniente, já que eu tinha que carregar o iPhone, que estava a dar as últimas. Procurei uma tomada cá fora e acabei por encontrar uma ao pé dos computadores para os hóspedes. Liguei lá o telemóvel e encostei-me à parede a ler. Entretanto desceram mais portugueses, que vinham com comida do McDonald's pronta para ser comida. Ficaram lá algum tempo sentados a comer e a fazer barulho e depois lá se foram embora. Depois de carregar o telemóvel mais um bocadinho fui ao quarto buscar a escova de dentes, fui até à casa de banho e fui-me deitar. Nos últimos cinquenta centímetros da parede, junto ao tecto, o quarto tinha janelas de vidro que davam para o corredor . Eu tinha reparado nisso à tarde, mas não fiz caso. Com o que eu não contava era que eles fossem deixar as luzes do corredor acesas toda a noite. Lá arranjei maneira de não apanhar com a luz na cara e tentei adormecer com alguma coisa a tocar no iPod. Custou, mas foi.

Outra coisa com que eu não tinha contado, era acordar por volta das cinco da manhã com os selvagens do quarto ao lado a gritar cânticos do Benfica e a bater nas camas de modo a fazer ainda mais barulho. Depois disso foi muito complicado voltar a dormir sem ser por curtos períodos de tempo. Deviam ser cerca de nove e tal da manhã quando pulei da cama para ir tomar o pequeno-almoço. Travei rápido conhecimento com o tipo que dormiu na cama por cima da minha e fomos juntos tomar o pequeno-almoço. Ele era um tipo da minha idade, de Viana do Castelo mas que vivia em Paris há alguns anos com a mulher. Já tinha vidido no Canadá mas foi deportado por um motivo que não me lembro. Estivemos a falar um pouco do jogo mas o tópico corrente foi mais o viver fora de Portugal. A hora do pequeno-almoço estava quase no fim e, como tal, já não havia quase nada. Ainda conseguimos uns cereais com leite mas já foi a muito custo. Melhor que nada, certamente. Depois disso fui à casa de banho lavar os dentes, buscar a mala ao quarto e fazer o check-out. Ele ainda me acompanhou até meio do caminho, onde se ia encontrar com alguém que tinha conhecido no jogo. Despedimo-nos com o aperto de mão da praxe e eu segui em frente. O meu destino? O museu do Manchester United!



Desde que comecei a ir a jogos em Old Trafford que não tive hipótese de ir ao museu do clube, muito porque normalmente vou para ver o jogo e venho-me embora ou a seguir ao jogo ou cedo no dia seguinte. Desta vez, uma vez que o meu voo para Madrid era só à tarde, decidi marcar uma visita para a hora de almoço. Assim ainda teria tempo de vir a Manchester passear um pouco antes de ir para o aeroporto. Apanhei o tram no mesmo sítio do dia anterior e pus-me no estádio muito rapidamente. Dirigi-me até à entrada do museu e esperei pela hora da minha visita guiada ao estádio.
A visita foi interessante, ao longo de uma hora e pouco. Andámos pelas bancadas, vimos o balneário, a sala onde os jogadores relaxam antes dos jogos, o túnel de acesso ao relvado e mais um sem-número de coisas interessantes. O nosso guia era simpático e volta e meia lá fazia um comentário engraçado, que invariavelmente rasgava sorrisos aos participantes do grupo. Parte da missão estava cumprida, faltava agora o museu!




O museu tem muita história e está bem divido, ainda que eu ache que pudesse estar melhor. Tem uma sala especialmente para o Ferguson, outra para o desastre de Munique e várias outras com informação sobre o clube, troféus, antigos treinadores, jogadores, etc. Passei imenso tempo no museu, imenso mesmo. Acho que li tudo de uma ponta à outra e mais tinha lido se houvesse para ler. É difícil não ficar inspirado pela riqueza histórica de um clube como o Manchester United, principalmente a forma como lidou com as mais variadas situações adversas ao longo do tempo. 


Quando saí do museu já passava um pouco da hora de almoço e eu não me quis ir embora sem visitar o Red Café e aproveitar o desconto de sócio. Sentei-me para almoçar (soube-me lindamente poder tirar a mochila!) e pedi o habitual hambúrguer vegetariano, que veio acompanhado de batatas fritas e coleslaw. Decidi mimar-me um pouco e complementei a refeição com um delicioso cheesecake de morango. A refeição estava boa, pelo menos soube-me bem. O espaço é agradável mas, honestamente, creio que comer lá seja uma daquelas situações one off que, muito provavelmente, não irá voltar a acontecer.



Voltei para o centro da cidade já deveriam ser cerca de três horas e tal. Antes das quatro já estava num a caminho do aeroporto, descansado da vida e pronto para, quando lá chegasse, pôr o telemóvel a carregar, uma vez que estava quase sem bateria. O comboio para o aeroporto demora cerca de vinte minutos, talvez menos, mas como, pensava eu, tinha tempo para queimar, decidi ir de autocarro. Sentei-me então no segundo andar de um doubledecker e, passados cerca de vinte minutos, decidi pegar na confirmação do voo só para conferir ao certo a que horas fechava a porta de embarque. Eu tinha ideia que não seria até às sete horas da noite, mas rapidamente me assustei quando percebi que afinal era às cinco horas (dezassete, portanto). Não entrei em pânico, porque já sei que isso não leva a lado nenhum. Tinha então cerca de meia-hora para chegar ao aeroporto. Calmamente levantei-me e desci as escadas para perguntar ao condutor quanto tempo levaria dali até ao aeroporto, ele respondeu que deveria demorar cerca de quarenta minutos. Agradeci a informação, ciente de que estava enfiado num problema, e pressionei o botão para indicar que desejava sair na próxima paragem. Assim o fiz. Mal saí, depois de raciocinar a mil à hora, lá me inteirei que a única hipótese viável seria mesmo apanhar um táxi e, mesmo assim, desejar que não houvesse trânsito e que o aeroporto não fosse muito longe. Perguntei numa loja se sabiam de algum serviço de mini-cabs na área, ao que me responderam que não, num inglês muito esfarrapado. Andei um pouco ao longo da rua até que encontrei uma paragem de táxis. Para tornar tudo melhor a minha bateria acabou precisamente nesse momento, por isso, mesmo que precisasse de fazer uma chamada, não ia conseguir. Esperei cerca de dez a quinze minutos até que finalmente passou um táxi do outro lado da rua que parou ao meu aceno. O trânsito na direcção que eu precisava de seguir era visível. Expliquei rapidamente ao senhor, arábico, o que é que me tinha acontecido e pedi-lhe para tentar chegar ao aeroporto o mais depressa possível. Ele deve ter simpatizado comigo porque deitou o pé no acelerador e lá fomos nós por atalhos e caminhos estranhos mais rápido do que a lei (certamente) permite. Conseguimos chegar ao aeroporto cerca de cinco minutos antes da hora mas eu não tinha dinheiro para lhe pagar e ele não aceitava pagamento por cartão. Deixei lá a mochila e fui a correr à procura de uma caixa, que só encontrei no piso -1. Levantei £20. Voltei para o táxi, deixei a nota com ele e nem me preocupei com o troco. Corri até à segurança onde, felizmente, não havia fila e onde, infelizmente, apanhei um velho chato que insistiu em me revistar a mochila. Mochila esta que estava completamente cheia até cima com roupa para os sete dias em que ia estar fora. Aproximava-se a hora do fecho da porta de embarque e eu estava ali a explicar-lhe que tinha um voo para apanhar, escusado será dizer que ele não se preocupou muito (nada?) com isso. Depois de ele me deixar ir, dei uma pequena corrida até à porta de embarque onde quase pulei de alegria quando vi que o embarque - ao bom estilo da Ryanair - ainda nem sequer tinha começado. Pus-me na fila, organizei a mala e não demorou até que percebesse que o avião ia estar cheio de adeptos do Benfica.


O avião ia tão cheio de adeptos do Benfica que a hospedeira de bordo - portuguesa - só fez o primeiro announcement em inglês, todos os restantes foram em português. Entretanto adormeci, tendo acordado mais tarde com cânticos do Benfica e alguma tensão no ar. Percebi que alguém que estava sentado mais atrás tinha dado uma bolachada ao hospedeiro de bordo, que claramente não tinha noção que a melhor forma de lidar com um grupo de pessoas não é usando a autoridade mas sim o bom senso. Ainda tentou, mais uma vez, mandar calar os adeptos que cantavam, mas a única coisa que conseguiu foi cantassem mais alto. Eu ria-me. A surpresa veio quando aterrámos e, antes de nos deixarem levantar, a polícia espanhola veio a bordo recolher a queixa que o hospedeiro tinha feito. Ficámos cerca de meia hora parados antes de poder fazer alguma coisa até que nos deixaram sair. Mandaram sair a primeira metade do avião, deixando a outra (onde estava o tipo que tinha dado a bolachada ao hospedeiro) lá dentro. Não fiquei para saber o que lhe aconteceu.

Estava com isto meio atrasado para ir ter com a amiga com quem ia ficar nessas duas noites. Pior, não tinha bateria no telemóvel para a poder avisar. Antes de sair do aeroporto, procurei por uma tomada e encontrei-a junto à casa de banho. Certamente haveria sítios melhores mas o tempo não abundava e eu só queria sair dali. Liguei o telemóvel à corrente durante uns quinze minutos, troquei um par de mensagens com ela e pus-me a andar dali para fora. Apanhei o metro e pus-me onde tinha que estar em cerca de vinte minutos. Demorei algum tempo até encontrar o nosso rendez-vous mas lá nos acabámos por encontrar sem problemas.
A casa dela ficava, literalmente, ao fundo da rua por isso não custou muito lá chegar. Depois de trocarmos dois dedos de conversa, tomei um duche e morri de cansaço até que a manhã me acordasse.

MADRID
Acordei relativamente cedo, já completamente descansado do compridíssimo dia anterior. Confesso que, por dentro, até nem estava muito chateado com a greve em Portugal. Assim, sempre poderia matar saudades de Madrid - cidade que adoro desde a primeira vez que lá fui, há muito, muito tempo! Os meus planos eram simples: ir ao Prado, ao Thyssen e, se desse tempo, ao Reina Sofía. Infelizmente só pude cumprir os dois primeiros, ficando o último para uma visita futura. Também tive tempo para um pequeno passeio na Gran Vía, já ao fim do dia, que me soube bem.



Gostei de revisitar os museus, principalmente o Thyssen, onde pude alimentar o meu recente apetite por arte impressionista e expressionista e apreciar alguma pop art. Fiquei fascinado com o trabalho de Richard Estes, que desconhecia por completo. Também gostei de rever no Prado as pinturas negras do Goya, algo que queria fazer há muito tempo. Os dois museus levaram-me o dia inteiro, principalmente o Prado que já é, de si, gigante. Perdi algum tempo nas lojas dos museus e depois de me despachar, fui até à Gran Vía, onde parei no McDonald's para comer qualquer coisa ligeira e ver qual era o plano para o serão. Aproveitei a internet de borla para passar os olhos no Facebook e, depois de trocar algumas mensagens de texto com a minha amiga, ficou combinado irmos jantar a algum sítio ali perto.


Apesar de gostar da Gran Vía, fiquei sem perceber se a prostituição por ali é legal ou não. A quantidade de prostitutas que por ali param a chamar pessoas (homens) com o maior à-vontade do mundo deixou-me ligeiramente chocado. Tentei imaginar o mesmo na Oxford Street e... não, não funcionou. É estranho. Demos algumas voltas até encontrarmos um restaurante típico onde entrámos para jantar. A comida não era má e a decoração era engraçada por isso acabou por se fazer bem a refeição.


No dia seguinte segui cedo para o aeroporto onde, para variar, cheguei mais que a horas! Não demorou até que estivesse dentro do avião a caminho de Lisboa para mais uns quatro dias relaxadamente bem passados, como se quer depois de uma aventura destas e com perfeita noção de que tenho que voltar a Madrid com mais tempo. Me gusta mucho!

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