10 de março de 2010

Nova Iorque - Dias 1, 2 e 3

Foi depois de um dia como tantos outros, cerca de um mês antes de o fazer, que decidi marcar um voo para Nova Iorque. Sem grande preparação ou preocupação e destinado a absorver o máximo possível de tamanha cidade.
Viajar sozinho, descobri eu, faz confusão a muita gente que prontamente me questionou sobre esse facto. A minha opinião sobre o assunto depois de o ter feito? Não existe nada melhor. A noção de tempo muda quando estamos sozinhos, não há regras e não há olhares de lado quando nos enganamos a ir por aquela rua que achávamos que ia dar ao sítio onde queríamos chegar. Não digo que seja bom por sistema, mas tem de facto o seu encanto. Tinha algumas expectativas embora não estivesse avassaladoramente excitado com a viagem (fruto, eventualmente, da pressão no trabalho) e o bichinho só mordeu mesmo quando pus o pé fora de casa para ir para o aeroporto. Sigam-me então, nos 8 dias que lá passei. Boa viagem!

DIA 1 - 24/02/10
Decidi não dormir nessa noite, o voo ainda iria durar umas boas horas e eu queria lá chegar fresco que nem uma alface depois de dormir no avião. Na noite anterior, em jeito de despedida, o Miguel veio cá jantar a casa. A pizza estava divinal e o Manchester United derrubou o West Ham por 3-0, tudo corria bem. Não foi até algumas horas depois, num rasgo de loucura saudável, que também ele decidiu marcar um voo para o dia seguinte, com regresso no domingo de manhã. Soube na hora e regozijei, estava tudo feito para umas belíssimas férias.

Saí de casa por volta das 4 da manhã, desci e apanhei o autocarro para Heathrow. Tendo já tido demasiados episódios envolvendo atrasos e aeroportos, decidi há já algum tempo não voltar a passar por isso daí ter propositadamente chegado ao aeroporto com quase 4 horas de antecedência. Tinha já feito o check-in online e tudo decorreu calmamente uma vez lá. Pensei que fosse demorar muito tempo a passar a segurança devido às novas medidas de segurança mas honestamente, mais pareceu manteiga em pão quente. Em menos de 15 minutos já estava à frente da porta de embarque e com uma bonita espera pela frente.

O voo decorreu calmamente num avião que estava praticamente cheio e onde felizmente fiquei no lugar à janela de três cadeiras onde o lugar do meio não estava ocupado. Mais espaço? Sempre bem-vindo. Não consegui dormir muito bem sem ser por alguns curtos períodos de várias horas. A comida do avião, que requisitei vegetariana em avanço, foi-me sempre entregue antes do resto dos passageiros e estava boa. Vou confessar que adoro comida de avião. Principalmente as sobremesas!

Desembarquei no JFK Airport deviam ser cerca de 11 horas da manhã locais. Estive sem exagero 40 minutos na fila para "entrada" no país e tirando isso tudo correu bem. Apanhei o pequeno shuttle que percorre os 8 terminais do aeroporto e daí apanhei o metro para o centro da cidade. O nome da paragem era Howard Beach - JFK. Howard Beach, eh? Ainda agora tinha chegado e já me tinha deparado com uma referência a uma das três culturas mais fortemente vincadas por Nova Iorque que devoro desde há muitos anos. Howard Beach é o nome de uma música dos Biohazard, do primeiro disco.



O metro lá é um pouco complicado ao início mas muito fácil depois de meia dúzia de viagens (nem tanto). Ao contrário do de Londres, deve-se seguir as letras e não as cores da linha. O mapa é muito confuso e dá pouco jeito em termos de portabilidade por ser quase do tamanho de uma folha A3, daí que seja quase mandatória uma olhadela ao placard afixado na estação antes de entrar, só para orientação. Interessante o facto de um bilhete (cerca de $2 e qualquer coisa) dar para viajar por toda a rede de metro, ao contrário daqui, onde a rede de metro está dividida por zonas e quanto mais central for o destino, mais caro é o bilhete. Comprei então um passe de metro para 7 dias, que custou $27 e que me permitiu viajar de metro e autocarro sem limite durante o tempo que lá estive. No geral achei o metro muito inferior ao de Londres no que toca a conforto, mas entendo que isso se deva muito ao tamanho da rede e quantidade de pessoas servidas pela mesma. Os metros mais parecem carruagens de comboio, os bancos são corridos, duros e ocasionalmente mais para o fim do dia não é raro ver vagabundos a dormir nos últimos bancos da carruagem. Sendo algo esquisito no que toca a cheiros, isto não foi algo que me deixasse excitado por aí além.

Uma das coisas que notei mal cheguei foi a simpatia das pessoas. Ao contrário de Londres onde toda a gente parece (quase) sempre fazer as coisas por frete, o que não falta em Nova Iorque são sorrisos e pessoas prestáveis. No metro, por exemplo, vi um senhor cego entrar e prontamente alguém se levantou para o ajudar. Também por várias vezes notei que as pessoas sorriem por nada, só por boa disposição, para outras pessoas na carruagens e isso é algo quase impensável em Londres. A única razão pela qual isso não me espantou foi por há uns anos atrás ter lido numa revista ou jornal que depois do 9/11 os nova-iorquinos tinham ganho um maior senso de solidariedade uns pelos outros. Dada a escala do que aconteceu e depois de lá ter estado, acredito perfeitamente nisso.

Passado imenso tempo cheguei ao cruzamento da primeira avenida com a décima terceira rua e depois de alguns minutos de orientação lá segui na direcção certa, rumo ao hostel. Fiquei então alojado no Jazz Hostel, uma cadeia de hostels em Nova Iorque que aparentemente esteve para ser comprada pela companhia para que trabalho agora. À primeira vista pareceu-me fixe e considerando o preço que paguei (tenho ideia que foi à volta de $200 por 7 noites num quarto de 6) não tinha mesmo por onde reclamar. Lá chegado deixei o meu saco numa sala que eles usam para esse propósito e fui para a rua fazer tempo até poder fazer o check-in, que seria qualquer hora após as 2 da tarde. Decidi ir dar uma volta a pé, já que o tempo estava relativamente bom e, afinal de contas, era a minha primeira vez na grande maçã. Andei e andei e andei. Tanto andei que acabei por me perder. A zona onde o hostel está localizado é East Village e é uma zona muito gira sem prédios altos, eu devo ter andado quase hora e meia a pé, perdido, e só me encontrei em frente à Grand Central Station, a metros do Chrysler Building. Aí decidi apanhar o metro para Times Square e ir levantar o meu New York Pass. Comprei o NYP de antemão por $155 e com ele tive direito a ver literalmente tudo e mais alguma coisa sem ter que pagar um tostão a mais que o preço do cartão. Isto com o bónus de poder saltar filas em grande parte das atracções. Com um período de utilização de 7 dias, este foi inevitavelmente um dos meus melhores amigos em Nova Iorque.



Levantei o cartão no Planet Hollywood e continuei a andar para norte de Manhattan, em direcção ao Central Park. Ainda mal ambientado, parei no regresso a Times Square para comer qualquer coisa, que a fome já apertava. Decidi comer uma espécie de pizza numa cadeia chamada Sbarro. Estava ok. Apercebi-me então que na América, no que toca a bebidas, praticamente só se paga pelo copo, porque pode-se enchê-lo as vezes que se quiser (menos em eventos, claro). Parei um pouco aí, descansei, vi as fotos que já tinha tirado, tentei perceber a conversa do casal português que estava sentado dois pares de mesas à minha direita e segui caminho.

Depois de passar os olhos no meu guia de Nova Iorque, fornecido juntamente com o NYP, decidi ir até ao Rockefeller Plaza que ficava a não muitos blocos de onde eu estava. Gostei de ver a pista de gelo, tão famosa de filmes e séries, cheia de gente que ali andava como se não houvesse amanhã. Daí, perdi-me um pouco na loja da NBC e fui fazer a tour pelos estúdios, que estava incluída no passe. Confesso que me diverti bastante, infelizmente (ou felizmente) éramos só dois a fazer a tour (creio ter sido a das 5 da tarde) mas acho que isso só beneficiou a visita pois tornou-a bem mais personalizada. Vimos os estúdios onde é filmado o SNL, o Today e o Jimmy Fallon. Eles explicaram truques que usam para fazer as salas parecerem maiores, contaram histórias sobre os convidados ao longo dos anos e mostraram a sala onde filmam com os ecrãs verdes para posterior (ou não) montagem. No fim da visita puseram-me a mim como apresentador do tempo e deixem-me que diga, não é tarefa fácil. Estar a ler o script e a apontar num fundo verde coisas que estamos a ver num ecrã que tem a imagem invertida não é nada fácil! Mas pronto, valeu uma boa risota e isso é o que importa. No mesmo edifício fica também o observatório que nos patrocina uma belíssima vista sobre a cidade. Já estava escuro quando subi mas o deslumbre foi se calhar até maior do que se fosse de dia. A quantidade de quadradinhos de luz empilhados a toda a volta é um espectaculo bonito de se ver e absorver.





Enquanto via as paredes do interior do edifício, que são lindas de morrer, recebi uma chamada do Miguel que aterraria brevemente em Nova Iorque. Deviam ser cerca de 7 horas da tarde. Decidi, no tempo que ainda tinha, ir visitar o museu da Madame Tussauds, que revelou-se uma valente perda de tempo (só não foi de mais porque também estava incluído no cartão). Confesso que não entendo como é que há pessoas que realmente vibram com bonecos de cera ao ponto de se abraçarem, sentarem ao colo, simularem beijos, etc. Achei a exposição relativamente fraca mas gostei de saber que o Napoleão era da minha altura. Uma coisa é certa, depois deste não me apanham no de Londres sem ser de borla.



Ainda com tempo até o Miguel chegar fui até à Toys'R'Us de Times Square. Uma loja com 3 ou 4 andares e uma roda gigante que os percorre todos. Adorei a grandiosidade da loja, principalmente a réplica da entrada do Jurassic Park (com T-Rex), o Super-Homem a segurar um camião TIR no ar e três ícones nova-iorquinos feitos de Legos (a Estátua da Liberdade, o Chrysler Building e o Empire State Building - com direito a King Kong e tudo). Simplesmente divinal.





Encontrei-me com o Miguel de seguida, do outro lado da rua, e decidimos ir comer. Ele como veterano nova-iorquino que é sugeriu que fossemos ao Bubba Gump (que sim, caros fãs do filme, é mesmo inspirado nisso) e assim foi. Fiquei maravilhado de imediato com o sítio, os empregados e o modus operandi da casa. Entenda-se que o Forrest Gump é dos meus filmes preferidos e estar neste Bubba Gump revelou-se uma óptima experiência. Por exemplo, eles nas mesas tem dois sinais, um que diz Run Forrest Run (que indica ao empregado que está tudo bem) e outro que diz Stop Forrest! (que faz com que eles parem). Se isto não é genial, então não sei o que é. Creio ter comido, para desgosto do Miguel que tanto insistiu que eu provasse aqueles camarões, um hambúrguer de cogumelos que me soube pela vida. Isto acompanhado de uma Dr. Pepper que, junto com a Vanilla Coke, se tornaram nas minhas bebidas oficiais enquanto em Nova Iorque.





Depois de jantar e já com o cansaço a dizer olá decidimos ir para o hostel. O Miguel não tinha feito reserva e eu ainda não tinha feito check-in (lembram-se?). Fomos a pé até lá, o que ainda levou algum tempo, mas fez-se sem problema. Continuava a não estar frio e nós ainda nem sequer sonhávamos com a brutalidade de neve que ia cair no dia seguinte. Lá chegados fizemos a reserva para ele, eu fiz o meu check-in e fomos até ao quarto pôr as coisas. Éramos 6 num quarto com 3 beliches. Estava um miúdo a ler na cama e um estranho de cuecas, sentado ao pé da janela a olhar para a rua. Estavam também dois sacos espalhados pelo chão, que pertenciam a dois tipos que não viríamos a conhecer até mais tarde.

Decidimos sair, a noite ainda era jovem e nada nos impedia. Demos uma volta pelos bairros circundantes ao hostel em direcção à ponte, vimos um pouco de andamento nocturno e depois de chegar perto da dita, decidimos voltar para trás. Antes de chegar ao hostel parámos só numa loja para comprar uns doces e depois de regressar à base chamámos-lhe um dia.


DIA 2 - 25/02/10
Cansado como estava no dia anterior não admira que tenha dormido brutalmente bem nesta noite. Acordei cedo com o barulho na rua, espreitando pela janela vi um homem no meio da rua a ameaçar outro dentro de um carro. Sorri. Afinal de contas, que seria de Nova Iorque sem este tipo de episódios? Pulei da cama, salvo seja que estava no topo do beliche, e fui verificar o meu e-mail, e outras coisas virtuais na sala de convívio. Depois de voltar ao quarto fui acusado pelo Miguel, entre um sorriso, de ter acordado demasiado cedo e derivado a isso ter acordado toda a gente.

Saímos pouco depois, já ao sabor de uma chuva pesada que em pouco tempo se tornaria em neve. Tínhamos decidido, muito por minha influência, ir ao Museum of Natural History e respectivo planetário, algo para que eu tinha grandes expectativas. Andámos até à Union Square, que ficava a uns confortáveis 4 ou 5 blocos de distância e decidimos parar no sempre saudável Dunkin' Donuts para tomar o pequeno-almoço. O Miguel ficou-se por donuts e muffins enquanto eu decidi ir para uma espécie de tosta de queijo, hash browns e um ice tea que mais parecia açúcar com alguma água. Não estava terrível mas também não estava nada de especial. Apreciámos um pouco o ambiente e depois de darmos o nosso lugar a um grupo de indivíduos de aspecto muito duvidoso decidimos seguir rota. Nesta altura a chuva pesada já era neve, e não eram só alguns flocos - era neve mesmo! Neve só é fixe em dois casos: quando não temos que sair de casa e quando a vemos em fotos. Não estava pior que estragado mas já sentia um pouco de ira a vir ao de cima. Andámos pelas avenidas fora, com a ideia de chegar lá a pé. O museu fica a meio do Central Park, não mais que hora e meia a pé de onde estávamos. Isto em condições normais, como é óbvio, e neste caso andámos uns bons 45 minutos a pé e depois de já estarmos completamente ensopados apanhámos o metro.



Lá chegados, adquirimos bilhetes para a próxima sessão no planetário e fomos fazer tempo para a loja do museu. Sempre tive algum fascínio com planetários, desde que fui ao de Belém há muitos, muitos anos atrás. O espaço e o ridículo que somos à escala dele é algo que me há-de deixar pensativo por muitos longos anos. Tinha então alguma curiosidade para este espectáculo, narrado pela Whoopi Goldberg, ainda que isso me interessasse muito pouco ou nada. Depois de uma pequena espera lá entrámos na sala, antes do espectáculo começar ainda tive tempo de ajeitar os ténis e as meias, que por esta altura teriam absorvido água suficiente para encher dois copos de meio litro (note-se o exagero).
Não desgostei do que vi embora não tenha ficado absorto pela sua espectacularidade. É só um como tantos outros. Não sei se voltaria a ir. Depois disso fomos ver o museu e de novo, apesar de não ter desgostado, não foi algo que me tenha feito vibrar por dentro. Ainda que o edifício seja lindíssimo por dentro, acho que o facto de não haver uma estrutura coerente entre aquilo que é exibido estraga um pouco a experiência. Saltar da sala dos elefantes em África para a sala da arte inca sem haver um intremédio faz-me alguma confusão. Começámos por ver os animais nas suas mais diversas faunas, culturas anciãs, dinossauros e por aí fora. Foi giro, não mais que isso. Depois de sairmos por uma porta lateral descemos uma rampa que nos levaria à entrada principal e onde poderíamos apanhar um autocarro até ao fim da rua. A meio da rampa e sem reparar nisso, um senhor que limpava a via acertou-nos em cheio com a neve que sacudia da pá. Creio ter-lhe chamado nomes e uma vez chegados ao fim da rampa decidi tentar a minha sorte com uma bola de neve, que não lhe acertou por meros centímetros.



Continuava a nevar imenso mas lá apanhámos o autocarro depois de algum esforço para chegar a ele, dado que a neve que se tinha amontoado à borda dos passeios atingia já níveis algo elevados. Uma vez no autocarro, que ia vazio, obtivemos uma bonita vista de um branquinho Central Park. Nesta única vez que andei de autocarro em Nova Iorque achei que qualquer semelhança entre estes veículos e as camionetas que fazem a ligação entre a Covilhã e o Fundão são pura semelhança. Ok, se calhar isso é um exagero mas, mais uma vez, comparando com Londres, os autocarros nova-iorquinos são uma autêntica anedota. Chão de borracha, bancos pouco confortáveis e a janela de trás (que é não-existente) parece saída de um filme do Mad Max. Oh, well... não se pode ter tudo e certo é que vou começar a reclamar menos com o preço dos transportes por aqui. Saímos junto ao começo do Central Park e andámos um pouco a pé, passámos pelo Plaza Hotel, onde, informou-me o Miguel, foram filmadas as cenas do segundo Home Alone. Daí só parámos na loja da Apple para verificar e-mails, combinar andamentos e claro, secar um pouco (literalmente, que ainda estávamos bem ensopados). Acabámos por comprar dois bilhetes para o jogo dos New York Knicks que não aconteceria até sábado e seguimos para a FAO Schwarz que ficava quase na porta ao lado. Deleitámo-nos um pouco a ver brinquedos como jovens adultos sem juízo que somos e apontámos num caderninho virtual que teríamos que lá voltar para fazer umas compras.





Já tinha ficado decidido na loja da Apple que a seguir iríamos a uma loja da The North Face comprar um casaco a sério para o, sempre querido, narrador desta aventura. Os dois casacos que tinha levado comigo não se adequavam bem à intempérie que se fazia sentir e como tal decidi que finalmente, depois de tantos anos a adiar essa decisão, iria comprar um casaco de inverno digo desse nome. Apanhámos o metro para o sul de Manhattan e lá chegados, o super-senso de orientação do Miguel levou-nos quase directamente à loja. Passámos antes por um patrão mexicano que ordenava uma sua empregada que limpasse a frente da loja, que estava, claro está, completamente cheia de neve. Sugeri que tal prática fosse obrigatória, o que mais tarde se veio a confirmar através de uma menina muito simpática que nos fez um inquérito na loja da Adidas. Depois de comprar o casaco, que vesti prontamente vimos lojas e lojas e lojas e mais lojas.

Acabámos num dos cinemas de Times Square a comprar bilhetes para o filme Precious, que aparentemente era alguma coisa de especial. Jantámos uma belíssima refeição no Planet Hollywood que nos deixou rebolando para o resto da noite. O restaurante em si não tem assim nada do outro mundo embora tenha, claro, o seu charme. Na casa de banho tive o prazer de me cruzar com o senhor que abria as torneiras, dava o papel para limpar as mãos e tinha uma pequena panóplia de perfumes à disposição daqueles que os quisessem usar. Sim, ele era empregado do restaurante e aquela era a função dele. Mas adiante, porque é que tive o prazer de me cruzar com ele? Porque ele mal viu que eu tinha uma camisola do Manchester United vestida nem me deixou andar mais (e bem apertadinho que eu já estava). Aparentemente ele é um grande fã dos Spurs e da terra da então mais recente contratação do United (o Senegal, para os que não seguem). Tivemos ali um pequeno debate interessante e acabei por lhe dar um dólar. Merecido, até porque ele me mostrou uma foto com a família e tudo.



Seguimos então para o cinema, cinema este que é provavelmente o maior em que já estive. Dizia-me o Miguel que devia ter sem exagero umas 25 salas e considerando que subimos 5 andares de escadas rolantes, não me admirava nada que fosse esse o número exacto. Sendo um fervoroso adepto de pipocas, não pude deixar de me atirar a um belo pacote de médias. Não demorei muito tempo a me aperceber que não só as pipocas eram salgadas, como aquele liquido dourado que tão bem espalhei por cima delas não era caramelo mas sim manteiga. As far as I'm concerned, e dando um pouco ar de emigrante com esta frase feita em inglês, that's the end of the line for me. Resultado? Não comi as pipocas. Ou melhor, comi 5% do pacote e fiquei com os dedos todos gordurosos. Medonho. Cabe na cabeça de alguém que nos Estados Unidos não haja pipocas doces nos cinemas? A resposta é: claro que não!
O filme viu-se, não me encheu as medidas por aí além mas dizia-me o Miguel, que tem certamente melhor olho para isso que eu, que o filme está muito bem conseguido. Eu acredito nele mas continuo a achar que o jogo de planos de que o realizador abusa não faz muito pelo objectivo pretendido.

Fomos para o hostel ligeiramente depois de sair do cinema e decidimos dar um pulo à sala de convívio onde tivemos a oportunidade de presenciar uns quase encontros imediatos de terceiro grau com gente muito estranha. Não teria piada de mais nenhuma forma. Havia o gay de Nova Iorque fanático por comunidades que queria ir para Portugal, a panamense neta do ditador que um dia fugiu para o Canadá, um chinês que ia voltar a casa, um par de brasileiros e mais tarde, a grande estrela da noite que com o seu Philly Cheese Stake e tiques nervosos foi apelidado de Joe, por moi-même. As conversas foram do outro mundo e eu tentei estar ocupado atrás do computador grande parte do tempo para não ter que me envolver. Valeu mais pela risota e piadas que daí advieram entre nós os dois. Grande Joe! Bom, entretanto fomos dormir que isto já não era cedo. O quarto era bom e confortável. Era quente e tinha casa de banho privativa, o que é sempre fixe. O colchão não era o melhor do mundo e a roupa de cama não era a mais lavada mas o staff era prestável e o colombiano que fazia as camas de manhã uma autêntica simpatia!




DIA 3 - 26/02/10
Acordámos não muito cedo, afinal de contas, a noite apesar de não ter sido longa ainda se extendeu por uma horas na dita sala de convívio do hostel. Infelizmente continuava a nevar mas não tanto como no dia anterior. Depois do duche da praxe saímos em direcção a Union Square onde parámos num Whole Foods Market para aconchegar o estômago ao sabor de alguma comida relativamente saudável. Assim foi. Tínhamos combinado ir passear e ver umas lojas, maioritariamente pela zona sul de Manhattan e nos bairros chinês e italiano, passando tambem pela Bowery. Andámos bastante a pé, a começar por Chinatown, que tem efectivamente o seu encanto, ainda que seja um encanto sujo e distante da realidade do resto da cidade. Daí passámos para Little Italy e, dado que a fome já começava a apertar, decidimos parar num típico restaurante italiano para comer uma pizza. O restaurante era típico e italiano mas a comida não me convenceu por aí além. Ficámos algum tempo lá dentro porque nevava imenso e estávamos ligeiramente ensopados. Nada de novo, portanto. Foi por esta altura que comecei a notar uma ligeira dor no pé, um dos ligamentos calculo eu. Depois de puxar pela cabeça lembrei-me que tal já me tinha acontecido antes aquando da visita dos meus pais a Londres e que o motivo eram os malvados Air Max Light. São super-confortáveis mas provocam mau andar, o que se reflecte fisicamente ao fim de um dia inteiro a andar a pé. Felizmente o bom senso fez com que levasse dois pares de ténis comigo e estes prontamente ganharam lugar cativo debaixo do beliche até me vir embora.





Passámos o dia a ver lojas, saltar por cima de montes de neve e a ter cuidado a atravessar a rua para não enfiar os pés em poças de água (algo que infelizmente não conseguimos evitar). Depois de me ter mimado com dois pares de Levi's 501 por $99, decidimos seguir para norte para ir à loja da NBA e à FAO Schwarz para fazer mais umas compras mas uma vez chegados à loja da NBA tivemos que alterar o plano pois as lojas estavam todas a fechar às 7 por causa do agravamento da situação climatérica.



Fomos então a uma livraria para o Miguel comprar umas revistas e daí fomos para a FAO, que esperávamos que não tivesse também fechada por causa do tempo. Por esta altura já o andar a pé se tinha tornado algo doloroso para mim, principalmente pelo esforço causado por andar à neve e constantemente a saltar poças. Sabendo já o que queríamos comprar, foi relativamente fácil a orientação dentro da loja. Enquanto divagava pela zona dos doces vi uma senhora cair à distância e prontamente a fui ajudar. Coitada da senhora que caíu e tudo o mais, mas quem é o imbecil que desce uma rampa com correntes para a neve (eles lá usam disso) nos sapatos?! É mesmo a pedi-las. Enfim, lá a ajudei a levantar, tudo aparentava estar bem e daí segui para onde realmente importava. Namorei várias coisas mas infelizmente só pude trazer duas, não podia estoirar ali o budget para a semana e a bagagem só me permitia levar uma relativa quantidade de coisas. Acabei por comprar uma caixa de metal da Pez, edição limitada e numerada do Mickey, com 3 das formas que ele já teve desde que apareceu e uma réplica do Empire State Building de Legos entre outras coisinhas mais pequenas. Esta loja é um mundo onde conto voltar-me a perder de novo, como se fosse um miúdo.

Saídos daí fomos até ao hostel. Não era cedo, nevava imenso e o meu pé continuava a queixar-se. Já tinha apanhado neve, muita neve, anteriormente mas acho que não ao ponto de andar na rua sem conseguir sequer olhar para a frente. Decerto que apanhar um nevão em Nova Iorque é uma experiência inesquecível mas também é, certamente, uma com a qual eu teria passado bem sem viver. Relaxámos um pouco no hostel enquanto aguardávamos notícias de um amigo do Miguel para uma possível ida a uma festa nessa noite. A notícia demorava a chegar e decidimos ir jantar entretanto. Andámos um pouco pela zona circundante do hostel até que nos deparámos com um restaurante japonês onde entrámos. O restaurante era agradável e decorado a rigor, não sei se a banda sonora seria a mais adequada mas facto é que passou o Concerto para Piano 21 de Mozart e isso soube-me relativamente bem. Já não me lembro exactamente do que é que acabei por comer mas lembro-me que o sentimento geral no fim da refeição era de satisfação. Como de costume com o Miguel, não fosse pela comida, seria pela sempre agradável conversa que eventualmente acaba por advir. Depois de jantar fomos dar uma volta pelo bairro e encontrámos uma livraria pequena, aberta e com ainda bastantes pessoas lá dentro considerando a hora que era. O Miguel perdeu-se nos saldos que a loja tinha e eu fui andando de estante em estante a ler sinopses de contracapa. Acabei por comprar um livro da Rolling Stone que traz na íntegra (em formato digital) todos os números dos primeiros 40 anos da revista (1967 - 2007). Precioso. O meu pé pedia descanso e acabámos por decidir não ir sair nessa noite. Fomos então para o hostel onde mais uma vez acabámos por conviver com gente estranha e, eventualmente, de outro mundo que não o nosso. Fez-se bem por umas horas até o sono chegar.

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