13 de fevereiro de 2012

Killing Frost - Winter Tour

Alguns dos melhores e mais memoráveis momentos da minha vida até agora foram passados com os Killing Frost, banda que comecei em 2005. Ao longo de duas tours europeias (uma pequenina e uma gigante), duas demos e dois 7" (um deles não chegou a ser lançado) nasceram histórias, muitas histórias mesmo. Tantas histórias que para o verdadeiro espírito delas vir ao de cima, seja preciso estar com o resto do pessoal da banda e respectivos roadies. Fizemos coisas que hoje em dia se calhar já não fazem muito sentido e que muito provavelmente não voltaria a fazer mas isso é o que eu chamo de processo de crescimento, live and learn.

Em Dezembro de 2006, pouco mais de um ano de termos começado a banda e de termos tocado alguns concertos em Portugal, decidimos marcar uma pequena tour europeia de promoção ao disco que tínhamos acabado de lançar. Não me lembro ao certo se estes foram os primeiros concertos do Diogo como guitarrista, mas estou em crer que sim. A tour correu bem e não foi mais que aquilo que nós sabíamos que ia ser: uma autêntica aventura. Seis miúdos enfiados numa carrinha a ir pela Europa fora, com partida no dia a seguir ao Natal, para tocar uns concertos na Alemanha, Holanda e Bélgica só podia mesmo dar por esse nome. Depois de voltar, descrevi sucintamente a experiência e guardei o texto que agora torno público. In Frost We Trust!


DIA 26 DE DEZEMBRO - LISBOA/PORTO, PORTUGAL
Eu e um dos nossos roadies saímos de Lisboa por volta das nove da manhã numa carrinha que tinha sido alugada com o meu cartão de crédito novinho em folha. Na altura tinha um trabalho estável (ainda que fosse um "trabalhinho") e podia-me dar a estes luxos, salvo seja. A viagem foi calma e chegámos ao Porto por volta do meio-dia e tal. Encostámos ao pé de casa do Brandão e carregámos a carrinha com o material. Levámos um backline completo, o que ajudou a que a bagageira da carrinha fosse bem cheia. Saímos do Porto por volta da uma hora de tarde com destino a Heist-op-den-Berg, na Bélgica. Qualquer coisa como cerca de dois mil e tal km de distância, ou vinte e tal horas de viagem, trocando por miúdos.



DIA 27 DE DEZEMBRO - HEIST-OP-DEN-BERG, BÉLGICA
Chegámos à Bélgica por volta das onze horas da manhã. Andámos meio perdidos à procura da terra onde ia ser o concerto e, depois de parar para perguntar, lá nos conseguimos orientar. Ficámos surpreendidos com a nossa média, que foi de vinte e poucas horas sempre sem parar. Apanhámos imenso frio em França, cerca de sete graus negativos e neve, mas dentro da carrinha até que nem se estava assim muito mal. De qualquer modo, chegámos cedo demais à Bélgica que, como grande parte da viagem, estava bastante gelada! Fomos comer o snack típico (e obrigatório) - batatas fritas e molho - num dos muitos sítios que eles têm para esse efeito, e fomos em busca da sala onde seria o concerto. Depois de andar um pouco ao frio lá acabámos por encontrá-la. Era pequena e tinha um bar ao pé da entrada. O palco ficava ao fundo da sala e tinha espaço para vinte ou trinta pessoas à frente dele. Estávamos contentes. Sentámo-nos num sofá que lá havia e acabámos, invariavelmente, por adormecer.



A primeira banda era na onda de Strife, mas não era assim nada de especial. Pelo menos não me despertou muito a atenção. O nosso ser foi ok, nada mau para o novo alinhamento. Esqueci-me de uma parte da letra da música de Agnostic Front que tocámos mas, tirando isso, foi regular. Vendemos alguns discos por isso acho que o pessoal curtiu. Restless Youth, que iam fechar, foi bem fixe. Nessa altura estavam umas setenta pessoas na sala e ela estava pelas costuras.



Depois do concerto ficámos um pouco na sala a beber Chocomel e a galhofar junto à banca do merch, até que o nosso host para a noite (que também era o organizador do concerto) veio ter connosco para seguirmos para casa dele. A casa ficava meio longe do centro da cidade, mas não custou a lá chegar. Eu já o conhecia de uma tour anterior de For The Glory e já tinha lá ficado. Sabia que o tratamento era melhor que bom e que ele era uma jóia de pessoa. Todos tivemos cama onde dormir e oportunidade de tomar um duche. Eu não o fiz, uma vez que rolava uma aposta para ver se eu aguentava até ao fim da tour sem o fazer.


DIA 28 DE DEZEMBRO - AMSTERDAM, HOLANDA (DAY OFF)
Acordámos menos cedo do que queríamos. O Jan serviu-nos um pequeno-almoço brutal que serviu de óptimo tónico para começar o dia. Como não tínhamos concerto neste dia, decidimos ir passear até Amsterdam, na Holanda. Chegámos lá já algo tarde mas ainda deu para passearmos um pouco. Andámos meio perdidos pelo centro, depois de ter ido comer a um Burger King. Fomos a uma loja de discos, onde perdemos algum tempo e gastámos o resto do tempo no Red Light District a andar de um lado para o outro que nem um bando de miúdos que nunca tivesse saído de casa. Nessa noite íamos dormir a Utrecht, também na Holanda, a casa de uns amigos. Saímos de Amsterdam tarde e chegámos lá mais tarde ainda. A casa ficava, literalmente, no meio do nada. À volta só tinha campo. Era uma casa engraçada, com dois andares. Vivia lá algum pessoal de bandas que nós conhecíamos e que tinham sido simpáticos o suficiente para nos oferecer o chão deles pela noite. Montámos o nosso estaminé no chão da sala, que ainda era bastante grande, e fomos dormir depois de reviver uma série de histórias.



DIA 29 DE DEZEMBRO - UTRECHT/EINDHOVEN, HOLANDA
Acordámos meio à pressa porque os donos da casa tinham que ir trabalhar. Ainda tomámos um pequeno-almoço rápido com eles e lá fomos nós. Seguimos para Utrecht, onde nos fartámos de andar. A cidade é muito bonita e tem montes de miúdas giras. Almoçámos num dos muitos snack bars que eles têm e eu aproveitei para comer o meu menu de preferência quando nos Países Baixos: dois kaassouflees, uma Coca-Cola e uma dose pequena de batatas fritas com fritessaus. Mais que delicioso. Saímos para Eindhoven por volta das quatro horas da tarde numa viagem que foi relativamente calma. Demorámos quase mais tempo à procura da sala do concerto do que na viagem mas, felizmente, a calma manteve-se. Fomos parados pela polícia enquanto procurávamos pela sala por estar a flashar carros no trânsito com os posters de algumas das revistas porno que tínhamos roubado em estações de serviço ao longo da viagem. Um dos polícias chamava-se Mike e fazia o papel do polícia mau, o outro era o polícia fixe. Eles foram os dois compreensivos e disseram só para não voltarmos a fazer. Há sempre uma primeira vez para tudo…!



A sala do concerto - chamada The Rambler - era fixe mas o concerto em si nem por isso o foi. Este foi um concerto arranjado à última da hora porque um dos outros tinha sido cancelado. Iam tocar três bandas e a nossa ia abrir o concerto. A nossa prestação foi bem melhor que a anterior, estando muito mais soltos em palco. Infelizmente só apareceram cerca de vinte pessoas para o concerto. Depois de acabarmos o nosso set, fomos dar uma volta para cidade. Foi bom recordar os tempos que lá passei em 2004 e ter noção que a cidade continua igual. Lembrei-me do Pedro e do Congas, com quem lá vivi. Bons tempos! Depois do concerto acabar e de arrumarmos tudo, fomos dormir à casa Laura, em Antwerp, na Bélgica.




DIA 30 DE DEZEMBRO - TIELT, BÉLGICA
Acordámos cedo. Ninguém tomou banho por falta de tempo, uma vez que a Laura tinha que sair de casa igualmente cedo. Tomámos o pequeno-almoço, lavámos a louça e fomos dar uma volta pela cidade. Mais uma vez, fartámo-nos de andar. Andámos pela zona do centro e fomos até ao pontão, antes de voltar para trás. Ainda parámos para comer qualquer coisa antes de seguirmos para o sítio onde tínhamos combinado nos encontrar com os Justice. O sítio era uma bomba de gasolina à saída de Antwerp e de lá fizemos cerca de noventa km até à sala do concerto. Apanhámos um tempo horrível durante a viagem.



Quando chegámos, a sala do concerto estava cheia. Ainda que estivesse cheia de pessoal do beatdown, uma vez que grande parte do cartaz era feito de bandas desse género. Havia muita corrente e boné da Lacoste. Essa onda. Também havia alguns miúdos do hardcore, mas eram uma minoria.
O concerto era numa sala não muito grande e não ia ter palco. Em circunstâncias normais, isso não me faz grande diferença mas, neste caso, tendo em conta que o chão era de ladrilho e estava a chover lá fora, o mais certo era eu espetar-me muito rapidamente. Meu dito, meu feito. Não foi preciso passar da primeira música para que isso acontecesse. Até foi fixe, mais punk era impossível! Quando tocámos só lá estava, obviamente, o pessoal do hardcore, que deviam ser uns sessenta, se tanto. O que vale é que a sala era pequena. Os Justice tocaram depois de nós e o concerto foi bom, ainda que as músicas novas não me atraiam por aí além. Depois do concerto ficámos um bocado cá fora a fazer tempo, uma vez que íamos seguir directamente (entenda-se conduzir noite dentro) para Hamburg, na Alemanha.




DIA 31 DE DEZEMBRO - HAMBURG/KIEL, ALEMANHA
A viagem fez-se bem. Melhor do que aquilo que eu tinha previsto, pelo menos. Fui sempre na frente com o Filipe, a falar de tudo e mais alguma coisa até que, por volta das nove da manhã (depois de cerca de sete horas de viagem), já perto do nosso destino, fomos parados pela mui querida polícia alemã. Eles decidiram implicar que o Filipe estava sob o efeito de anfetaminas e obrigaram-nos a seguir o carro deles até uma esquadra para ele fazer testes de sangue. Tivemos que deixar uma caução que seria devolvida caso o resultado do teste fosse negativo. Eles foram claros o suficiente: se não pagássemos, não saíamos dali. Depois do pequeno empate lá seguimos para Hamburg, onde íamos, finalmente, dormir. Ficámos em casa de um dos miúdos portugueses que tinha vindo connosco de Tiel e que estava a viver em Hamburg na altura. O apartamento era fixe e com uma decoração moderna. Dormimos no quarto, todos mais ou menos ao monte.

Acordámos por volta das três horas da tarde. Dormi bastante bem, eventualmente por causa do cansaço. Tomei banho, algo que não acontecia desde Lisboa, perdendo assim a aposta que tinha sido feito no Porto. O que tem que ser, tem que ser! Fomos dar um passeio pela cidade, onde já se ouviam foguetes ao estrondo por todo o lado. É uma tradição (?) algo estranha esta que têm em Hamburg. Dia 31 de Dezembro significa lançar foguetes de manhã à noite. Haja paciência. Fomos até ao Red Light District da cidade, que é muito mais intenso que o de Amsterdam. Desde edifícios com prostitutas porta sim, porta sim, até troços de rua onde não podem - absolutamente - entrar mulheres. Um mundo completamente aparte.



Pouco depois seguimos para Kiel, onde íamos tocar nessa noite. O nosso concerto foi muito fixe (o melhor da tour, acho eu). Era só punks mesmo à anos 80, miúdas giras, putos straightedge e mais uma molhada de estilos todos à mistura. Quando tocámos estavam cerca de cento e tal pessoas na sala, quando foi a passagem de ano deviam estar cerca de duzentas e cinquenta. O concerto foi meio caótico; logo na primeira música um dos microfones de suporte caiu e partiu-se uma garrafa mesmo à minha frente - bom, muito bom! O pessoal curtiu e nós também. Ainda ficámos lá a curtir até tarde e depois de acabar a festa fomos dormir a casa de um dos organizadores. A casa estava vazia e nós ficámos numa sala que não tinha nada a não ser um computador velho. Lá nos organizámos pelo chão, da melhor maneira possível, e fomos dormir.



DIA 1 DE JANEIRO - DEN HAAG, HOLANDA
Saímos cedo de Kiel, embora só tivessemos uma viagem de cinco horas pela frente. Este concerto - em Den Haag, na Holanda -  era o último da nossa pequena tour de Inverno. Ainda assim, era um concerto importante porque íamos tocar com os Fucked Up. Chegámos a horas à sala, que era uma valente porcaria. Não fiquei grandemente excitado para o concerto depois disso. Depois de alguns problemas com os Fucked Up, nomeadamente o facto de não aparecerem, eles lá apareceram e nós começámos o concerto.


O set foi ok; a sala era muito fraca e o som não lhe ficava nada atrás. Não consegui falar uma única vez entre as músicas por causa dos feedbacks do microfone. Estavam lá cerca de sessenta pessoas e a sala estava cheia. Foi um concerto estranho porque ninguém bateu palmas entre as músicas, achei que seria provavelmente por eles terem lá ido para ver Fucked Up e nos terem achado demasiado rápidos. No fim do concerto várias pessoas vieram-me dizer que tinham gostado imenso do concerto e eu fiquei baralhado. Holandeses d'um raio. Fucked Up foi muito estranho e acabou com o vocalista e a baixista pegados à batatada. Depois do concerto seguimos directamente para Portugal.


DIA 2 DE JANEIRO - LISBOA, PORTUGAL
Chegámos a Portugal às sete horas da noite. A viagem fez-se bem, embora eu tenha vindo o tempo quase todo a dormir. Numa das paragens em França, eles ainda andaram a perseguir coelhos numa estação de serviço mas eu, que estava muito mais para lá do que para cá, não liguei muito a isso. Parámos no Porto para deixar toda a gente em casa e viemos para Lisboa. IFWT!


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