28 de maio de 2011

Nova Iorque - Dias 7 e 8

Dia 7 - 2/03/10
O sétimo dia começou cedo, mas não muito cedo. Cedo o suficiente para me deixar descansar até uma hora confortável. Saí do hostel por volta da 9 da manhã em direcção a um a café que havia lá perto para tomar o pequeno-almoço, que seria um bagel de cream cheese acompanhado por uma garrafa da minha tão amada Coca-Cola de baunilha. O plano para o dia já estava mais ou menos traçado desde a noite anterior, visto que me faltavam ver poucas das coisas a que me tinha pressuposto.


Acabado o pequeno-almoço enfiei-me no metro em direcção ao Metropolitan Museum of Art e pus-me lá num instante. Cheguei numa altura em que ainda não estava muito cheio por isso não apanhei filas nem confusões. O museu cobre grande parte dos períodos históricos e é grande. Não é grande, é GRANDE! Um daqueles museus que levaria alguns dias a absorver na sua totalidade. Como eu já sabia mais ou menos o que queria mesmo ver, fui calmamente passando a passe apreciativo as restantes galerias até lá chegar. A minha primeira paragem foi na galeria do Egipto onde fiquei imediamente fascinado com a quantidade de estátuas, artefactos e até templos em exposição. Dois dos meus fascínios de miúdo são a Itália e o Egipto ancestrais, de modo que estar assim tão perto de tão bons exemplos de uma dessas culturas me envia alguns arrepios de excitação pela espinha abaixo. As galerias são amplas e a espécie de átrio onde os templos e estátuas maiores estão expostos é absolutamente brutal. A próxima sala tinha uma colecção infindável de múmias e sarcófagos e vários dioramas de pirâmides e outras construções egípcias que, óbviamente, me fizeram as delícias.



Seguidamente pulei até à galeria de arte moderna onde vi alguns quadros do Van Gogh e outros pintores da mesma época que me interessavam. Mais à frente vi alguns exemplos de Pop Art que me faltava ver e que certamente me encheram o olho. Não há nada como apreciar uma pintura do Roy Lichtenstein (que é um dos meus artistas preferidos) do tamanho de uma parede. Bem diferente de olhar para um quadrado num livro. À saída parei um pouco para apreciar a vista do topo das escadas do museu, as filas longas de táxis amarelos e típicos autocarros escolares da mesma cor. Os prédios no Upper East Side são mais giros que noutras partes da cidade. São mais imponentes, talvez espelho daquela ser uma das zonas mais caras para se viver em Nova Iorque. Decidi dar uma volta por lá para ver as vistas antes de me enfiar no metro para ir para a outra ponta de Manhattan.


 
Tinha planeado ir dar uma volta de barco pelo rio Hudson, uma vez que estava incluído no City Pass. Desloquei-me até à estação de Port Authority, do lado oposto da cidade e andei até ao rio. A zona não é das mais interessantes e como seria de esperar estava mais ou menos deserta. Andei lá uma ou duas dezenas de minuto à procura do tal terminal dos barcos sem grande sucesso até que finalmente vi algo que poderia ser o que procurava. Felizmente eram as bilheteiras do sítio que procurava e felizmente tinham lá alguém a atender. Infelizmente estavam fechados nesse dia e se quisesse comprar bilhetes tinha que os comprar para o dia a seguir, algo que não me convinha muito já que era o meu último dia em Nova Iorque. Algo desapontado, mas nem por isso com menos vontade de explorar voltei-me a enfiar no metro, desta feita até à ponta da ilha. Andei um pouco pela zona financeira, onde outrora se erguiam as duas torres do World Trande Center, a ver edifícios que mais parecem autênticos blocos de pedra, até ir parar a um parque de onde dava para ver a Estátua da Liberdade lá ao fundo na distância.


Tinha lido algures que a melhor maneira de ver a estátua era apanhando o ferry gratuito que vai para Staten Island e que oferece uma boa vista da Liberty Island (onde está a estátua) e foi isso que decidi fazer. As filas para ir mesmo à Estátua são longas e aparentemente não valem assim tanto o tempo perdido nelas. Fui para o terminal e como ainda faltavam cerca de 20 minutos decidi ir comer um pretzel e beber qualquer coisa. Quando em Nova Iorque, sê nova-iorquino, certo? Sentei-me a ler um jornal que por lá andava e mal dei por mim já estava a chegar o ferry. Entrar no barco foi de si uma aventura, com centenas de pessoas a tentar fazê-lo ao mesmo tempo sem grande ordem. O barco por dentro não era muito diferente de um cacilheiro, se calhar maior e mais amplo, mas pouco diferente. A viagem dura cerca de 25 minutos e oferece uma óptima vista de Manhattan e da Estátua da Liberdade. A meio da viagem vim cá para fora tirar fotos a ambos, juntamente com uma carrada de turistas. Estava frio, ainda para mais estando ali no meio do rio.


Uma vez chegados ao destino reparei que havia outro ferry prestes a sair em direcção a Manhattan e apressei o passo de forma a que ainda o conseguisse apanhar. Não tinha grande interesse em esperar 20 e tal minutos pelo próximo, isso era certo. Consegui apanhá-lo com alguma facilidade e vim na viagem a apreciar sorrateiramente a conversa entre mãe e filho adolescente sobre a importância de estudar e ter uma carreira. Adoro ouvir conversas desta forma, principalmente se forem com sotaques diferentes ou de outras culturas. Creio que me ajuda, de certa forma, a criar uma melhor percepção de como os habitantes das cidades são. Uma vez em Manhattan decidi ir em direcção a Brooklyn, com ideia de atravessar a ponte no meu regresso. Já estava mais ou menos escuro por esta altura e como não podia deixar de ser eu enganei-me na saída do metro e sem querer fui parar ao meio de Brooklyn. Como de costume pus-me a andar para o lado que achava mais certo como sendo o contrário à direcção em que vinha. Depois de andar um tempo sem fim lá me orientei e continuei a andar em direcção ao rio, para ver aquela que seria uma das mais maravilhosas vistas de Manhattan. A zona não era das melhores, para além de meio degradada, estava completamente deserta e imersa em escuridão. Quando cheguei ao miradouro só la estava um casal a tirar fotos da vista com uma máquina profissional. Eles foram-se embora pouco tempo depois e eu fiquei lá sozinho a contemplar a vista, que era absolutamente arrebatadora.


Por esta altura a fome já apertava e eu estava meio indeciso entre ir comer a Manhattan ou procurar alguma coisa em Brooklyn, já que havia alguns restaurantes ao pé do miradouro. Andei um pouco para trás, em direcção à ponte, e encontrei uma pizzaria que me chamou a atenção. Para além dos prémios de melhor pizzaria de Nova Iorque (que TODAS as pizzarias de Nova Iorque têm, vá-se lá saber como) a casa tinha um aspecto meio rustico e já que era a minha última noite na cidade, porque não mimar-me um pouco com uma refeição mais fora do budget? A pizza demorou algum tempo a chegar, mas não muito. Deu para observar um jantar de grupo e apreciar o aspecto do restaurante, principalmente um quadro com o Don Corleone que dizia "I'm gonna make you a pizza you can't refuse". Claro que mal vi isso, soube imediatamente que não iria ficar desapontado com a comida. A pizza chegou pouco tempo depois e foi servida num pequeno andaime que eu nunca tinha visto antes, mas que faz todo o sentido, já que a pizza ocupava grande parte da mesa. A pizza estava boa e soube-me pela vida. Depois de comer paguei a conta e fiz-me à estrada, que estava finalmente na hora de atravessar a ponte a pé depois da frustração de alguns dias antes.



Uns passos depois de sair do restaurante senti cairem na cabeça aquilo que me pareciam ser gotículas de água. Claro que a vontade de atravessar a ponte era muita, mas fazê-lo à chuva se calhar não seria de todo ideal. Ainda para mais tendo em conta quão cansado estava a melhor decisão que podia tomar era mesmo ir-me enfiar no metro. Saí na Grand Central Station porque queria lá ir antes de me ir embora e não fiquei desapontado. A estação é gigante e faz-nos sentir muito pequeninos. No átrio principal tinha uma bandeira americana gigante pendurada no tecto que por si só impunha respeito. Dei uma pequena volta lá dentro e segui para o hostel, onde não demorou até que estivesse com a cabeça enterrada na almofada.

Dia 8 - 3/03/10
Para não variar, acordei cedo. Ao contrário dos outros dias, não tinha grande pressa em sair pois já tinha visto quase tudo o que tinha na lista e só me faltava ir a um par de sítios tirar fotos. O meu problema para o dia era arranjar sítio onde deixar o saco até à hora de ir para o aeroporto, já que no hostel eles cobravam $14 que eu não estava disposto a pagar. No meio de uma conversa com o miúdo de Orlando, que voaria de volta para casa uns dias depois, acabámos por acordar eu emprestar-lhe o meu carregador do MacBook e ele guardar-me o saco até essa hora. Pareceu-me sensível e certamente mais barato que os $14 que o hostel cobrava. Apontei o número de telemóvel dele just in case e pus-me a andar. O meu primeiro destino era a estação de metro de Times Square, onde existe um painel gigante do Roy Lichtenstein que eu ainda não tinha tido oportunidade de fotografar.


Segui depois para o Harlem onde queria não só ver a área, como também tirar algumas fotos. A razão é simples, um dos meus rappers preferidos era (Big L RIP) de lá e descrevia muito a zona onde vivia nas letras. Não havia hipótese alguma de eu ir a Nova Iorque e não ir lá. Às vezes acho que para se perceber certas músicas é preciso ir até à fonte e ver as letras com os olhos. Lá chegado, deparei-me com uma realidade diferente daquela uns blocos mais abaixo, já que o Harlem fica um pouco acima do Central Park e é ligeiramente menos agradável que outras zonas de Nova Iorque. Não me senti ameaçado a nenhuma altura mas dá para notar que nem todas as pessoas que andam por lá têm as melhores intenções do mundo. Fui em busca da 139st & Lenox Av, onde ele vivia e depois fui ver se encontrava o mural que foi pintado em memória dele.



Voltei calmamente para o metro e fui até Times Square onde queria ir à loja da M&M's comprar umas lembranças para trazer. Andei um pouco por essa zona, já conhecedor das ruas e fui até à 53rd & 3rd para tirar uma foto da placa. A razão? É o nome (e tema) de uma das minhas músicas preferidas dos Ramones, embora a música descreva a mesma avenida cerca de 30 anos antes, não deixa de ser fixe estar lá. Por esta altura já não tinha mais nada para ver e como ainda tinha algum tempo para gastar até ir para o aeroporto decidi dar um pulo até à Canal Street (Chinatown) antes de ir ao hostel buscar o saco. Chegado lá, arrumei as minhas coisas, apertei a mão ao meu novo amigo e desejei-lhe boa sorte para o futuro. Ele desejou-me o mesmo e segui caminho. Como ainda tinha algum tempo parei no café da esquina e comi qualquer coisa enquanto escrevia postais, que iria depois enviar do aeroporto. Fiquei lá cerca de uma hora e fui para o aeroporto de seguida, ainda tendo tempo para ir até ao fim da linha, onde queria ir ver a Rockaway Beach, outro dos locais mencionados nas músicas dos Ramones. Infelizmente enganei-me na linha e fui parar à Far Rockaway, mas pronto. Não se pode ter tudo! A viagem de lá até ao aeroporto era curta e uma vez chegado lá correu tudo calmamente e sem grande stress. O voo de regresso foi calmo embora não tenha conseguido dormir muito. Mal cheguei a casa, muito por causa do jet lag, deitei-me na cama só para fechar os olhos um bocadinho e só acordei no dia a seguir. Eventualmente sinal de que a viagem tinha sido boa. Gostei de Nova Iorque mas não creio que gostasse de viver lá permanentemente. A cidade tem o seu charme mas creio que peca um pouco por falta de personalidade, talvez por ser tudo tão grande, amplo e igual a si mesmo. Acho que lhe falta o conforto que cidades como Londres, por exemplo, têm. Claro que isso não impede que a vontade de voltar seja muita. Há cidades assim, mágicas. Nova Iorque é uma delas.

2 comentários:

jmnpm disse...

Só uma correcção: a Estátua da Liberdade não está na Ellis Island, está na Liberty Island. Ellis Island é a ilha ao lado e tem um dos museus mais interessantes de NY, se curtires cenas históricas (nomeadamente a altura das grandes migrações para os EUA)

João, o turista de serviço

André disse...

Thanks buddy. :)