29 de janeiro de 2012

For The Glory - European Takeover III

Os For The Glory vão sempre ocupar um espaço muito especial no meu coração, não só por ter estado com eles desde o começo mas também por ter vivido um grande número de aventuras com eles. Durante vários anos fui o merch guy/roadie deles e graças a isso tive hipótese de ver a Europa várias vezes enquanto eles iam tocando de cidade em cidade, noite após noite. Aquilo que aprendemos juntos na estrada e as lições que tirei para o resto da vida são incomparáveis, creio que seja o tipo de experiência que não se ganhe de mais nenhuma outra forma. Desde falta de dinheiro a sítios para dormir pior que maus, passámos um bocado por tudo. Um dos factores interessantes dessas primeiras tours é que nunca sabíamos bem o que é que ia vir a seguir, tanto podia ser bom como terrivelmente mau. Assim nasceram histórias, começaram-se amizades e criaram-se memórias que nenhum de nós irá esquecer.

Eu, sendo já antiga a mania de escrever, registei por completo a terceira tour que fiz com eles, no Verão de 2005. Infelizmente não foi a melhor tour, por motivos que nos transcenderam, mas foi uma em que tivemos que estar juntos até ao fim e aproveitar ao máximo aquilo que pudemos.
Se há uma coisa de que eu tenho orgulho, é de ter visto os For The Glory terem crescido da forma que cresceram, mantendo-se fiéis àquilo em que acreditam desde o início e inspirando pelo caminho milhares de miúdos que, muito provavelmente, dariam um braço e uma perna para ter vivido aquilo que eu vivi com eles. Desde 2003, in your fucking face!


GIRONA (PERTO DE BARCELONA, ESPANHA)

Saímos de Lisboa por volta das 10 horas da manhã, com destino a uma cidade perto de Barcelona - a 1300 km de distância - chamada Girona. A viagem foi longa, chata e quente, como sempre é quando atravessamos Espanha.  Desta vez temos uma carrinha diferente da última tour; é muito alta e balança muito (por causa do vento) mas acho que não vamos ter problemas com isso. Ao que consegui apurar, o Ricardinho não pôde vir nesta tour por causa de um dedo partido e como não havia ninguém para o substituir vamos ser só cinco. Sem problema!
Chegámos a Barcelona por volta das 11 horas da noite, depois de apanhar algum nevoeiro e chuva no último troço da viagem. Felizmente conseguimos encontrar a sala do concerto sem grande problema. Quando saímos de Lisboa deviam estar uns 25° mas aqui está muito frio, para aí uns 15°. Quero o meu Verão de volta!

Estou sentado na mesa do merch, os For The Glory vão subir ao palco não tarda. A sala é pequena e está cheia mas não creio que iremos vender muito hoje à noite, o público não é o típico público hardcore. Tenho um ecrã ao meu lado onde está a passar o The Edge Of Quarrel. Fixe! Já tocaram duas bandas, não me lembro do nome da primeira mas era uma banda de covers que tocou Chain Of Strength, Ten Yard Fight, In My Eyes, Minor Threat, entre outras. Depois tocaram os Afganistan Ye-Ye's, que não tive oportunidade de ver em Lisboa umas semanas antes e para os quais estava algo curioso. Confesso que não lhes prestei muita atenção até tocarem uma cover da Wired dos Jerry's Kids. Também tocaram Gang Green, Black Flag e Bad Brains, nem por isso bem tocado, mas que se lixe. Ah, sim! O jantar… bom, o jantar foi uma caixa de plástico (nem um tupperware era) com massa para nós os cinco. Bizarro. Os For The Glory vão subir agora ao palco. Über alles!

Foi um concerto bom para eles, deviam estar cerca de 100/150 miúdos na sala. Para aí 50 miúdos estavam à frente a apoiar a banda e o resto estava espalhado pelo resto do bar. Muitas, muitas, muitas miúdas bem calientes. São cerca de 2 da manhã. Eles estão a levar as coisas para a carrinha, devemos estar a sair daqui brevemente já que temos uma viagem de 13 horas à nossa frente. Vamos para Ieper, na Bélgica, onde estou super-curioso para ver os Congress de novo, especialmente com o Pierre de volta ao microfone. Só vendi uma t-shirt, um pin e um CD até agora, acho que não vai ficar muito melhor que isto. Mal posso esperar por chegar a França para voltar a saborear Vanilla Coke!

IEPER (BÉLGICA)

É segunda-feira e são cerca de 10 da manhã. Acabámos de sair de casa da Cindy e estamos a ir em direcção ao ferry para o Reino Unido. Não tomo banho desde sábado e preciso urgentemente de o fazer, o meu cabelo está mais porco que uma panela de fritar batatas.
Depois do concerto em Espanha, conduzimos directamente para Ieper. Saímos de lá às 3 e meia da manhã, comigo e com o Congas na frente da carrinha. Aguentámos até Toulose e depois o Rui levou a carrinha até Paris enquanto nós dormíamos. Foi uma viagem dos diabos e longa como o raio, no entanto, como estamos todos bem habituados a viagens deste calibre, a mossa não foi grande. Estacionámos a carrinha numa bomba de gasolina (com área de serviço) à saída de Paris, onde paramos sempre quando estamos de passagem. Desta vez foi diferente das outras porque a polícia implicou connosco e decidiu fazer uma busca à carrinha. Um deles falava português, o que tornou o episódio caricato. Eles revistaram a carrinha toda, abrindo inclusive um presente que eu levava embrulhado. Nojentos. Por esta altura tínhamos chegado à conclusão que a carrinha estava a gastar gasolina a mais e que isso estava a ter um impacto muito grande nas contas da banda. A decisão unânime foi de esperar até ao Ieper Fest para ver se o melhor era cancelar o resto da tour ou continuar em frente. Por agora, as coisas estão mais ou menos sob controlo e os tipos que nos alugaram a carrinha estão a ver o que é que se pode fazer.
Chegámos a Ieper por volta das 7 horas da noite e a primeira banda já tinha acabado de tocar. A segunda banda ia começar a tocar mas eu fui com o Rui até ao centro telefonar para casa. De volta à sala, comemos o jantar vegan que a Cindy preparou e fui montar a banca do merch. Os State Of Mind tocaram a seguir e foi brutal, mal posso esperar por vê-los de novo hoje à noite. Tocaram a intro da Juggernaut, Breakdown e Sheer Terror. Perfeito! Isto para além de serem grandas bacanos. Os For The Glory tocaram a seguir e também foi muito fixe. As pessoas não se estavam a mexer mas via-se que estavam a curtir o concerto. No entanto, acabei por não vender muito merch. Depois deles foi a vez dos Congress subirem ao palco. Ao início eu estava só a ver cá de trás, mas ao fim de três músicas não resisti e tive que ir lá para a frente. Tocaram 5 músicas antigas e 5 músicas novas, foi um set curto mas poderoso. Este foi o primeiro concerto com o Pierre de volta na voz, e que concerto! Para um tipo com metro e meio de altura ele é, definitivamente, um grande animal quando em palco. Nunca pensei. Amo Congress!
Depois disso fomos dormir a casa da Cindy e tivemos os gatos dela a chatearem-nos a noite toda. Calhou-me dormir num sofá pequeniníssimo e por causa disso doem-me os joelhos. Apesar de tudo foi fixe estar com a Cindy, ela é uma miúda altamente.
Estamos agora a chegar a Callais, prontos para entrar no ferry e, depois de atravessarmos o canal, temos uma viagem de 5 horas até Leeds.


LEEDS (INGLATERRA)

Chegámos a Leeds meia hora antes da hora marcada para subir ao palco. Dormi durante grande parte da viagem, muito devido à minha noite anterior ter sido muito mal dormida. A sala chama-se Pack Horse e é pequena mas confortável. Devia ter cerca de 70 pessoas lá dentro quando chegámos, ainda a tempo de ir para o meio do dance floor curtir a intro da Juggernaut, que os State Of Mind estavam a tocar. Para além de mim, do Congas e do roadie deles, mais ninguém se mexeu. Os For The Glory tocaram a seguir e muitos miúdos deitaram a casa abaixo. O melhor show da tour até agora! Algures durante o concerto de For The Glory magoei-me na perna. Perguntei a uma miúda na casa onde vamos ficar se tinha gelo para pôr no inchaço e ela deu-me um pacote de batatas para fritar congeladas. Vai ter que dar. O mosh não pode parar!

NOTTINGHAM (INGLATERRA)

Eles continuam a falar de fazer a tour até Ieper por causa da carrinha. Eu ainda acredito que é possível. Daqui a pouco vamos a um mecânico e espero que eles encontrem e arranjem o que estiver mal. Também espero que passemos algum tempo em Nottingham, visto que preciso de comprar pilhas para a minha máquina fotográfica. Vou voltar para dentro agora. Hoje só temos que conduzir uma hora e meia ou duas, mesmo doce! Tomar um duche ontem foi das melhores coisas que já me aconteceu.

Os For The Glory acabaram de começar a tocar. Demorámos cerca de hora e meia a encontrar a sala. Estão cerca de 20 miúdos cá dentro. Os Break In vão tocar em Leeds hoje à noite e creio que essa seja uma das razões para a fraca afluência. O promotor é um tipo fixe e a sala é bacana. O tecto é alto e está pintada de azul com graffiti por todo o lado. Ainda houve uns 4 ou 5 miúdos à batatada enquanto eles tocavam, cool! Ouvi o promotor a dizer que iamos dormir num coffee shop… vamos ver o que é que isso significa exactamente. Também ouvi dizer que o concerto de amanhã ia ser muito fixe para a banda, mas não estou com expectativas altas. Já sei o que é que acontece a quem sonha muito. Ah, sim, os mecânicos disseram que a carrinha não tinha nada de errado por isso a tour é bem capaz de acabar depois do Ieper Fest. Eu ainda acredito que isso não vai acontecer.

Acabámos por dormir em casa de uma miúda chamada Ella. Ela viveu em Portugal durante algum tempo e nós já a conhecíamos de lá, por isso acabámos por dormir em casa dela em vez de no coffee shop que nos tinha sido sugerido. Confesso que nunca tínhamos sido tão bem tratados em tour. Ela e a irmã fizeram-nos tostas, salsichas e pão com alho. Pessoas brutais. Melhor que isso: cada um de nós teve direito ao seu próprio quarto. Um luxo!
Quando acordámos de manhã estava a chover torrencialmente, algo que aconteceu durante o dia todo e que foi uma valente trampa uma vez que estamos em Agosto! Saímos para Ashford cedo porque elas tinham que ir trabalhar. Sem problema. Eu e o Rui fizemos a maior parte da viagem sem grande stress, ao som dos Pantera. Parámos numa estação de serviço (que são bem grandes por aqui) e fomos comer ao Burger King. Acabámos por lá ficar a relaxar algum tempo uma vez que era a primeira vez que o tínhamos para gastar nesta tour.


ASHFORD (INGLATERRA)

Chegámos a Ashford cerca de duas horas antes da hora que era suposto chegarmos para nos encontrarmos com o Cai. Para matar o tempo, eu, o Rui, o Sérgio e o Miguel fomos a um outlet gigante perto do sítio onde tínhamos combinado nos encontrar com ele. O Congas ficou a dormir uma sesta na carrinha. Encontrámo-nos com o Cai às 5 da tarde e fomos comprar ingredientes para cozinhar o jantar. Entretanto ficou decidido que se não conseguíssemos trocar de carrinha até Ieper, o resto da tour iria ser cancelada e voltaríamos para casa.

Fomos para casa do Cai relaxar um pouco e jantar antes do concerto. Ele vive com o ex-vocalista dos Break In, que é um tipo impecável. O Congas cozinhou o jantar (que estava médio) e fomos para a sala depois de comer.
Já na sala, tivemos que descarregar o backline muito rápido porque estava a chover e descarregar backlines à chuva nem sempre dá bom resultado. Arranjei um merch spot bem fixe. Bom, pelo menos até à primeira banda começar a tocar, já que, depois disso, os miúdos e o mosh deram mais ou menos conta do recado. Entretanto consegui arranjar a mesa mais ou menos de maneira a que não voltasse a ser destruída pela fúria que vinha do dance floor e o truque pareceu ter funcionado. Havia muitas miúdas giras neste concerto e o pessoal estava todo a curtir imenso as primeiras bandas. Era um cartaz com 7 ou 8 bandas e os For The Glory eram a banda antes dos Break In, que iam fechar a noite. Os State Of Mind foram bons, como sempre. A música My Broken Mask é definitivamente alguma coisa! Sou fã. Eles vão para Hull, perto de Leeds, a seguir a este concerto para tocar amanhã mas os For The Glory vão voltar a tocar com eles no próximo sábado em Den Haag. Mal posso esperar! Os For The Glory tocaram a seguir e deram um bom concerto, o set vai ficando mais tight a cada dia que passa. A voz do Congas não estava muito fixe, provavelmente devido ao nosso cansaço.
Os Break In tocaram três músicas, até que tiveram que parar por causa das horas?! Creio que o promotor era um bocado inexperiente. Depois do concerto ele pagou à banda e foi-se embora, tendo dito aos State Of Mind (só descobrimos depois, quando eles vieram falar connosco) que ele lhes tinha dito que nós tínhamos o dinheiro de ambas as bandas. Simpático da parte dele. A ver se começo a fazer o mesmo nos concertos que organizo.

Depois do concerto voltámos para casa do Cai, onde íamos passar a noite, e não demorou até que tivéssemos todos adormecido. Estávamos MUITO cansados. Infelizmente nessa noite dormi bem mal, muito por não ter um saco-cama. Para a próxima não me posso esquecer de trazer um uma vez que, a julgar pela amostra, Verão parece ser uma estação do ano que só acontece em Portugal.
Acordámos cedíssimo, uma vez que tínhamos que estar no ferry às 11 e 45 da manhã para fazer o check-in. Eu estava bastante sujo por esta altura (pelo menos o meu cabelo) por isso lavei-o numa casa de banho pública com o Congas, que também estava a precisar. Toda a gente estava a olhar para nós, cada um em seu lavatório, mas soube-me bem ter o cabelo lavado. Não aguento mais de 4 dias sem lavar o cabelo, sinto-me tão sujo.
Fizemos a viagem de ferry toda cá fora, uma vez que o sol estava agradável. Falámos de imensas coisas e os 75 minutos que a viagem durou não pareceram mais de 15! Apesar da nossa incursão pelo Reino Unido ter sido positiva, ficam aqui umas razões que me fazem não gostar de cá vir: condução do lado errado da estrada; o dinheiro diferente; as fichas eléctricas serem também diferentes; e o tempo horrível. Mas, diga-se em abono da verdade, as miúdas e os putos do hardcore (que são bem dedicados) fazem esquecer qualquer uma das quatro razões.
Chegámos a Callais às 14:15, hora local, e tínhamos que chegar a Essen o mais depressa possível, uma vez que os For The Glory eram a banda de abertura. Dormi 4 ou 5 horas nesta viagem enquanto ouvia o Ill Blood. Quão bom é o Ill Blood? Certamente o Age Of Quarrel do século XXI!


ESSEN (ALEMANHA)

Chegámos a Essen a horas e ainda tivemos tempo de estar com o pessoal de Lisboa que estavam lá, em rota para o Ieper Fest. É sempre bom ver caras familiares. O cartaz tinha também os Justice, os Black Friday '29 e os Mental por isso pode-se dizer que estava relativamente excitado. A zona do merch era numa salinha mesmo ao lado da sala principal do concerto. Quando lá cheguei, só o pessoal de Rejuvenate estava lá. O Tommy Rat - a lenda - parecia algo aborrecido. Encontrei-me com imensos amigos neste concerto, tenho mesmo que voltar cá brevemente!
Os For The Glory foram a primeira banda da tarde; a sala ainda não estava cheia e não houve muito movimento mas eu vi bastantes caras a olhar para o palco. Eles deram um bom concerto e os miúdos gostaram. Vendemos IMENSO merch nessa noite. O palco ficava muito próximo do tecto, que era mais ou menos cortante. O resultado? O Congas, o Bjoern e o Greg acabaram com cortes nas mãos à pala disso. Sangue nas t-shirts e tudo o mais. Essa foi a única coisa que não gostei na sala. A seguir tocaram os Justice e eu fui ver o concerto lá para a frente com o Banana. Foi um concerto "daqueles"! Stage dives, side walks, singalongs e mais tudo aquilo que se espera de um concerto de Justice. Pena que o chão estivesse escorregadio, odeio quando isso acontece. Os Black Friday '29 iam tocar a seguir e, uma vez que este ia ser o último concerto do Pete com a banda, eles decidiram dar algo extra a quem os tinha ido ver. Começaram o concerto com a intro da We Gotta Know, seguindo-a com três malhas de Death Or Glory, cantadas pelo Fink. O Sven já me tinha dito que isto ia acontecer por isso não perdi tempo a reservar algum espaço para mim à frente do palco antes do concerto começar. Depois disso voltei para a merch table. O set de Black Friday '29 foi brutal e os miúdos estavam mesmo a curtir. Espero que se dêem bem sem o Pete. Estou curioso para ouvir as músicas que vão sair no disco que a Bridge 9 vai lançar. Os Rejuvenate tocaram um set regular, embora confesse que não lhes tenha prestado muita atenção, uma vez que estava na conversa com amigos ao pé da merch table. Também não ajuda eu não ser grande fã da banda. Seguiram-se os Mental, de Boston. Estava algo curioso para os ver de novo mas não tão excitado como poderia devido aos problemas com a carrinha e o possível prematuro retorno a casa. Vi o concerto da merch table e foi bem bom! Acho que comecei a gostar do LP novo depois de os ver ao vivo. Apesar do Greg não conseguir cantar as músicas como faz no disco, foi um set muito bom. Os miúdos não se estavam a mexer como habitualmente mas, se tivermos em consideração que a sala estava a abarrotar e estava um calor infernal lá dentro, até é compreensível. Depois do concerto dos Mental, a maioria das pessoas foi-se embora e nós aproveitámos a deixa para arrumar as nossas bagagens e seguir para Bochum, onde íamos ficar nessa noite. Uns de nós iam ficar em casa do Sven e os outros em casa do Vega. Eu, o Rui e o Sérgio ficámos com o Vega e o Congas e o Miguel em casa do Sven.


No dia a seguir íamo-nos encontrar com os Born From Pain que eles iam-nos dar uma ajuda para ver se conseguíamos trocar a carrinha na Sixt holandesa. Nós não estávamos muito crentes nisso. De uma forma ou outra, todos tínhamos já caído na realidade e isso afectou-nos um bocado. Como quando se tira uma doce a uma criança. Se até agora a tour tinha sido brutal, nós só conseguíamos imaginar quão boas teriam sido as duas últimas semanas.
Antes de irmos dormir, o Sérgio e o Rui ajudaram-me a contar o merch, o que foi uma ajuda preciosa já que contar merch só é mesmo fixe quando já não há quase merch! De qualquer maneira, por esta altura já quase não havia tamanhos pequenos. Para a próxima temos que trazer mais!

BRUNSSUN (HOLANDA)

Acordámos relativamente cedo no dia seguinte, uma vez que tínhamos que nos encontrar com os Born From Pain, na Holanda, para trocar a carrinha ou, eventualmente, conseguir arranjar esta. Chegámos lá mais tarde do que tínhamos previsto e estivemos à procura de um sítio, a casa de alguém creio eu. Tudo o que eu sei é que o número de telefone que tínhamos não estava a funcionar e nós não conseguíamos encontrar nada nem ninguém. Depois de um longo período de tempo, o Sérgio tentou o mesmo número de forma diferente e funcionou! Lá nos encontrámos com eles, que estavam numa garagem a carregar o backline para o concerto dessa noite no Ieper Fest. Um dos tipos da banda estava a ajudar-nos e fez imensas chamadas de telefone até que nos arranjou um dealer da Iveco, que não ficava muito longe de onde estávamos. Chegámos lá num instante. Primeiro, o tipo (que não falava uma palavra de inglês), chamou-nos para mostrar uma peça do motor que estava partida e ele arranjou. Depois disse que de resto estava tudo bem com a carrinha e podíamos seguir viagem. Isto, depois de ter falado ao telefone com a Sixt. A ver se não nos esquecemos de não voltar a alugar carrinhas na Sixt…
Saímos dali em direcção a Brunssum, onde iria ser o concerto dessa noite. Encontrámos a sala rapidamente e fomos dar uma volta pela cidade. Aproveitámos para trocar as libras por euros e fomos comer a um dos muitos snack bars típicos que a Holanda tem. Pedimos comida a mais para a fome que tínhamos e acabámos por não comer tudo. No fim da refeição estava tão cheio que quase rebolei pela porta fora. Adoro batatas fritas com o frite sauce, kaassouflees e Vanilla Coke. Já estou com saudades!


A sala era fixe. Tinha um bar na entrada e depois uma sala onde seria o concerto. Tinha uma bandeira do Evil Empire no tecto que ficava bem fixe. Como estava um bocado cansado e aborrecido decidi ir montar a mesa do merch enquanto eles dormiam na carrinha ou tocavam guitarra no backstage. Alguns miúdos vinham-me fazer perguntas, mas como a maioria deles não conseguia falar inglês perceptível não pude ser de grande ajuda. O mais engraçado foi um miúdo que me viu a escrever e perguntou se estava a fazer os trabalhos de casa. Antes de For The Glory tocou um par de bandas mas eu não as vi. O set deles foi bom e os miúdos adoraram. Houve bastante movimento no dance floor, o que é definitivamente positivo, uma vez que ninguém os conhecia. A dona do bar, uma senhora de meia idade não muito atraente, veio ter comigo a meio do set deles para me perguntar - em holandês - se eu estava a gostar do concerto. Quando eles acabaram de tocar, imensos miúdos vieram ter comigo para dizer como tinham curtido For The Glory e para comprar merch. Definitivamente um sítio a voltar! Depois tocou uma banda chamada Better Off que é, aparentemente, grande por estas bandas. Pelo menos são extremamente simpáticos! Antes de sairmos, estivemos um pouco cá fora a ouvir Daft Punk aos berros ao pé da carrinha enquanto bebíamos Chocomel. Foi fixe.

O promotor, que se chamava Bart, ia-nos dar alojamento nessa noite. Ele vivia num apartamento bem fixe, todo decorado com mobília do Ikea. Eu dormi no sofá e dormi lindamente.
Na manhã seguinte, o Congas estava-se a queixar de um dente e de que precisava de ir ao dentista, acabando por ir com o Bart, com a namorada dele e com o Rui. Eu e o Miguel aproveitámos para pôr as horas de sono em dia.


DEN HAAG (HOLANDA)

Tínhamos que viajar até Den Haag para o próximo concerto, felizmente a viagem não era muito longa. Eu e o Rui fomos na frente enquanto os outros dormiam atrás. Encontrámos a sala muito facilmente e fomos a primeira banda a chegar. No cartaz para esta noite estavam os Justice, os Mental, os State Of Mind e os Restless Youth. Comemos boa comida ao jantar, graças à boa hospitalidade do Fjodor, que olha sempre pelas bandas dos concertos que organiza. Já estavam cerca de 100 miúdos na sala quando o concerto começou. A primeira banda foram os State Of Mind e, como anteriormente, deram um concerto brutal. Pena que não os vá voltar a ver tão brevemente. A My Broken Mask é definitivamente especial! Os miúdos não se estavam a mexer mas via-se que estavam a curtir o som. Havia uma grande mistura de miúdos… desde o puto saloio ao crucial. A sala - chamada Music Hall - era brutal e todos a adorámos. Não era demasiado grande nem demasiado pequena e tinha um palco brutal, especialmente para stage dives. Os Restless Youth tocaram a seguir e dava para ver perfeitamente que o público não estava na mesma sintonia que eles. Não sei porquê, visto que até deram um concerto bem fixe. Seguiram-se os For The Glory e o concerto foi… estranho! Ao início estava tudo parado só a abanar a cabeça, mas depois, ao fim de um par de músicas, os miúdos desataram ao pontapé e ao estalo. Também houve bastante acção no dance floor durante as partes paradas. Foi a loucura!
A seguir tocaram os Mental que, por algum motivo que me transcende, decidiram tocar antes dos Justice. Tocaram um set fixe que começou com uma cover de Justice que foi, também, igualmente fixe. Os miúdos estavam a dançar. Eu estava a dançar! Adoro Mental! Não gostei muito do disco novo logo quando saiu mas agora… Havia lá uns quantos saloios que estavam, provavelmente, a dançar um bocado duro demais mas que se lixe.
Os Justice tocaram a seguir e destruíram a sala por completo. Havia miúdos a voar do palco, a fazer pile-ons, singalongs e atirararem-se uns aos outros para cima das bancas de merch (essa foi a única parte não-fixe!). O concerto de Justice foi brutal, mal posso esperar por vê-los em Portugal em Novembro.
Depois do concerto descobrir que o Dookie e o Greg tinham quebrado o edge e achei engraçado, apesar de não ligar muito a isso.

Nessa noite íamos dormir a casa do Chris de State Of Mind mas como ele vivia um pouco longe do sítio onde era a sala e nós estávamos todos com fome, decidimos parar numa estação de serviço a caminho para comer qualquer coisa.



IEPER (BÉLGICA)

Dormimos 3 ou 4 horas em casa do Chris porque tínhamos que acordar por volta das 7 ou 8 horas da manhã para ir para o Ieper Fest. Eu ia na frente com o Rui quando, a meio da viagem, ele lembrou-se que tinha deixado a carteira, com os documentos todos, em casa do Chris. Decidimos voltar para trás, o que não se revelou de todo uma boa ideia, visto que não tínhamos nem a morada nem o número de telefone dele. Procurámos o prédio dele durante uma hora e, não tendo encontrado nada, retomámos o caminho para Ieper, ainda comigo e com o Rui na frente.


Chegámos lá um bocado em cima do tempo, já estava a primeira banda a tocar.  Tivemos que esperar que eles acabassem o concerto para poder pôr o backline no palco. Eu fui montar o merch depois de ir ter com os pessoal de Portugal que lá estava. Enquanto o fazia estava a tocar uma banda chamada Awoken, que não era má de todo e até tocou uma cover de Buried Alive. Isso foi fixe! Não pude conferir muitas bandas porque estive ocupado a maior parte do tempo na banca do merch. Só acalmou mais para a tarde. Os For The Glory tocaram um bom set e, uma vez que este era o último concerto da tour, os miúdos que os iam ver nalguma das datas que tinham sido canceladas deram o seu melhor dance floor. Pelo menos fartaram-se de comprar merch! Os sets de Mental, Justice e Knuckledust também foram bons, principalmente o de Justice. Estava algo curioso para ver os Hoods e não fiquei desapontado, ainda que ache que tenha acontecido alguma coisa entre eles e a organização do festival, já que o vocalista fartou-se de dizer coisas burras ao microfone ao longo do set. Tocaram um monte de músicas do último disco e eu aproveitei para ir curtir um pouco para o meio da confusão. Mais à noite fomos a uma pequena festa de after party no recinto do festival onde uns franceses aos berros nos estavam a entrar nos nervos. Como estava a ser horrível fomos para casa do Alex pouco depois disso, uma vez que era lá que íamos passar a noite. Dormi lindamente, como sempre quando lá ficamos.


No dia seguinte, fomos comer ao centro de Ieper e partimos de seguida para Portugal. Qualquer coisa como 3000 km de viagem! Não estávamos tristes, mas ligeiramente desapontados por ter que deixar tudo prematuramente ao fim da primeira semana. O Sérgio levou a carrinha até Espanha e depois o Rui e o Congas conduziram o resto. Fizemos a viagem toda em cerca de 19 horas, boa média para a distância que é. Tenho pena que a tour tenha tido que acabar assim e tenho a certeza que na próxima vamos ter a melhor sorte do mundo. Como disse várias vezes durante a viagem: não tivemos uma boa tour de três semanas, mas tivemos uma brutal de uma semana.


Entretanto ficou decidido alugar-se uma carrinha para fazer as três últimas datas da tour, que seriam duas em Espanha e uma em Lisboa. Quase duas semanas depois, após uma noite muito mal dormida, voltámos à estrada.

SABADELL (PERTO DE BARCELONA, ESPANHA)

Saímos de casa do Congas por volta das 4 da manhã com uma viagem de 12 horas à frente. Esta carrinha é bem mais pequena que a outra. A viagem foi ok, só me lembro daquela miúda que estava numa estação de serviço em Espanha. Sei que era gira e arregalou os olhos a todos nós. Chegámos lá 2 ou 3 horas antes da hora do concerto e eu estava brutalmente cansado, uma vez que não tinha dormido na noite anterior. Dormi umas duas horas na carrinha que me souberam lindamente. Pouco tempo depois fui para a sala, onde comi qualquer coisa e montei a banca do merch enquanto os miúdos iam entrando na sala. Não fiquei impressionado com nenhuma das duas bandas que abriu, até que subiram ao palco os Asunto, do Chile. Wow, que destruição! Tocam assim um metalcore pesado. Boa presença em palco e bateria completamente assassina. Acho que apareceram meio do nada para tocar este concerto, uma vez que não estavam no cartaz original. É pena, porque uma banda destas certamente merecia uma tour europeia melhor marcada. Durante o concerto de For The Glory a maior parte dos miúdos estava parado a ver. Havia algum movimento mas nada de especial. Fui lá para a frente ver como é que estava o ambiente e vim-me embora antes da última música. Os miúdos aqui parece que não ligam muito a For The Glory, principalmente comparando com Madrid. Dormimos na casa do David, que tem um apartamento no centro de Manresa. Colchões para toda a gente, comida e Coca-Cola. Suficiente para me deixar feliz! Escusado será dizer que dormi bastante bem.

MADRID

No dia seguinte comemos na Telepizza antes de seguirmos para Madrid. Era uma viagem de 5 horas mas fez-se bem. Tive que lavar o cabelo na casa de banho da estação de serviço, o que não foi assim tão fixe mas que já se vai tornando hábito. Bom, sempre é melhor lavar assim do que não lavar de todo. Chegámos a Madrid uma hora antes daquela prevista mas, incrivelmente, chegámos à sala do concerto duas horas atrasados. Eu estava a dormir na parte de trás da carrinha a tentar ignorar o que se estava a passar mas passado um bocado também eu não consegui esconder a frustração. Andar duas horas aos círculos perdido em Madrid é, definitivamente, chato. A sala era um bar chamado Barracudas, no centro da cidade. Tinha sido pintada recentemente e tinha uma decoração meio do rock. Deram-nos boa comida e não demorei a ter a banca do merch montada. A primeira banda que tocou era uma banda local de rock, com um tipo português que tinha vivido em Portugal durante muito tempo. Ele sabia imenso calão por isso deve ter sido mesmo muito tempo! Os For The Glory subiram ao palco e não demorou muito até que os miúdos destruíssem por completo o dance floor. Basicamente foi isso. Dançaram, dançaram e dançaram. Foi lindo. Da última vez aqui tinha sido bom, desta vez foi melhor ainda. Mal posso esperar pela próxima.
Depois do concerto, seguindo a indicação de uns amigos, fomos para um bar na Gran Vía onde os miúdos do hardcore se costumam encontrar. Estava muito quente e cheio lá dentro por isso viemos cá para fora relaxar um pouco e beber qualquer coisa entre conversas várias. Nós éramos para dormir em Madrid nessa noite mas estacionar a carrinha ali no centro a noite toda estava-se a revelar ser demasiado caro. Decidimos ir directos para Lisboa e dormir umas horas em casa do Congas antes de ir para o Culto.

LISBOA

Chegámos a Lisboa por volta das 10 ou 11 da manhã e fomos directos para casa do Congas. Eu dormi no chão com o Miguel, o que não foi de todo confortável. Depois de acordar fomos directos para Almada. Este era o último concerto da tour e nós não sabíamos o que esperar. Estávamos a fazer apostas sobre quantos miúdos iriam aparecer e as apostas variaram entre 40 e 80 miúdos, claramente desencantados com o estado da cena hardcore portuguesa.

Tocaram três bandas antes dos For The Glory que, pela altura em que subiram ao palco, tinham cerca de duzentos pares de olhos a olhar para eles. Desde singalongs a stage dives, mosh… tudo aconteceu naquela noite. Algo que não é costume ver em Portugal com tantos miúdos! Foi brilhante. Tive que esperar dois anos para ver os For The Glory tocarem um concerto em Portugal que tivesse uma resposta assim por parte do público. Finalmente aconteceu e eu estou mega-feliz por eles, mesmo! Venha a próxima tour!

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