19 de novembro de 2011

Uma manhã de Outono em Paris

Ah, as vantagens de se trabalhar para uma empresa com várias localizações espalhadas por essa Europa fora...! Todos os anos são organizadas duas conferências que visam apresentar o progresso feito durante o ano fiscal corrente e os objectivos/projectos para o seguinte. Nestas conferências marcam presença os gerentes do hostels e bares pertencentes à empresa, que são cerca de 25, e o restante staff da sede, onde eu me incluo como gerente da equipa de reservas.

Neste ano, a escolha recaiu sobre Paris como destino para a conferência. Já fui a Paris mais vezes que o comum dos mortais irá na sua vida, mas nunca me faço de rogado se tiver que lá voltar, principalmente se for com tudo pago, como foi o caso. Uma coisa que nunca fiz foi visitar a cidade uma ponta à outra. Sempre que fui foi muito de passagem, sem dinheiro ou por pouco tempo. Ainda que tenha já planeado colmatar essa lacuna com uma visita a sério no Verão do ano que vem, este foi um bom aperitivo para o que me espera.

Saímos de Londres numa quarta-feira à tarde que já se apresentava escura. Fomos no Eurostar, demorando cerca de 2 horas e meia a chegar à Gare du Nord. O nosso hostel de Paris não fica a mais de 20 minutos a pé da estação e foi essa a escolha unânime de grande parte do grupo, tendo outros demorado o mesmo tempo de metro. Nessa noite ainda consegui fugir com dois colegas do meu departamento para ir ver a Torre Eiffel, que aparentemente tinha um espectáculo de luzes a acontecer às 10 e 11 da noite. Apanhámos o metro e chegámos mesmo a tempo de ver o das 10 horas, magnifique! A indicação que nos deram foi que a melhor vista da torre (e do espectáculo) seria do Trocadero por isso foi para aí que fomos. Se confiro a informação? Sim! A vista é linda e o espectáculo também não deixa nada a desejar. Basicamente é ver a torre a cintilar ao longo de uns 10 a 15 minutos. Claro que não estavamos sozinhos e massas de turistas fizeram questão de nos acompanhar no saborear do momento.


Depois disso descemos as escadas e fomos até à torre, que não fica a mais de 10 minutos a pé do Trocadero. Como já era de noite, o caminho não era assim muito interessante. Deu para apreciar quão monumental é a torre e ficar um bocado nas redondezas a tirar fotos. Depois disso, ligeiramente cansados e sem conseguir perceber para que lado eram os Champs Elysees, decidimos voltar para o hostel, já que tinhamos comida de borla no bar e não valia a pena estar a comer fora. Só lá chegámos perto da meia-noite, o que significou que já não chegámos a tempo de apanhar a cozinha aberta. Acabámos por ir a um kebab lá ao pé que, aparentemente, era muito bom.

O tal kebab era um restaurante turco daqueles normais, muito habituais em Paris. Claro que foi um problema pedir a comida já que o senhor percebia muito pouco ou nada de inglês. Claro que isso não impediu que o serviço fosse simpático e atencioso. Para nossa sorte, estava lá um casal também a pedir e o rapaz até sabia falar inglês (mais ou menos...) e conseguiu explicar ao senhor que eu queria alguma coisa vegetariana. Optei por uma "pizza" que acabou por ser revelar ser uma espécie de massa com queijo lá dentro. Não era mau, mas não era uma pizza e a dose não era nada de bradar aos céus. Acabei por pedir uma dose de batatas fritas, que isto assim não ia lá. Reguei tudo com uma Orangina, como habitualmente faço em França e daí seguimos para o bar de onde, umas Coca-Colas depois, segui directamente para a cama.

O dia seguinte foi calmo, ocupado pela conferência durante a manhã e várias actividades durante a tarde. Foi um dia bem passado mas bastante cansativo. Acabámos o dia com um (imensamente bem servido) jantar no nosso novo restaurante e daí fomos para o hostel, onde estava a acontecer uma festa qualquer de estudantes que encheu por completo o club. Fiquei cá em cima no bar algum tempo na conversa até que me fui deitar, mais tarde do que tinha previsto, já que no dia a seguir queria dar corda às pernas para ir dar um passeio que me ajudasse a matar esta vontade de voltar a viajar.

Não acordei tão cedo como queria, muito porque estava confortável e sempre que acordava com o despertador a tendência era virar-me para o outro lado até que ele tocasse de novo. Lá saí da cama por volta das 9 e meia, quase directamente para o bar, onde, pensava eu, o pequeno-almoço só era servido até às 10 horas. Estava enganado, era até mais tarde. Claro que não fiquei muito chateado com isto, foi da maneira que saí da cama ainda a horas decentes. Agarrei em dois pedaços de baguete, manteiga e sumo de laranja e fui-me sentar ao pé do resto do pessoal da empresa. O nosso comboio só tinha partida marcada para as 15:15 por isso estava a apontar estar na Gare du Nord por volta das 14:00, o que ainda me dava umas boas 4 horas para passear a pé pela cidade. Tinha visto no dia anterior que a Sacre Coeur era relativamente perto de onde estava por isso tornei esse o meu destino. Depois logo veria o que fazer.

Saí do hostel com a mochila às costas depois de ver, entre um piscar de olhos, as direcções até à Sacre Coeur. Tinha só que seguir até ao próximo cruzamento e depois era ao fundo de uma avenida, ainda ligeiramente comprida. Devo ter demorado cerca de meia hora a lá chegar, passo não muito rápido mas também não lento. Fui a observar a cidade, desde a arquitectura às pessoas e tentando perceber porque é que, ainda que goste de Paris, não creio que chegue aos calcanhares daquilo que Londres representa para mim. Em termos de arquitectura, Paris é uma cidade muito clássica e bonita com avenidas largas e compridas que derretem qualquer coração por duro que seja. Não há como enganar no que toca à beleza da cidade embora o ritmo da mesma, a meu ver, deixe algo a desejar. Tanto há ruas com imenso movimento como outras completamente desertas. A ajudar à festa temos o factor insegurança que, sendo quase nulo no centro de Londres, me deixa algo apreensível em relação a Paris como cidade onde eventualmente viveria.

A Sacre Coeur fica no topo de uma colina, algo que eu obviamente ignorava. Tive o azar de escolher a subida sem escadas, que me valeu um rápido flashback de San Francisco onde nos cansamos a subir mesmo que o ritmo seja lento. Nada que eu não aguentasse e que um par de minutos a respirar fundo não resolvesse. Dei uma volta lá em cima e aproveitei para tirar umas fotos. Dirigi-me para a parte da frente onde me deixei absorver pela vista e, de imediato, dei por bem empregue o esforço que fiz para subir a colina, muito ao contrário do que sucedeu no Kerry Park de Seattle. A vista é lindíssima e, ainda que houvesse uma ligeira neblina sobre a cidade, a vista estava bastante desimpedida. A zona estava mais que repleta de turistas mas nem por isso deixei que isso me impedisse de parar um pouco junto à vedação a saborear a vista na forma em que ela me estava a ser servida. Notei algumas semelhanças com a cidade que me viu nascer, Lisboa, estando a maior diferença na cor dos telhados. Desci as escadas calmamente, aproveitando curtas paragens para tirar mais fotos.




A zona de Monmartre é, aparentemente, uma das zonas mais típicas e boémias de Paris. Confesso que caí lá mais ou menos de pára-quedas, já que o meu plano inicial era só ir à Sacre Coeur. Calhou ser logo ali ao fundo das escadas e a impressão que trouxe comigo não foi a melhor, tenho que confessar. Primeiro vem o excesso de turistas, com que eu posso bem viver desde que não seja dentro de museus. Depois temos os vendedores ambulantes que, literalmente, não descolam. Ainda tive que me abanar um par de vezes para me tirarem as mãos de cima. Em terceiro temos o sempre-chato dono/empregado de restaurante com o menu na mão a convidar para entrar e por fim, os grupos de romenos mafiosos que montam as suas várias banquinhas com o jogo do "adivinha por baixo de que copo é que está a bola" que é uma mentira e um dos scams mais populares por estas bandas. Porquê? Perguntam os mais desatentos. Porque quem está a pôr dinheiro e a ganhar é cúmplice do tipo que vira os copos. Manhoso. Claro que eles usarem sempre notas de €50 não ajuda muito. Há algum urso que deixe €50 num jogo de rua? Se houver bem que merece perder esse dinheiro. Parei para comprar um postal e pus-me a andar dali para fora.

Decidi seguir em frente, já que não sabia para onde estava a ir (afinal de contras sou especialista nisto) e acabei por ir parar aos jardins do Louvre cerca de 30 minutos depois. Até lá chegar fui cheirando a cidade e observando as pessoas que iam passando por mim. Por um lado tenho que admitir que no que toca a indumentária mais finória, os franceses capricham, deixando os ingleses a algumas milhas de distância. Claro que, por outro lado, no que toca a um estilo mais jovem e fresco os ingleses dão goleada. Paris é um bom símbolo de classicismo enquanto que Londres seria o mesmo relativamente a modernidade. Ambos diferentes, ambos bons. Dei um pequeno passeio pelo Louvre com a habitual foto à pirâmide. Andei um pouco pelo jardim e saí em direcção ao rio que, como sempre, não desapontou em beleza. Há algo de especial sobre passear à beira rio em Paris. A vista para o outro lado é absolutamente arrebatadora e não há mau tempo que impeça isso. Parei num mapa para ver em que rua teria que virar já que, tendo em conta que se aproximava lentamente a hora do check-in, tinha que começar a pensar em dirigir-me para a Gare du Nord.



Era então a rua de Saint Dennis que eu procurava. Andei cerca de 10/15 minutos em linha recta a absorver a vista até que atravessei para o outro lado da estrada, não fosse perder a rua. Dei com ela facilmente e, sem saber que distância iria andar, pus-me a caminho. Claro que a rua acabou por ser BEM mais comprida do que eu esperava mas como ainda tinha algum tempo não fiquei grandemente preocupado. A rua em si, ainda que longa e com diferentes disposições no seu comprimento, não fugia muito a outras partes menos boas da cidade em termos de ambiente com o bónus acrescido de, em algumas partes, ter bordéis e prostitutas na rua. Ainda houve uma ou outra que sorriu e me chamou mas eu, claramente, não estava para aí virado e com um sorriso simpático de retorno continuei a minha caminhada como se nada fosse. A fome começava a apertar e depois de passar por mil casas com paninis de devorar com os olhos decidi prontamente o que iria comer ao almoço. Isto não aconteceria até chegar perto da estação, onde parei num café pequeno onde, surpreendentemente, a senhora falava inglês perfeitamente. Decidi cometer uma loucura e juntar 6 euros aos 5 que já tinha gasto até então, desde a minha chegada dois dias antes. Esta viagem a Paris foi um autêntico rombo no orçamento...! Pedi um panini de queijo de cabra, que estava óptimo e era de um tamanho... desumano, uma Cherry Coke (não, não tinham Dr. Pepper), umas batatas fritas de pacote e uma fatia de tarte de amêndoa. Sentei-me a comer no segundo andar em frente a um senhor que fazia questão de ter tanta maionese na taça como salada, e cerca de 20 minutos depois já estava despachado.


Encontrei-me com o resto do pessoal na entrada da estação à hora combinada e fizemos o check-in juntos, que correu calmamente. A viagem de regresso foi relaxada e num piscar de olhos estavamos a chegar a Kings Cross, prontos a abraçar o fim-de-semana. Paris é uma cidade lindíssima e, ainda que não acredite que fosse completamente feliz a viver lá, tenho a certeza que nunca me cansarei de a visitar.

2 comentários:

Unknown disse...

tens de passar por montmartre de noite;) vais gostar.

também me fartei de andar a pé, no mapa parece sempre que é tudo perto, mas afinal é apenas 'fácil'...e tendia a confundir uma coisa e outra. ter que seguir sempre pela mesma avenida não quer dizer que seja perto nem rápido já que as avenidas são enoooooooooooooormes...mas, vale a pena. ficamos a conhecer muito melhor a cidade.

Conhecendo ambas as cidades, eu também me imaginava a viver em Londres mais facilmente do que em Paris. Mas tenciono regressar ás duas muitas vezes e investigar melhor essa situação. eheh.

Leandro Afonso disse...

Só troco Londres por Paris pelas pessoas que conheço, mas Paris fascina-me muito. Tens razão no que toca ao estilo/roupas e também adorei a arquitecura da cidade.

Não chegaste a ir ao Champs Elysée? Ao saíres do Sacrée Coeur apanhavas o metro na linha azul e ias directo pro Arco do Triunfo e descias a avenida toda, no final na Praça da Concordia andavas mais um pouco e estavas no Louvre, teria sido um óptimo passeio! Até podias ter passado por cima do túnel onde houve o acidente da Lady Di. Devia ter-te dito isto antes, acho que tinhas gostado muito, mas deixa lá, no Verão vingaste heheh sabes como
é a melhor maneira de ver o show de luzes da Torre Eiffel? Enquanto andas nos barcos pelo Sena ;)

Em relação á segurança, sinto-me tão seguro quanto em Londres, mas há que evitar alguns sítios realmente, coisa que em Londres é raro isso acontecer.