1 de junho de 2011

Budapeste - Dias 1, 2 e 3

A ideia era simples: os meus pais e o meu irmão voavam de Lisboa para Budapeste e eu e a minha namorada da altura voávamos de Londres para ir ter com eles e passar uns óptimos dias nesta pérola (aparentemente linda) do Danúbio. O que se segue é o relato de 4 dias bem passados ao sabor de temperaturas negativas, neve em abundância e edíficios de sonho de uma Europa que já não existe há muito tempo. Sigam-me. 

Dia 1 - 23/02/09
Chegámos a Budapeste poucas horas após o raiar do sol e caía neve que mais parecia a Lapónia. A primeira impressão da cidade não foi a melhor. O aeroporto tem 3 salas longe de grandes: uma para chegadas, um hall de entrada com bar e bilheteiras/postos de informação e uma outra para partidas (onde também se faz o check-in e se passa pela segurança). A moeda vale muito pouco e como tal deu para estar um bocadinho mais à larga. Levantámos dinheiro e fomos apanhar o comboio para o centro da cidade. 


A viagem não demorou muito tempo, uns 15 minutos diria. Infelizmente pareceu muito mais que isso. Estava a nevar imenso e apesar de nos termos sentado sorrateiramente numa carruagem mais confortável do inter-cidades, a revisora fez o favor de nos mandar para o 'next car, next car' de forma muito pouco simpática. Passámos então para uma carruagem daquelas com compartimentos, onde cabiam 8 pessoas por compartimento. Dizer que as pessoas que lá viajavam eram assustadoras é estar a elogiá-las. Medonho. O comboio por fora parecia uma lata velha e por dentro não lhe ficava atrás.

A primeira impressão das pessoas foi que têm um ar velho e cansado, algo que é compreensível tendo em conta que o regime comunista não deixou a Hungria há assim tanto tempo. Vista do comboio, a cidade e seus arredores têm um ar sujo e com muito, muito graffiti. Não estava surpreendido, muito porque as minhas expectativas não eram as maiores!

Chegámos à última estação, com um nome imperceptível, e saímos em busca da estação de metro que nos levaria até ao hostel. Estávamos de certo modo cansados, voos da Easyjet a horas desumanas acabam por ter sempre este tipo de implicação. A cidade tem 3 linhas de metro principais, a 1, 2 e 3 - azul, amarela, e vermelha respectivamente.

Os átrios das estações da linha azul são feios, cinzentos, sujos e cheios de mendigos. O metro (que é o mais antigo da Europa continental) parece mais um dos brinquedos de lata referidos anteriormente e tem um ar velho. Curiosamente, todas as estações tem um facilmente perceptível cheiro a croissants frescos devido a umas lojinhas de bolos. Negócio da China, diria eu, pois mal o nariz sente o cheiro, a fome não demora a aparecer.


Depois de andarmos ligeiramente perdidos na área, lá encontrámos o hostel. Era numa zona relativamente central e interessante. O quarto duplo que tinha reservado afinal era um apartamento com cozinha e casa de banho privativa. O alojamento lá é barato e com alguma qualidade, ainda que bastante gasto e a mostrar alguns sinais da idade. Um bom exemplo disso é o aquecedor, que mais parecia da Segunda Guerra Mundial e, arrisco dizer, talvez aquecesse demais. O nosso quarto era gigante e a vista era maravilhosa, para o National Museum of Hungary. Aquando da nossa chegada, toda a cidade estava coberta de neve, o que foi lindíssimo de ver. 

Depois de um pequeno bate-papo com a manager do hostel e seguindo algumas indicações dela fomos até um centro comercial para eu ver se encontrava um fato de banho barato, porque me tinha esquecido do meu em Londres. Fato de banho? Com tanta neve e tão longe de praia? Sim! Budapeste é a cidade dos banhos, ou spas. Ir lá e não ir a um dos inúmeros banhos é como... ir a Lisboa e não comer um Pastel de Belém. Claro que não encontrámos nada, de modo que fomos almoçar ao Subway e seguimos para os ditos banhos. O edifício era lindíssimo, em tons de amarelo e conhecido pelos seus banhos terapêuticos. Alugámos fatos de banho e toalhas (que eram não mais que um lençol...) e lá fomos nós. 


É relaxante, não vou dizer que não. Foi uma experiência engraçada. Começámos por um banho (por banho entenda-se uma espécie de piscina com pouca profundidade onde dezenas de pessoas se sentam a pensar na vida) a 38º e a primeira sensação que se tem é do peito a apertar. Depois uma pessoa habitua-se e até anda lá descontraidamente, mas os primeiros instantes são algo que fica para recordar. Andámos de banho em banho durante umas duas horas e pelo meio fomos experimentar a sauna, que com os seus 70º não me convenceu de todo. Diria mesmo que não gostei da experiência. Já suava por todo o lado, não conseguia respirar sem sentir que tinha os pulmões a arder e não aguentei mais que 10 minutos lá dentro. Confesso que ainda fiquei a perceber menos a ciência por trás da sauna. 

Bom, depois disso fomos de volta para o hostel ter com os meus pais, que chegavam mais tarde nesse dia. Como seria de prever, adormecemos enquanto esperávamos e eu só acordei mais tarde com o telefone a tocar. Seguiu-se um jantar não muito memorável ao fundo da rua, num turco muito estranho e depois disso voltámos ao hostel para cobrar uma merecida noite de sono.

Dia 2 - 24/02/09
O dia não começou da melhor maneira, a mala da minha mãe não tinha chegado e o pânico estava ligeiramente instalado. Aparentemente roupas de Inverno lisboeta e um frio de rachar não combinam por aí além. Fomos então fazer compras para tentar remediar um pouco este acontecimento infeliz, compras estas que duraram grande parte da manhã e um bocadinho da tarde. Vimos a rua principal das lojas, que já estava nos planos e como tal não foi uma perda de tempo total e passeámos um pouco pela zona central da cidade. 


De volta ao hotel onde os meus pais estavam a ficar, situado numas das ruas finórias da cidade, parámos para almoçar num restaurante chamado Wall Street em que a decoração era jazzy (do estilo de música), a música era latina e o nome... pronto. Nada tinha a ver com nada mas a comida e apresentação por acaso estavam óptimas. Soube bem e fiquei cheio para o resto do dia, literalmente. 

Seguidamente fomos ver a ópera, que aparentemente tem a segunda melhor acústica da Europa! Todo o edifício é lindíssimo e deu-me imenso gozo conhecê-lo. O único senão foi só mesmo o facto de, tal como a grande maioria dos monumentos em Budapeste, ter ficado grandemente destruído durante a Segunda Guerra Mundial para ser reconstruído mais tarde. Ainda assim o edifício é lindíssimo e majestoso.

Daí apanhámos a linha amarela até ao Museu de Belas Artes, que infelizmente já estava fechado. Aparentemente no Inverno fecha tudo as 4 horas da tarde. Vimos um monumento bonito, que me lembrou os monumentos das grandes praças berlinenses. Como iríamos voltar ao museu noutro dia, não ficámos muito chateados e decidimos seguir pela rua (a mesma do restaurante, que tem 3km, mas na ponta oposta) e ver as vistas. Passámos pelo Museu do Terror, que é uma homenagem a todos os presos políticos que morreram durante a invasão soviética mas não entrámos.
Há muitas casas lindíssimas e pastelarias com decorações de morrer. No geral, estas avenidas (há um par delas) invocam os estilo imperialista da altura em que foram construídas e são bonitas de se ver. Imponentes até. 


Depois de um dia longo, parámos para um snack no Burger King e retirámo-nos todos para os nossos aposentos, dado que tinha sido um dia comprido e cansativo. Eu estava determinado a ver o embate dos titãs – Inter Milan vs Manchester United - e fui em busca de um bar onde o pudesse fazer. O melhor que encontrei foi um pub irlandês mesmo ao lado do hostel, que tinha uma televisão ligada a um portátil com um tipo a tentar ligar o jogo pela internet. Surreal? Sim. Acabei por 'ver' o jogo, de volta ao hostel, nas transmissões em directo do site da FIFA em que mandam uma linha de texto todos os minutos a dizer o que está a acontecer. Enfim, o resultado foi bom por isso não me importei muito. Fazer o quê? Depois disso quem ganhou foi o sono. 

Dia 3 – 25/02/09
Acordámos cedo, o dia prometia. Íamos passear até ao palácio, do outro lado do rio Danúbio. Budapeste é atravessada pelo Danúbio, de um lado do rio fica Buda, do outro Pest. Atravessámos a ponte a pé e subimos o monte no elevador de superfície que eles têm para esse efeito. A vista é lindíssima e vale muito a pena, principalmente se estiver o dia de sol que estava quando lá fomos. Vimos o palácio por fora, uma vez que por dentro não valia a pena dado que a arquitectura não tinha sido recuperada depois da guerra. Fomos depois ver uma série de edifícios interessantes nas imediações do palácio, sendo o mais interessante a igreja onde a Sisi casou com o Francisco Alberto e onde, curiosamente, ainda mantêm as bandeiras originais da ocasião (podres, é claro). É uma igreja como tantas outras e não me trouxe assim nada de novo. Depois vimos o Bastião dos Pescadores e descemos até ao pé do rio. Vimos duas igrejas que não interessavam por aí alem e atravessámos a ponte de volta para Pest. 




Daí apanhámos o eléctrico para o parlamento, onde infelizmente já não havia bilhetes para a visita guiada em inglês. Tivemos que ir com a espanhola umas horas mais tarde. Aproveitámos o tempo de espera para descansar um pouco e ir trincar qualquer coisa.
Achei o parlamento interessante mas de certo modo sem sal, talvez porque o edifício tem 196 salas e só 4 é que estão abertas ao público. Por favor. Isso e ter sempre um polícia (daqueles que não diferem muito de um armário) a contar o número de pessoas por cada visita guiada. O edifício é lindíssimo, por fora e por dentro (também ele foi parcialmente reconstruído depois da guerra) e a visita muito interessante, incluindo a coroa húngara em exposição. Pela forma como a guia falou ao longo da visita dá para perceber que o governo lá ainda funciona pior que em Portugal. 


Depois disso fizemos o percurso completo do 2, que é um dos eléctricos e foi muito fixe. O eléctrico faz toda a zona ribeirinha da cidade e apesar de não durar muito tempo, dá para tirar fotos engraçadas. Saímos perto de um mercado e lá fomos nós, como bons turistas que somos. Era um mercado maioritariamente de carne e derivados que, para não variar, tendo em conta as horas, já estava assim meio a fechar. A arquitectura, apesar de não passar de ferro e vidro, era muito imponente e punha o da Ribeira a um canto. Comprámos húngaros (os bolinhos!) e seguimos viagem. 


Voltámos à rua das lojas, desta feita para ver a parte de baixo da rua, que ainda não tínhamos visitado. Não tinha nada de mais e calmamente decidimos ir cada um para seus aposentos combinando encontrarmo-nos mais tarde para ir jantar um indiano ao pé da ópera. Assim foi. O indiano acabou por se revelar uma péssima escolha e um dos piores em que já estive. Claro que desde que o meu standard para restaurantes indianos passou a ser o de Londres que as coisas ficam complicadas para qualquer outro restaurante indiano mas mesmo assim achei mau. Findo o jantar fomos todos para casa dormir, bem cansados, como se pede numa viagem deste género.


Dias 4 e 5: http://lepongeculturelle.blogspot.com/2011/06/budapeste-dias-4-e-5.html

6 comentários:

Leandro Afonso disse...

mais uma vez, excelente report! gostava de conseguir fazer reports destes das minhas viagens tb! ahah fiquei com vontade de ir a Budapeste!

Unknown disse...

nada por aí além, portanto. não estava na minha lista de prioridades anyway. kiss

jmnpm disse...

Gostei de ler e gostei do trajecto que escolheste.
Só te faltou uma visita a um ex-libris de Budapeste, a Pastelaria Gerbeaud: http://www.gerbeaud.hu/

João, o turista de serviço :D

André disse...

Catia, a ter que voltar voltava a Praga ou ia a Viena. Estilo semelhante com muito mais charme.

Joao, ainda falta ai o dia 4! E o 5, embora esse seja so acordar as 8 da manha para ir para o aeroporto. Mais logo! Entretanto vou-te mandar um email porque a minha proxima viagem é uma senhora viagem e umas dicas vao-me dar jeito.

Vanessa disse...

vou lá passar em Agosto Andrézinho.vou-te mandar um mail para mais umas dicas!****

AnaLO disse...

Por acaso estivémos na Gerbeaud. Comprei uns biscoitos deliciosos