12 de abril de 2010

Nova Iorque - Dias 4, 5 e 6

DIA 4 - 27/02/10
O dia não começou cedo, saímos do hostel por volta da hora de almoço e folgámos ao reparar que neve era já coisa do passado. Brilhava um sol frio que mesmo não aquecendo nos deixou mais quentes por dentro. A nossa missão para a manhã era encontrar um sítio onde pudéssemos imprimir os bilhetes para o jogo dos Knicks contra os Grizzlies de Memphis, que aconteceria nessa noite. Perguntámos no hostel se conheciam algum sítio onde o pudéssemos fazer e depois de umas indicações longe de congruentes lá partimos na direcção indicada. Depois de andarmos cerca de 10 minutos parámos numa bagel shop situada na terceira rua e que aparentemente (dizem eles na montra) é um clássico no que toca a bagels. Pusémo-nos na fila, que nem por isso era curta e volvidos 5 minutos já cá estávamos fora a devorar os bagels. Comparativamente a Londres há que dizer que em Nova Iorque eles dão esteróides aos bagels, são grandes mas grandes. E claro, como não podia deixar de ser não são nada comedidos no que toca a pôr o cream cheese. Ainda que tenha um relativo cuidado com o que como fui para Nova Iorque com a mentalidade que só se vive uma vez, ora não é verdade? Daí continuámos a nossa jornada a pé indo perguntando aqui e ali se alguém nos podia orientar, sem sucesso. Parámos num pequeno super-mercado para comprar algo para beber, já que o bagel era bom mas obviamente seco. Foi aí que ela sorriu para mim, pela primeira vez, desde o frigorífico e eu não lhe consegui resistir. Vanilla Coke para o André, por favor. Prosseguimos descontraídamente e ainda parámos na Forbidden Planet para ver bonecada antes de finalmente darmos com um Staples já à entrada de Times Square. Impressos os bilhetes e com o Miguel finalmente relaxado decidimos seguir rumo ao Central Park, com paragem na loja do MoMA e na loja da NBA, algo que já tinhamos querido fazer no dia anterior mas que a neve gentilmente fez questão de não nos deixar.

Começámos então pela loja da NBA, que é um mundo à sua escala. A loja é gigante e tem tudo e mais alguma coisa sobre o desporto. O Miguel acabou por comprar lá algumas coisas que lhe interessavam mas eu deixei-me ficar quieto, já que basket nunca foi um desporto da minha preferência. Eu é mais futebol. Uma coisa interessante relativamente aos empregados de loja americanos é que tem sempre um sorriso na cara e são sempre super-prestáveis. Se calhar até demais, mas isso é outra conversa. Não é incomum ao pagar numa loja, o empregado perguntar por quem fomos servidos, o que me leva a deduzir que os empregados assim o são apenas por uma questão de regra. Ainda assim fui quase sempre impecávelmente servido e não me importava nada que tais regras dessem o salto para este lado do oceano. Soube na altura via SMS do meu pai que o Manchester City tinha enxovalhado o Chelsea em casa e regozijei com tal facto. Seguimos para a loja do MoMA, onde vimos vários livros e outras coisas típicas de loja de museu antes de continuarmos em direcção ao Central Park e pararmos numa pizzaria para, finalmente, comermos uma fatia como deve ser. Assim foi, fatia gigante de margherita e uma lata de Dr. Pepper.



Caiu que nem ginjas e acabámos por lá ficar sentados algum tempo, visto que o meu pé continuava algo limitado embora já não doesse tanto a caminhar. Andar sem chuva ou neve também ajudou a não agravar a situação. Tínhamos ainda algumas horas para queimar antes do jogo, que começaria por volta das 7. Apontámos estar no Madison Square Garden pelas 6 para dar tempo de manobra e seguimos para o Central Park, para aproveitar a bonita tarde de inverno que esperava por nós.
Não estranhei que o parque estivesse cheio de gente, desde turistas a locais e passando pelo sempre-presente jogger. O cenário era lindo pois a neve ainda não tinha tido tempo de derreter e cobria literalmente todo o parque. O lago estava gelado e todo o cuidado era pouco ao caminhar por baixo das árvores pois volta e meia caíam os excessos de neve acumulados nos ramos mais cimeiros.



Andámos calmamente por lá a saborear a boa atmosfera que se fazia sentir e parámos numa zona do parque onde havia todo (não era bem todo, é só para dar ênfase) o tipo de entretenimento possível e imaginário. Ficámos ambos absortos, ainda que por coisas diferentes. Eu não consegui tirar os olhos de três indivíduos que, literalmente, faziam o que queriam de um disco-voador. Eles eram piruetas, chutos, trocar de mão, toques de cabeça. Tudo! Confesso que até então o mais arrojado que pensei que se conseguia fazer com um disco-voador era pô-lo a girar na horizonal em cima de um dedo. Demais. O Miguel por seu turno ficou de olhos postos num homem que fazia bolas de sabão de um tamanho ridiculamente gigante comparando com as da nossa infância. Eram grandes o suficiente para caber um miúdo de 3 anos lá dentro, ainda que apertado. Depois de umas boas dezenas de minutos a caminhar pelo parque e depois de vermos construções de neve tão originais como a Estátua da Liberdade ou um urso sentado, seguimos rumo ao jardim (entenda-se Madison Square Garden), que não ficava excruciantemente longe dali.



Chegámos lá cedo demais, dado que as portas só abriam as 6:30, e fomos fazer tempo para a Borders, que ficava no rés-do-chão do edíficio. Sentámo-nos, como muitas outras pessoas, no chão de um dos corredores da loja e lá ficámos a descansar enquanto fazíamos tempo. Aproveitei para massajar ligeiramente o pé, que por esta altura estava algo inchado e a causar uma dor, que ainda que fosse ligeira, era desagradável. Tive tempo de ver as fotos que tinha tirado até então enquanto o Miguel lia algumas revistas que tinha trazido de outra parte da loja. Chegada a hora pusémo-nos a andar para a arena que estar sentado no chão é muito giro mas deixa o rabo quadrado.

Os nossos lugares não eram os melhores, comprámos os bilhetes mais baratos e não esperávamos grande coisa. Subimos os cinco andares pelas escadas rolantes e rapidamente descobrimos a nossa secção. A vista era boa e para o preço que os bilhetes custaram não havia mesmo motivo para queixa. O ambiente na arena era bom e melhorava à medida que ia enchendo. O cheiro a comida no ar lembrou-me das várias bancas que já tinha visto nas ruas a vender pretzels e como andava com ganas de experimentar um, achei que a ocasião era ideal e lá fui até ao bar. Fiquei-me pelo pretzel e pela Coca-Cola pequena, que era sem exagero do tamanho de uma grande em qualquer parte da Europa. O pretzel revelou-se demasiado salgado para o meu gosto mas ainda assim soube-me bem. Não consigo conceber comida pronta-a-comer com uma cobertura de sal grosso, mas devo ser só eu.



A arena ainda estava a encher quando as cheerleaders subiram ao campo para fazer a sua dança seguidas de um miúdo que foi cantar o hino nacional. É engraçada a forma como os americanos tem sempre que adicionar mais qualquer coisa a tudo, não conseguem ficar pelo simples. Estabelecendo a comparação óbvia com o futebol, quando se vai ao estádio tem-se duas partes de 45 minutos e eventualmente uma macacada irrelevante nos 15 minutos do intervalo e é isso. Eles não, têm que ter pessoas a cantar, dançarinos, homenagens, etc, etc. Tem graça, mas confesso que me cansa um bocado. Antes de começar o jogo esclareci um par de dúvidas que tinha em relação às regras do desporto, já que última vez que tinha pensado nisso teria sido há longos anos no ginásio do Colégio Valsassina.
Entretanto o jogo começa e a loucura instala-se. Aparentemente o Madison Square Garden é dos poucos (se não o único) estádios onde ainda se usa um orgão como 'antigamente'. Sim, aquele turururu-turu clássico dos jogos de basket é feito na hora. O senhor do órgão passa o jogo a incentivar a equipa através de samples que puxam pelo público. A título de exemplo, quando a equipa está numa situação de defesa, os ecrãs mostram um D seguido de uma cerca (fence, em inglês) e o público invariavelmente vai gritar DEFENSE repetidamente e em alto e bom som. Foi um jogo entretido e onde os Knicks acabaram derrotados pelos Grizzlies. Deu para ver um par de afundanços e triplos e pelas quase duas horas que durou, ser americano com os americanos. Go Knicks!

Fomos jantar ao ESPN Zone em Times Square onde dois ecrãs gigantes mostravam hockey no gelo (jogo de terceiro e quarto lugar dos Jogos Olímpicos de inverno, salvo erro) e um jogo de basket universitário que era, sem exagero, a razão da presença de 80% das pessoas que estavam na sala. Não estou a exagerar ao dizer que o estádio desse jogo tinha mais gente que o do Madison Square Garden e a forma louca como eles vibravam pelas equipas era de outro mundo. Comemos uma bela refeição, como de costume, e seguimos até ao hostel já que o Miguel ia-se embora nessa noite e ainda tinha que dar um jeito à mala.

Não era tardíssimo quando lá chegámos embora não fosse de todo cedo. No nosso quarto estavam duas miúdas completamente bêbedas que, vim depois a saber através de uma conversa, eram ambas au-pairs escandinavas numa terra localizada a um par de horas de Nova Iorque. Bom, o quarto estava num estado lastimável e mal o Miguel arrumou a mala descemos até à sala de convívio para conviver um pouco. Voltámos ao quarto para pegar as malas e despedimo-nos até uns dias depois, já em Londres. Eu lavei os dentes e deitei-me, estava determinado a fazer o máximo do dia que seguia. Fui acordado por volta das 2 ou 3 da manhã pelo resto das escandinavas (na altura ainda não sabia que havia mais duas, prefazendo um total de quatro) ao que se seguiu uma conversa ligeira, ainda que interessante. Depois disso já não havia retorno, o sonho tinha vindo para ficar até o sol nascer de novo.

DIA 5 - 28/02/10 
Acordei cedo porque queria encontrar um pub que fosse transmitir o jogo do United contra o Villa para a final da Carling Cup. Sabia que havia um lá perto e fui até lá para ver se eventualmente estariam a dar futebol tão cedo numa manhã de domingo. Infelizmente não estavam por isso voltei para o hostel onde fiquei a seguir o jogo via texto pelo site da BBC enquanto organizava a minha vida para os próximos dias. Felizmente ganhámos 2-1, e eu com isto já tinha os planos feitos. Saí de seguida em direcção ao MoMA (Museum of Modern Art) que era, de longe, o museu que mais estava curioso em visitar. Tendo os meus períodos de arte de eleição acontecido entre as décadas de 50 e 70, não era de estranhar que estivesse com altas expectativas. Saí numa estação de metro algumas ruas acima do museu porque queria respirar um pouco de manhã na cidade antes de me enfiar dentro de mais um edífico. Até lá chegar, e caminhando lentamente pelas ruas, passei pela Tiffany's, pela Trump Tower e pela sede da Coca-Cola.  Lá chegado, optei por não visitar a exposição temporária do Tim Burton por não ser fã dele ou dos desenhos que faz. Sempre me passou um pouco ao lado tudo aquilo que fazem dele. A organização do museu é impecável com as salas divididas, ordenadas e númeradas por estilo. Foi ao longo de dois andares que me perdi por algumas horas e onde vi algumas das minhas obras preferidas. Claramente um dos pontos altos de toda a visita e certamente um local a visitar de novo.



Já passava da hora de almoço e tinha a barriga a dar horas, perto do museu havia um Subway e sendo eu um ávido fã do delicioso Veggie Patty, não iria acontecer ir-me embora de Nova Iorque sem lá comer um par de vezes. Havia uma promoção (Footlong Nation) que oferecia qualquer Footlong (as sanduíches grandes) por $5. Claro que não era bem os $5 porque em Nova Iorque, e aparentemente no resto do Estados Unidos, a todos os preços se tem que acrescentar uma taxa local que muitas vezes torna o barato em não-tão-barato. De qualquer forma, pedi a minha sanduíche e fiz dela um menu, com biscoito. Ao contrário de cá, o copo lá é um balde e em vez de um biscoito dão-nos dois. Não percebo qual é a necessidade de ter um copo tão grande, já que se pode encher as vezes que se quiser mas agradeço do fundo do meu coração o segundo biscoito. Delicioso. Já aconchegado e com um biscoito guardado para comer mais tarde segui para o metro, a próxima paragem era o Whitney Museum of American Art.



O museu fica localizado no Upper East Side (a zona fina) e deixei-me absover um pouco pela área antes de ir para o museu propriamente dito. Claro que entretanto ainda me perdi mas uma vez orientado foi fácil encontrar o museu. Arquitecturalmente irrepreensível, o edíficio teve que valer pela exposição, que a mim me disse muito pouco. Eventualmente será falta de sensibilidade da minha parte mas arte moderna abstracta é algo que não puxa por mim e tirando uma dúzia de quadros não houve nada que me enchesse o olho. Depois de sair caminhei pelo Central Park até ao Guggenheim, que fecharia brevemente. Não estava particularmente interessado na exposição que eles exibem pois só tem uma mão cheia de quadros que realmente me interessam por isso decidi lá ir para ver o edíficio, que diga-se, é lindo. Mais lindo ainda por estar onde está e destoar completamente da arquitectura que o rodeia. Ainda que fosse proibido tirar fotos dentro do museu, pedi para entrar para ver como era por dentro. Dei uma volta pela loja e segui para o metro, sem grandes pressas já que o Upper East Side é uma belíssima zona para se passear.



Daí, e dado que já estava a escurecer, decidi ir ver duas exposições que me interessavam relativamente e que eram as únicas abertas até mais tarde a um domingo, fechando apenas às 8 horas. Ambas as exposições eram organizadas pelo Discovery Channel e vim a saber depois que uma delas acabava nesse dia. Sorte, ein? A primeira que vi foi a do sempre grande génio Leonardo da Vinci. Ao início somos sentados numa pequena sala a ver um vídeo que nos introduz espacialmente no universo de da Vinci, a certa altura no vídeo o narrador começa a falar do escritório onde da Vinci trabalhava e desenvolvia os seus projectos, convidando-nos a também fazer parte dele. Nesta altura o ecrã desaparece, dando lugar a uma abertura para uma recriação do escritório e aí começa a exposição. Achei muito boa a entrada e estava excitado para o resto. Deixei-me ir ao sabor das imagens e reconstruções em 3 dimensões de muitas das obras de da Vinci. Onde perdi mais tempo foi a ler sobre os planos que ele tinha para a cidade ideal, que nunca chegaram a ser desenvolvidos e a observar as maquetes que recriam as invenções dele. Senti-me um pouco como um miúdo a quem dão um gelado num dia quente de verão.
Seguidamente e dado que se situava numa outra sala do mesmo edíficio fui ver uma exposição que não só me interessava, como me deixava relativamente excitado com o prospecto de a ver. Já desde pequeno que nutro algum fascínio pelo desastre que vitimou o Titanic, não há nenhuma razão aparente nisto, é apenas algo que me desperta interesse. Esta exposição prometia levar-nos através de grande parte dos artefactos recuperados do Titanic e também ao longo da sua história. Isso era suficiente para mim e longe estava eu de pensar que ia ver o que vi. Havia corredores recriados como sendo do navio, suites recriadas consoante a classe do passageiro e como jóia da coroa, para um autêntico deleite visual,  havia uma reconstrução à escala real da escadaria que dava acesso ao salão (feita famosa através do filme de James Cameron). A história do Titanic é uma história triste mas também uma lição importante para as gerações que se seguiram, talvez seja isso que me fascina. Antes de sair comprei na loja da exposição a réplica de uma chávena da White Star Line, igual às que foram usadas no navio.

Ainda em Times Square, onde tinha visto as exposições, decidi ir atravessar a ponte de Brooklyn. Fui de metro até lá mas não sendo óbvio como se faz, acabei por me perder mais em baixo, junto ao rio. Ainda dei lá umas voltas à procura de onde seria a entrada pedonal mas não encontrei nada e decidi voltar para o hostel onde, depois de consultar brevemente o e-mail, fui dormir.

DIA 6 - 1/03/10
Acordei cedo, e com cedo digo cerca de 9 da manhã. Estava predisposto a fazer o máximo do dia e tinha a agenda cheia. Saí do hostel e parei no Nathan's que lá havia ao lado para tomar o pequeno almoço. Pedi um especial que eles lá tinham que consistia de dois ovos mexidos (na chapa, adoro) dentro de um bagel. Claro que cheirava a colestrol e calorias por todo o lado mas estar na América e não ser americano decerto que dá direito a multa.



Aproveitei para dar uma olhada ao mapa e pus-me a andar para o Empire State Building. Dado que já tinha visto Nova Iorque 'de cima' à noite, não me queria embora sem a ver também de dia. Como era de esperar, estava imensa gente na fila, que se situa no segundo andar. Curiosamente (ou não) toda a gente tem que passar por segurança não muito diferente da dos aeroportos, o que explica a longa demora para conseguir entrar lá dentro. Eles publicitam-se como sendo o único edífico em Nova Iorque com vista de 360º desimpedida sobre a cidade e eu vou conferir o deslumbre que é ver a cidade lá de cima. Passei um bom momento a contemplar a vista e a tirar fotos, muito como o resto das pessoas que lá estavam. A vista para sul, com a zona financeira e o fim da ilha em vista, foi de longe a minha preferida. Tinha lido que havia no rés-do-chão do edíficio uns painéis a retratar as 7 maravilhas do mundo, tendo o Empire State como oitava. Era uma das coisas que mais queria ver (sendo as supracitadas outro dos meus fascínios, sem grande motivo aparente) e que fiquei bastante triste ao saber que tinha sido retiradas enquanto as obras de restauro são feitas. Vai ter que ficar para a próxima.





Seguiu-se uma curta caminhada até ao Madison Square Garden onde planeava fazer a visita guiada. Tendo lá estado um par de dias antes, não podia estar mais excitado. Sempre adorei ver como é que as coisas funcionam. Já que tinha que esperar um pouco até à hora da visita, aproveitei para limpar os bolsos de folhetos, bilhetes usados, papéis varios, recibos e eteceteras e tais. Pouco tempo depois e já mais leve, começou a visita. A guia era muito simpática e dizia conhecer o Garden como a palma da mão. Verdade ou não, certo é que lá nos levou por sítios que de outra maneira não teríamos hipótese de visitar. Desde bastidores a balneários, suites VIP e outros que tais. Enquanto visitávamos uma das bancadas e ela nos contava que a sala era polivalente (tendo duas equipas de basket e uma de hockey no gelo residentes para além de ser sala de espectáculos) e que era possível mudar a arena para qualquer uma das configurações em cerca de duas horas. É um dado interessante, principalmente se tivermos em conta o tamanho do Garden. Desta feita tinham montado um court de ténis para um jogo que se iria disputar nessa noite. Estava então a treinar no campo, não mais, não menos que a Venus Williams. A guia não conseguia esconder a excitação por tal facto e ficámos por ali, perto do campo, mais uns minutos enquanto ela ia contando histórias do Garden e espreitando a Venus. Antes de irmos embora ainda passámos por um corredor onde estão vários posters de concertos que aconteceram lá e achei curioso descobrir que tocaram lá todos os Beatles mas nunca enquanto Beatles. Ah!



A visita durou cerca de uma hora e à saída fui até às bilheteiras ver se ainda havia bilhetes para o jogo da noite. Ténis é provavelmente o desporto que mais me interessa a seguir ao futebol, ainda que não siga torneios ou jogadores com afinco. O alinhamento para essa noite prometia, para além da Venus, ia jogar também a Kim Clijsters (de quem já era fã), a Svetlana Kuznetsova e a Ana Ivanovic (que iria substituir a outra irmã Williams, que se tinha lesionado). O evento denominava-se Billie Jean King Cup e era patrocinado pelo BNP Paribas com o objectivo de juntar as quatro vencedoras do Grand Slam para um showdown. Prometia portanto. Consegui um bilhete relativamente barato num lugar relativamente bom e estava algo excitado com estes planos de última hora para a noite.



Saí do Garden em direcção ao metro que já tinha prometido a mim mesmo que nesse dia iria ao Bronx Zoo. Era uma das coisas que tinha que fazer, ainda que jardins zoológicos não sejam o meu forte. Queria também ir ao Bronx ver como é e eventualmente perder-me um pouco, são inúmeras as bandas que oiço que baseiam muita da sua temática nesta parte da cidade. A diferença entre Manhattan e o Bronx é imesurável: prédios de 4 ou 5 andares, graffitis nas paredes, as ruas mais apertadas, menos pressa e movimentação e pessoas completamente diferentes. A primeira impressão foi boa, quando viajo prefiro estar onde os turistas não estão para sentir a cidade como ela é. Ainda tive que caminhar um pouco até ao jardim zoológico mas o sol radiante que se fazia sentir tornou a caminhada num passeio bem agradável.




Calculava que o jardim zoológico fosse grande, mas não pensei que fosse gigante ao ponto de ter que escolher o que queria ver para não ter que passar lá o dia todo. Repito que brilhava um sol lindo, que tornou o passeio muito mais agradável, no entanto, não foi até depois de já ter entrado que o meu raciocínio começou a fabricar a ideia de que talvez não fosse a melhor ideia do mundo ir a um jardim zoológico um par de dias depois de ter caído um nevão. Rapidamente confirmei que realmente a ideia não tinha sido a melhor mas a realidade é que até estava a saber bem o passeio e uma vez que já lá estava, decidi fazer o melhor da visita. Via-se pouca gente, mas havia visitantes pelo parque quase todo. Comecei por ver uns búfalos que descansavam e segui para um edíficio com pássaros onde, nalgumas salas, me veio à memória o filme de Hitchcock, tal era a liberdade com que eles andavam à nossa volta. Daí fui dar uma espreitadela aos tigres e acabei por conseguir ver dois que apanhavam sol no meio de muita neve. Seguidamente fui ver o urso polar que, claramente, não cabia em si de contente. Ele era rebolar na neve, mergulhar no lago, brincar com os visitantes... trinta por uma linha. Já os ursos pardos andavam cá fora mas mais a apalpar terreno do que a saborear a neve.




Daí andei e andei e andei e estava tudo cheio de neve, principalmente na parte que pretendia emular África onde, obviamente, não se via alma viva. As girafas estavam num edíficio aparte e decidi ir lá dizer olá, porque não? Simpatizo com o animal. Achei o sítio demasiado pequeno para elas mas creio que só as tenham posto ali por causa da neve. De qualquer forma, ainda que seja por motivos de conservação de espécie acho um bocado cruel toda a ideia por trás dos jardins zoológicos. Vir a este, que foi o primeiro em largos anos, apenas ajudou a reforçar essa ideia. Bom, ainda vi uns macacos, uns lagartos, umas focas e depois vim-me embora, satisfeito.

Decidi almoçar pela zona e parti em busca de um sítio que me atraísse. Não encontrei nenhum Subway (a escolha barata e óbvia) e depois de muito andar acabei por parar numa pizzaria que aparentemente, segundo um poster à entrada, é recomendada pelo Obama e considerada a melhor de Nova Iorque em 2007. Não há como enganar, pois não? Entrei e pedi uma fatia de margherita com cobertura de queijo mozzarella que acompanhei com uma Fanta de ananás e complementei com uma fatia de cheesecake de morango como nunca antes tinha comido. Sentei-me e aproveitei para descansar um bocado já que ainda não estava, nem de longe, recuperado do pé. Apesar de já não doer tanto, ainda me custava a andar e coxeava um pouco. Como tal, evitei andar muito e por longos períodos de tempo sem descansar para não agravar a situação. Já mais reconfortado e depois de uma consulta ao guia, parti em direcção ao metro, que ficava no fim da rua. A exposição Bodies estava também incluída no NYP e dado que grande parte dos museus fecha à segunda-feira, achei que seria uma boa forma de encher o tempo até ir para o Madison Square Garden.




O meu plano inicial era ainda ir ao hostel tomar um duche e trocar de roupa antes de ir para o Garden mas dado que a viagem de metro do jardim zoológico até à zona da exposição demorou cerca de uma hora (são em pontas opostas da cidade) e a ver a exposição demorou outra, isso já não foi possível. A exposição fica situada perto da zona financeira de Nova Iorque, a sul de Manhattan e tem uma zona ribeirinha lindíssima. A exposição, mundialmente conhecida, é sobre o corpo (duh!) e seu funcionamento e tem vários modelos do corpo humano à escala real. Achei irónico ver a exposição enquanto lesionado pois deu-me para perceber exactamente onde é que me tinha magoado. A parte que mais me interessou foi a comparação entre corpos/órgãos saudáveis e doentes. Definitivamente interessante.
Cá fora e já sem grande tempo de manobra até à hora do jogo, que começaria às 7 decidi dar um pulo até à doca que ficava ali a dois passos para tirar algumas fotografias e segui para o metro.



Cheguei ao Madison Square Garden em cima da hora e fui directo ao meu lugar. Estava um nível abaixo e no lado oposto de onde tinha ficado com o Miguel para o jogo dos Knicks. O lugar não era mau e estava relativamente excitado para este mini-torneio. O Garden estava longe de cheio, mostrando que o ténis não deve encher as medidas aos americanos, algo que vim a comprovar pouco depois através de uma série de atitudes por parte do público. O primeiro encontro pôs a Clijsters contra a Ivanovic, tendo a segunda sido derrotada com alguma facilidade.



No geral, as partidas não foram as mais excitantes do mundo mas proporcionaram algumas muito boas jogadas merecedoras de uma salva de palmas. À minha volta tinha um casal de americanos que estavam ali como podiam estar noutro sítio qualquer e que não sabiam quando é que se batia palmas; um casal de alemães que não consegui perceber bem por quem torciam mas que ao menos sabiam as regras do jogo e três americanas que claramente só estavam ali porque tinham convite, já que não se calaram a noite toda (ou pelo menos durante o decorrer do evento). O segundo encontro foi mais quente, já que o público não se conteve a torcer pela Venus Williams, que derrotou facilmente a Kuznetsova.
Foi aqui que me comecei a aperceber que havia pessoas a irem-se embora e estranhei tal facto, já que o melhor encontro da noite ainda estava para acontecer. Para além de estranhar isso, também comentei comigo mesmo a selvajaria que me rodeava, desde as fotografias com flash durante os serviços aos gritos de apoio enquanto as jogadoras serviam (algo nas linhas de 'GO VENUS' ou 'YOU CAN DO IT') ou, algo que me deixou preplexo, os gritos de desconcentração quando a Kim falhava o primeiro serviço (de novo, algo nas linhas de 'ANOTHER' ou 'DO IT AGAIN'). Aí, depois de vários avisos do árbitro para o público não fazer barulho durante as jogadas, tive a certeza que o ténis é um desporto demasiado fino para americano ver. É o mesmo que dar um brinquedo de colecção a miúdo para ele brincar.
Depois de um pequeno intervalo subiram ao court, já com uma sala muito a meio gás, a Venus e a Kim para um encontro que seria excitantemente excitante. Outra coisa não seria de esperar de duas das melhores do mundo. Infelizmente a Venus acabou por ganhar com uma margem mínima, para gáudio dos americanos que ainda não se tinham ido embora. Fiquei para ver a entrega da taça e com isto, como já passava das onze e meia da noite, eu dali fui directo para o hostel que quase quatro horas de ténis ainda é dose!



Lá chegado ainda conversei levemente com os meus novos colegas de quarto. Tinha então um americano de Orlando que se tinha mudado para Nova Iorque para trabalhar, tinha perdido o emprego e ia para casa nessa quinta-feira e dois miúdos de Pittsburgh que estavam só de passagem. Boa gente, assim da minha idade e com alguns interesses em comum. Deu para umas risadas que em pouco tempo seriam absorvidas pelo conforto da almofada até que um novo dia começasse.

3 comentários:

jmnpm disse...

Curti o post!Várias coisas:

1 - Pretzels é horrível. Nunca percebi a cena de comer aquilo, mas pronto
2 - Devias ter ido à exposição do Tim Burton, aposto que sairias de lá bem impressionado pela qualidade artística do senhor. (até porque a exposição é muito mais que os filmes dele)
3 - Os meus amigos vivem junto desse pontão da exposição do Bodies...passei lá mas não fiquei para ver, agora já estou arrependido

André disse...

Hehe, por acaso até curti o pretzel só o sal grosso é que matou uma beca.

Quanto à exposição, não sei se vale os $26. Eu só fui porque tava incluída no cartão!

LiMpA_ViAs disse...

que inveja mesmo! Parece ter sido viage brutal!